sexta-feira, 21 de junho de 2024

Review: 🍁 Moura - 'Fume Santo de Loureiro' EP (2024) 🍁

★★★★

Depois do assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal, sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –, vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais – ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos, dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico – de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa sem moderação. Eclipsem-se nele.

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