Depois do seu auto-intitulado
álbum de estreia (aqui largamente elogiado) e do seu irretocável sucessor
(aqui desavergonhadamente namorado), os pagãos noruegueses Dunbarrow
presenteiam agora todos os seus fiéis discípulos com a intrigante narração do
seu terceiro conto gótico, musicado a soturna luminescência, batizado de ‘III’
e muito recentemente lançado pela jovem editora discográfica local Blues for the Red Sun
através da forma digital e dos formatos físicos de CD e vinil. Repetindo a
bem-sucedida receita sonora que – desde a fundação desta banda escandinava – condimenta
todas as suas poções, enfeitiçadas a magia negra e borbulhadas num fumegante,
ácido e fervilhante caldeirão consumido pela chamejante ebulição, ‘III’
vem enlutado, inflamado e demonizado por um provocante, cadavérico, despótico e
magnetizante Proto-Doom de estirpe clássica – que coliga a sombria
radiação de Black Sabbath com a misantrópica opulência de Pentagram
e a ritualística feitiçaria de Witchcraft – e prostrado, mitigado e anoitecido
por um envolvente, melancólico, bucólico e plangente Dark Folk de murcha
tonalidade sépia. Contando ainda com rendilhadas, charmosas, aventurosas e
elaboradas composições de feições Prog’ressivas a fazer
recordar a exuberância em desalinho dos britânicos Wishbone Ash, a sonoridade verdadeiramente
inquisidora, poderosa, umbrosa e conquistadora deste fantástico, decrépito e erudito ‘III’
enegrece, empalidece e atemoriza o profanado espírito do ouvinte, como que baixas
e pardas nuvens a amontoarem-se de forma opressiva nos carregados céus de um triste,
mudo e pesado dia de Outono. De olhar arregalado, semblante pasmado, respiração
travada, epiderme arrepiada e alma invadida pela herética liturgia de Dunbarrow, somos agitados e amaldiçoados pelas luciféricas danças de duas guitarras tirânicas que se avultam em
enfeitiçantes, desdobráveis, admiráveis e protuberantes Riffs de onde gritam e esvoaçam majestosos, ziguezagueantes, trepidantes e lacrimosos solos de funesta
beleza, açoitados pelas fibradas rédeas de uma opulenta bateria trauteada a altiva,
precisa, incisiva e imaginativa ritmicidade, encarvoados pela hipnotizante, densa,
tensa e ondeante reverberação pesadamente bafejada de um baixo arrogante,
submergidos nas sinistras fábulas narradas por uma voz avinagrada, lúcida, melódica
e aristocrática, e ainda sublimados pelas inquietantes, harmoniosas, odorosas e
saltitantes notas mugidas por um teclado sorumbático que nebuliza dois dos oito
temas que compõem este extraordinário registo. É-me ainda inevitável destacar o
pormenorizado artwork de ambiência trágica, medonha e vampírica que casa
na perfeição com a fatídica musicalidade dos nórdicos. São 39 minutos atestados
de imersiva bruxaria que nos embruma a lucidez e conspurca a religiosidade.
Não vai ser nada fácil – ou sequer desejado – desenterrar o nosso corpo dos trevosos
abismos de Dunbarrow. Um dos mais álbuns mais dominantes do ano está
aqui, na inspiradora, transformadora e ocultista celebração de uma das minhas bandas de eleição. Comunguem-no
e vivenciem-no com inquebrável assombração e inesgotável devoção.
Links:
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➥ Blues for the Red Sun
1 comentário:
Adoro esse album e essa banda! Mas a sua escrita é fantástica e não fica para trás! Vou seguir o seu blog de agora em diante. Que outras bandas fantásticas poderei achar neste mundo stoner-doom em seu blog?!
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