quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Review: 🌵 Brant Bjork Trio - 'Once Upon a Time in the Desert' (2024) 🌵

★★★★

Contando vinte e cinco anos de uma frutífera carreira a solo (principiada em 1999 com o lançamento do bíblico ‘Jalamanta’), o carismático Brant Bjork (talentoso multi-instrumentista e ex-baterista dos históricos Kyuss e Fu Manchu) continua a colocar toda a sua motivação, dedicação e inspiração ao serviço da música que lhe corre nas veias, acrescentando agora mais um registo – indubitavelmente o meu favorito dos seus últimos largos anos – à sua já extensa discografia. Residente na paradisíaca cidade-resort de Palm Springs – cidade cultivada no coração do deserto californiano – há muito que o radical Brant Bjork surfa, incansavelmente, as douradas dunas do seu autoproclamado Low Desert Punk, e o novíssimo ‘Once Upon a Time in the Desert’ – lançado com o carimbo do seu selo discográfico de autor Duna Records (através dos formatos LP, CD e digital) – vem confirmar toda a vistosa, gloriosa e invejável forma que o já veterano músico ostenta na viragem do seu meio século de vida. Na agradável companhia do icónico baixista Mario Lalli (Yawning Man e Fatso Jetson) e de Ryan Güt na bateria (que ao longo dos últimos dez anos tem empunhado as suas baquetas em defesa do Low Desert Punk), o líder Brant Bjork forma, assim, este exótico, sólido e simbiótico power-trio de instrumentos apontados a um fogoso, apimentado, libidinoso e torneado Desert Rock bronzeado por um quente, alucinógeno e luzente Psychedelic Rock de doce aroma tropical, bailado por um provocante, colorido e serpenteante Funk de groove sensual, e pontapeado por um excitante, delirante e ritmado Punk Rock locomovido a baixa rotação. De pés desnudos, firmados nas finas, mornas e tisnadas areias do deserto, pele morena, beijada pelo cálido bafo solar e arejada por uma suave e temperada brisa que sobrevoa o infindável tapete arenoso, olhar mergulhado e naufragado nas profundezas luminosas e flamejantes de um Sol reinante, e espírito integralmente embevecido, experienciamos – à sagrada boleia da extasiante, imersiva e magnetizante música de ‘Once Upon a Time in the Desert’ – visões caleidoscópicas, ilusões, alucinações, grande sensibilidade sensorial, sinestesias, delírios místicos, flashbacks, alteração da noção temporal e espacial, confusão, desagregação do ego e o arrombamento das portas da percepção. A eucaristia sacramental do LSD na mística e ritualística vacuidade de um deserto que se espreguiça até onde a vista pode alcançar. Na composição desta contagiante, psicotrópica e apaixonante sonoridade – banhada em psicadélico exotismo – bamboleiam-se uma afrodisíaca guitarra Jimi Hendrix’eana de polposos, espessos, escorregadios e vaidosos riffs, e solos uivante, ácidos, embriagados e ziguezagueantes, um baixo obeso, gorduroso e coeso de linhas fibróticas, encaracoladas, onduladas e hipnóticas, uma bateria solta, leve e desinibida de ritmos verdadeiramente excitantes, fascinantes e esponjosos, e uma voz simpática, risonha, limpa e harmoniosa que coloca sobre as rodas de um skate todos os enleios instrumentais. Este é um álbum electrificado a vibração positiva – a banda-sonora perfeita para emoldurar um verão já findado – que transpira erotismo e respira boa disposição. Um disco tremendamente apetitoso, radioso, gracioso e viciante que nos encandeia, namora e prazenteia num arborizado e arejado oásis espiritual de carícia sensorial. 'Once Upon a Time in the Desert' é um musicado álbum de recordações conservadas e romantizadas pelo saudosismo. Uma sincera homenagem à adolescência irreverente de sonhos na proa. A frescura, a doçura e a formosura de mãos dadas e turbilhonadas numa estonteante espiral. Pura mescalina via auditiva. Crescem e florescem cactos no meu peito.

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