sexta-feira, 21 de junho de 2024

🎁 Jon Hiseman // Colosseum & Tempest (21/06/1944 🥁 12/06/2018)

🐉 Rostro del Sol - "Argonne" (2024)

🍂 Wishbone Ash - "The Pilgrim" (1971)

Review: 🍁 Moura - 'Fume Santo de Loureiro' EP (2024) 🍁

★★★★

Depois do assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal, sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –, vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais – ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos, dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico – de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa sem moderação. Eclipsem-se nele.

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 Spinda Records

segunda-feira, 17 de junho de 2024

✌🏾 Rufus - "Fool's Paradise" @ The Midnight Special (1975)

🐺 Spirit Mother - "Wolves" (2024, Heavy Psych Sounds)

✨ Kim Gordon // Sonic Youth (1992)

📸 Gie Knaeps / Getty Images

☀️ Goblyns - "Bobo" (Live Session)

🌊 Goblyns - "Muti" (2024, Crazysane Records)

Review: 🌞 Goblyns - 'Hunki Bobo' (2024) 🌞

★★★★

Da capital alemã chega-nos o imersivo, viciante e lenitivo psicadelismo divertidamente sambado pelos berlinenses GOBLYNS com a apresentação do seu delicioso álbum de estreia denominado ‘Hunki Bobo’ e lançado pela mão da germânica Crazysane Records nos formatos LP, CD e digital. Baseado num multicolorido, sensual, tropical e animado Psychedelic Rock de desértico clima Spaghetti Western e carnavalescos ritmos balançados entre o Funk, o Surf Rock e o Afrobeat, este primeiro registo do jovem tridente alemão embarca o ouvinte num exótico, místico e empolgante safari pelas savanas tropicais. De influências apontadas a referências como Kikagaku Moyo, The Budos Band, Khruangbin, Spindrift, W.I.T.C.H., CAN, The Ventures, Man Or Astro-Man? e The Meters, a magnética, refrescante, delirante e estética sonoridade de GOBLYNS faz-nos baloiçar a cabeça, rodopiar as ancas, tombar as pálpebras, curvar a linha labial na direcção do sorriso, salivar os ouvidos e saltitar os ombros. Um sumarento, fresco, açucarado e saboroso cocktail servido num cálido final de tarde, de pés enterrados na quente e bronzeada areia da praia e olhos cravados no inalcançável horizonte de um brilhante e calmoso mar azul-turquesa onde se debruça e desmaia um afogueado Sol crepuscular. ‘Hunki Bobo’ é um morno e borbulhante jacuzzi de efervescência psicotrópica que simultaneamente nos relaxa e estimula. Uma alucinógena digressão pela imensa vastidão do profético deserto onde peiotes irrompem no solo terroso e transpiram mescalina. Um afrodisíaco, deslumbrante e paradisíaco caleidoscópio onde nos perdemos e embriagamos. Conduzido de forma sinuosa por uma ensolarada guitarra de riffs serpenteantes, atmosféricos, eróticos e enleantes, sombreado pelo bafo ardente de um fibroso baixo de linhas ambulantes, elásticas, hipnóticas e dançantes, e brilhantemente tiquetaqueado por uma bateria tribalista de cadências atraentes, descontraídas, extrovertidas e absorventes, ‘Hunki Bobo’ faroliza e canaliza o ouvinte para um verdadeiro oásis que nos massaja o corpo e o espírito. São 31 minutos de nirvânica luzência que nos encandeia e incendeia de inefável prazer. Um álbum edénico, irresistível e sorridente que nos contagia com a sua genuína alegria e perpetua num estado de plena satisfação e bem-estar. Deixem-se absorver e enternecer por esta letárgica euforia de contida excitação e adormeçam neste sonho acordado. A banda-sonora perfeita para celebrar e emoldurar o verão que se avizinha está aqui, no espirituoso, ziguezagueante, enfeitiçante e radioso psicadelismo de GOBLYNS. É recomendável o uso de protector solar antes da exposição a esta intensa radiação ultravioleta.

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 Crazysane Records

quarta-feira, 12 de junho de 2024

✝️ Françoise Hardy (1944 🎤 2024)

📷 Jean-Marie Perier (1967)

🎁 Chick Corea // Return To Forever (12/06/1941 🎹 09/02/2021)

🕸️ Bum Shelter (live)

