quinta-feira, 26 de maio de 2022

Review: ⛧ Moura - 'Axexan, espreitan' (2022) ⛧

★★★★

Depois do insanável impacto que o homónimo álbum de estreia tivera em mim (descrição do evento aqui), devo admitir que fora com transbordante entusiamo que recebera em mãos o novíssimo álbum do sexteto espanhol Moura, batizado de Axexan, espreitan’, e que tem o seu lançamento oficial calendarizado para o dia de amanhã através dos formatos LP, CD, cassete e digital com o insuspeito carimbo editorial da Spinda Records. Reavivando crenças, costumes e ritos ancestrais da velha Galícia, este segundo álbum do criativo e maturado colectivo localizado no extremo norte de Espanha vem orvalhado e embruxado por um rico sortido sonoro de onde facilmente se apalada um sonhador, novelesco e trovador Folk de raiz tradicional, um bailante, quimérico e deslumbrante Progressive Rock de traje medieval, um druídico, colorido e caleidoscópico Psychedelic Rock de clima estival e ainda um anestésico, absorvente e sidérico Krautrock de afago sensorial. Conduzidos, incensados e seduzidos pelas envolventes narrativas que habitam os oito temas do disco, somos submersos no borbulhante caldeirão de Moura onde ferve todo um revivalista Folclore trazido de tempos imemoriais, caídos há muito em desuso. Com vista a revitalizar a preciosa herança popular da Galícia anciã, Moura desenterra e principia toda uma transformadora, intrigante e embriagante profusão de mágicos rituais Wicca que nos aprisionam num hipnotismo mesmérico de espectral docilidade e fantasmagoria bruxuleante. Na erudita caligrafia musical de ‘Axexan, espreitan’ vive uma purificante, minuciosa e cativante diversidade instrumental de onde sobressaem os cerimoniais, populosos e lustrosos coros vocais – entoados na sua língua nativa – de tonalidades desiguais, os ousados bailados das guitarras pagãs que se embandeiram em majestosos Riffs e efervescem em ácidos solos de tintura psicadélica, os esvoaçantes mugidos nasalados pelos virtuosos teclados, os uivos ziguezagueantes de um principesco violino, as quentes reverberações de um baixo protuberante e as jazzísticas incursões de uma bateria habilidosa aliada a uma percussão tribalista. São 41 minutos orlados por uma deífica luzência rolhada que nos desconexa da realidade e dissolve numa devota cerimónia ocultista. Uma fumarenta liturgia xamânica lavrada a espirituosas composições de beleza fabular que farão salivar o mais exigente dos ouvintes. Um feliz matrimónio entre a heterogeneidade dos temas e a ofuscante qualidade que lhes é transversal. Depois de comungados e imoderadamente reverenciados estes dois maravilhosos álbuns de Moura, estou já de olhos postos na sua tão ansiada estreia ao vivo em território português, que terá lugar no emblemático festival SonicBlast. Até lá, repetidas romarias ao sagrado altar de Axexan, espreitan’ serão cumpridas.

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