quarta-feira, 2 de junho de 2021

Review: ⚡ Dunbarrow - 'III' (2021) ⚡

★★★★

Depois do seu auto-intitulado álbum de estreia (aqui largamente elogiado) e do seu irretocável sucessor (aqui desavergonhadamente namorado), os pagãos noruegueses Dunbarrow presenteiam agora todos os seus fiéis discípulos com a intrigante narração do seu terceiro conto gótico, musicado a soturna luminescência, batizado de ‘III’ e muito recentemente lançado pela jovem editora discográfica local Blues for the Red Sun através da forma digital e dos formatos físicos de CD e vinil. Repetindo a bem-sucedida receita sonora que – desde a fundação desta banda escandinava – condimenta todas as suas poções, enfeitiçadas a magia negra e borbulhadas num fumegante, ácido e fervilhante caldeirão consumido pela chamejante ebulição, ‘III’ vem enlutado, inflamado e demonizado por um provocante, cadavérico, despótico e magnetizante Proto-Doom de estirpe clássica – que coliga a sombria radiação de Black Sabbath com a misantrópica opulência de Pentagram e a ritualística feitiçaria de Witchcraft – e prostrado, mitigado e anoitecido por um envolvente, melancólico, bucólico e plangente Dark Folk de murcha tonalidade sépia. Contando ainda com rendilhadas, charmosas, aventurosas e elaboradas composições de feições Prog’ressivas a fazer recordar a exuberância em desalinho dos britânicos Wishbone Ash, a sonoridade verdadeiramente inquisidora, poderosa, umbrosa e conquistadora deste fantástico, decrépito e erudito ‘III’ enegrece, empalidece e atemoriza o profanado espírito do ouvinte, como que baixas e pardas nuvens a amontoarem-se de forma opressiva nos carregados céus de um triste, mudo e pesado dia de Outono. De olhar arregalado, semblante pasmado, respiração travada, epiderme arrepiada e alma invadida pela herética liturgia de Dunbarrow, somos agitados e amaldiçoados pelas luciféricas danças de duas guitarras tirânicas que se avultam em enfeitiçantes, desdobráveis, admiráveis e protuberantes Riffs de onde gritam e esvoaçam majestosos, ziguezagueantes, trepidantes e lacrimosos solos de funesta beleza, açoitados pelas fibradas rédeas de uma opulenta bateria trauteada a altiva, precisa, incisiva e imaginativa ritmicidade, encarvoados pela hipnotizante, densa, tensa e ondeante reverberação pesadamente bafejada de um baixo arrogante, submergidos nas sinistras fábulas narradas por uma voz avinagrada, lúcida, melódica e aristocrática, e ainda sublimados pelas inquietantes, harmoniosas, odorosas e saltitantes notas mugidas por um teclado sorumbático que nebuliza dois dos oito temas que compõem este extraordinário registo. É-me ainda inevitável destacar o pormenorizado artwork de ambiência trágica, medonha e vampírica que casa na perfeição com a fatídica musicalidade dos nórdicos. São 39 minutos atestados de imersiva bruxaria que nos embruma a lucidez e conspurca a religiosidade. Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – desenterrar o nosso corpo dos trevosos abismos de Dunbarrow. Um dos mais álbuns mais dominantes do ano está aqui, na inspiradora, transformadora e ocultista celebração de uma das minhas bandas de eleição. Comunguem-no e vivenciem-no com inquebrável assombração e inesgotável devoção.

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1 comentário:

  1. Adoro esse album e essa banda! Mas a sua escrita é fantástica e não fica para trás! Vou seguir o seu blog de agora em diante. Que outras bandas fantásticas poderei achar neste mundo stoner-doom em seu blog?!

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