Da vizinha Espanha –
mais concretamente da cidade galega de Corunha – chega-nos um dos
trabalhos mais ansiados e surpreendentes do ano. ‘Moura’ é o
magistral álbum de estreia – de designação homónima – esculpido e lapidado pelo
talentoso e sui generis quinteto espanhol que verá a luz do dia no próximo
dia 1 de Abril (quarta-feira) através do conceituado selo discográfico local Spinda
Records na forma física de CD e vinil (ambos os formatos ultra-limitados à
existências de parcas centenas de cópias disponíveis para venda). Respondendo positivamente
ao dignificante convite que me fora feito para estrear – de configuração
exclusiva – em solo (digital, entenda-se) português a escuta integral desta prodigiosa
primeira obra discográfica de Moura, é ainda assombrado por um febril
entusiasmo – deixado pelo mesmo – que tentarei da forma mais genuína transladar
para o domínio textual tudo aquilo que ‘Moura’ em mim ateara no
universo emocional. Concebido e conservado por um devocional, outonal, novelesco
e tradicional Folk de aura ritualista que desenterra e ressuscita toda a esquecida mística
do paganismo celta, e um exuberante, enigmático, magnético e apaixonante Heavy
Prog – matizado a um efervescente psicadelismo – de contornos épicos
e estirpe revivalista, este sublimado ‘Moura’ presenteia e
prazenteia o ouvinte com requintadas, deslumbrantes e inspiradas composições
musical e liricamente desafiadoras. De olhar envidraçado, semblante pasmado e espírito
enfeitiçado, somos cativados e orientados por uma esotérica liturgia –
superiormente liderada por estes cinco druidas – de oração e adoração apontadas
ao revivalismo de lendas ancestrais. Absorvidos e nutridos por um profundo e
intenso transe religioso, é-nos demasiado fácil converter em devotos
peregrinos de duas guitarras messiânicas que se hasteiam em ostentosos, faraónicos,
mitológicos e imperiosos riffs, e se inflamam em delirantes, exóticos,
tóxicos e uivantes solos, um vultoso baixo de pesada, densa, tensa e ondulada reverberação,
um maravilhoso órgão Hammond de hipnotizantes, enigmáticos e transbordantes
bailados, um mágico sintetizador que nos empoeira e beatifica de profecias
cósmicas, uma sofisticada bateria de natureza erudita e galope tribalista que tiquetaqueia
todo o álbum com a sua apurada técnica, e uma voz evangélica que – perseguida por
um populoso, ecoante e luminoso coro vocal – capitaneia esta quimérica
digressão pelos primórdios da preciosa cultura galega. A bonita fotografia que
adorna o rosto deste imaculado registo tem os seus devidos créditos apontados
ao fotógrafo espanhol Leo López. De destacar ainda a inclusão da assombrosa versão cover do tema "A Ronda das Mafarricas" originária do nosso Zeca Afonso, que encerra na perfeição toda esta fabulosa digressão pelos meandros de mitos, costumes e ritos antepassados. Este é um álbum verdadeiramente
utópico. Um irrepreensível trabalho arquitectado e executado a desarmante maestria
que me nutrira, seduzira e conquistara do primeiro ao derradeiro tema. ‘Moura’
garante – assim – não só uma estreia profundamente marcante, como um lugar
cativo por entre os mais premiados e elogiados álbuns que representarão os
melhores discos de 2020. Estes cinco eremitas hispanos vêm comprovar que nem só
dormindo, sonhamos. Corações ao alto, o nosso coração está em Moura.
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