Review: 🕷️ Bum Shelter - 'Bum Shelter' (2024) 🕷️

★★★★

Da cidade-capital Viena chega-nos a exalação canábica baforada pelo dominante, sísmico e arrogante álbum de estreia do recém-formado quinteto austríaco Bum Shelter, lançado no final de abril através dos formatos cassete (pela mão da Capeet Records numa edição ultra-limitada a 150 cópias físicas) e digital. Obscurecido por um melancólico, montanhoso, tenebroso e distópico Psychedelic Doom polvilhado com condimentos cósmicos, e profanado por um fervilhante, pantanoso, viscoso e intoxicante Sludge Metal de cerrada e esverdeada nebulosidade, este primeiro passo discográfico de Bum Shelter embarca o ouvinte numa intrigante, mesmérica, caravânica e enfeitiçante digressão pelos umbrosos, fantasmagóricos e pavorosos trilhos da abissal introspecção. De inspiração colhida nos universos de Sleep, Weedeater, Bongzilla, Bell Witch, Pallbearer, Ahab, ShrinebuilderBongripper, Nortt e Ufomammut, a sua monolítica, cataclísmica, narcótica e infernal sonoridade tem a capacidade de nos paralisar, sufocar e soterrar nas profundezas da letargia. De cabeça pesadamente baloiçante, pálpebras caídas sobre um olhar embaciado, narinas dilatadas, respiração travada, semblante esbranquiçado e espírito integralmente sedado, caminhamos sonâmbulos e fascinados pelos territórios encarvoados, brumosos, trevosos e amaldiçoados de ‘Bum Shelter’. Uma vil, umbrosa e irresistível liturgia de preces arremessadas na direcção do profano que comungamos sem qualquer resistência. Mergulhem na vertiginosa fundura desta demoníaca, ácida e psicotrópica negrura, ancorados a uma guitarra inquisidora que hasteia riffs hipnóticos, intensos, sisudos e dramáticos, um baixo musculoso que bafeja linhas obesas, tensas, densas e coesas, uma bateria escaldante de ritmo intempestivo, estrepitoso, vigoroso e altivo, teclados vampíricos, espaciais, pirotécnicos e ritualísticos que exorcizam o Cosmos, e vocais urticantes, bolorentos, cavernosos e guturais de vestes rasgadas, caninos afiados e garras ensanguentadas. São 40 minutos de febril ardência, máxima potência, anestésica sonolência e nociva pestilência que nos desmaiam a lucidez, atestam de embriaguez e anoitecem a alma. Uma atmosfera angustiante, misteriosa, pecaminosa e intimidante – tão ociosa e libertadora quanto revoltosa e opressora – que nos seduz e conduz numa marcha fúnebre de encontro ao lado eclipsado da mente humana.  ‘Bum Shelter’ é um registo nocturno, soturno e licantrópico que deve ser ouvido em noites de Lua cheia. Mumifiquem-se e deitem-se no interior deste sarcófago.

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segunda-feira, 3 de junho de 2024

Pescado Rabioso - "Algo Flota En La Laguna" (1972)

🎹 Crucis - "Recluso Artista" (1976)

Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part I' (2024) 🔮

★★★★

Depois de farolizado e ofuscado pela sagrada luminosidade irradiada pelo seu edénico álbum de estreia (aqui descrito e imoderadamente elogiado) florescido na primavera de 2020, os catalães Magick Brother & Mystic Sister regressam agora com o lançamento – pela mão da companhia discográfica grega Sound Effect Records nos formatos LP, CD (estes, entretanto, já esgotados) e digital – da tão aguardada primeira de duas partes de uma enigmática e enfeitiçante sessão de cartomancia sublimemente musicada. Abraçados pela negrura cósmica, magnetizados pelo olhar incisivo de uma feiticeira, e sentados à mesa onde é aberto, em forma de leque, um baralho tarot, vislumbramos, de sentidos vivazes e despertos, o nosso passado, presente e futuro em cada uma das cartas que se vai revelando à nossa frente. Mergulhados na profunda introspecção e absorvidos pela esponjosa fascinação, comungamos todo o formoso, profético e miraculoso misticismo de ‘TAROT part I’ de velas içadas e sopradas ao sabor dos suaves ventos suspirados por um multicolorido caleidoscópio de fragâncias sonoras, onde flutuam de mãos dadas um lisérgico, alucinógeno e esotérico Neo-Psychedelic Rock de essência trazida dos 60’s e com um discreto corante Pop, um outonal, fabular e pastoral Folk de adornada moldura medieval, um deslumbrante, onírico e apaixonante Progressive Rock de afável clima Canterbury’esco, e ainda um cerimonial, alienígena e ambiental Cosmic Jazz de feitiçaria electrónica que nos arremessa para os confins do Cosmos. Com inspirações colhidas de clássicas referências como Gong, Pink Floyd (era Syd Barrett), Ash Ra Tempel (assim como da obra a solo de Manuel Göttsching), The Zodiac, Ultimate Spinach, Nektar, Daevid Allen, Steve Hillage e Pierre Moerlin, a divinal, seráfica, mágica e sacramental musicalidade de Magick Brother & Mystic Sister tem um efeito calmante, reparador, emancipador e purificante que nos relaxa o corpo, massaja a alma e estimula a espiritualidade. Mumificados pelas teias do misticismo, vogamos pelo acetinado manto da noite astral com o destino das nossas vidas nas mãos do oráculo. Uma nirvânica transcendência na endeusada companhia de sublimados teclados que mugem intrigantes sirenes cósmicos e desdobram mágicos, tocantes e apaixonantes bailados, uma bateria deliciosamente jazzística de ritmos orientais, atraentes, quentes e tribais, um baixo contemplativo de linhas sombreadas, leves e onduladas, uma guitarra uivante, poética e sidérica, uma flauta fabular de sopros frescos, romanescos e aveludados, uma messiânica sitar de imersivos, magnetizantes e enleantes serpenteios que nos alinham os chakras, e vocais etéreos, límpidos, ecoantes e angelicais que nos banham e envolvem de luz e paz. ‘TAROT part I’ é um álbum conceptual, superiormente orquestrado a leveza, subtileza e fina sensibilidade. Uma obra verdadeiramente bela e inspiradora, incensada por poeiras estelares, que nos faz sorrir e revirar o olhar na direcção do universo onírico. No final destes 42 minutos de terapêutica hipnose, reina o silêncio que nos devolve a lucidez, a capacidade de respirar e pestanejar, e intensifica em nós um apetite voraz pela segunda parte deste ritual. Percam-se e encontrem-se, aventurem-se e desventurem-se neste paraíso fantasista – brilhantemente pensado e edificado pelos Magick Brother & Mystic Sister – e vivenciem um dos mais maviosos álbuns do ano.

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