segunda-feira, 24 de junho de 2024
sábado, 22 de junho de 2024
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Review: 🍁 Moura - 'Fume Santo de Loureiro' EP (2024) 🍁
Depois do
assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente
namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui
trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura
lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado
pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records
nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar
uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e
trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que
escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal,
sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e
ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante
Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta
inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e
charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas
mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante
caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e
extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias
capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa
cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e
adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas
composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de
Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda
uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –,
vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais –
ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e
palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e
deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras
Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos
acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos,
dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de
toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo
hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo
de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e
consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de
novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma
atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele
atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico
– de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa
sem moderação. Eclipsem-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Spinda Records
quinta-feira, 20 de junho de 2024
quarta-feira, 19 de junho de 2024
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Review: 🌞 Goblyns - 'Hunki Bobo' (2024) 🌞
Da capital
alemã chega-nos o imersivo, viciante e lenitivo psicadelismo divertidamente sambado
pelos berlinenses GOBLYNS com a apresentação do seu delicioso álbum de
estreia denominado ‘Hunki Bobo’ e lançado pela mão da germânica Crazysane
Records nos formatos LP, CD e digital. Baseado num multicolorido, sensual,
tropical e animado Psychedelic Rock de desértico clima Spaghetti Western
e carnavalescos ritmos balançados entre o Funk, o Surf Rock e o Afrobeat,
este primeiro registo do jovem tridente alemão embarca o ouvinte num exótico,
místico e empolgante safari pelas savanas tropicais. De influências apontadas a
referências como Kikagaku Moyo, The Budos Band, Khruangbin, Spindrift,
W.I.T.C.H., CAN, The Ventures, Man Or Astro-Man? e The
Meters, a magnética, refrescante, delirante e estética sonoridade de GOBLYNS
faz-nos baloiçar a cabeça, rodopiar as ancas, tombar as pálpebras, curvar a
linha labial na direcção do sorriso, salivar os ouvidos e saltitar os ombros. Um
sumarento, fresco, açucarado e saboroso cocktail servido num cálido
final de tarde, de pés enterrados na quente e bronzeada areia da praia e olhos cravados
no inalcançável horizonte de um brilhante e calmoso mar azul-turquesa onde se
debruça e desmaia um afogueado Sol crepuscular. ‘Hunki Bobo’ é um morno e borbulhante jacuzzi de efervescência psicotrópica que simultaneamente nos
relaxa e estimula. Uma alucinógena digressão pela imensa vastidão do profético deserto
onde peiotes irrompem no solo terroso e transpiram mescalina. Um afrodisíaco, deslumbrante
e paradisíaco caleidoscópio onde nos perdemos e embriagamos. Conduzido de forma
sinuosa por uma ensolarada guitarra de riffs serpenteantes, atmosféricos,
eróticos e enleantes, sombreado pelo bafo ardente de um fibroso baixo de linhas
ambulantes, elásticas, hipnóticas e dançantes, e brilhantemente tiquetaqueado
por uma bateria tribalista de cadências atraentes, descontraídas, extrovertidas
e absorventes, ‘Hunki Bobo’ faroliza e canaliza o ouvinte para um
verdadeiro oásis que nos massaja o corpo e o espírito. São 31 minutos de
nirvânica luzência que nos encandeia e incendeia de inefável prazer. Um álbum edénico,
irresistível e sorridente que nos contagia com a sua genuína alegria e perpetua
num estado de plena satisfação e bem-estar. Deixem-se absorver e enternecer por
esta letárgica euforia de contida excitação e adormeçam neste sonho acordado. A
banda-sonora perfeita para celebrar e emoldurar o verão que se avizinha está
aqui, no espirituoso, ziguezagueante, enfeitiçante e radioso psicadelismo de GOBLYNS.
É recomendável o uso de protector solar antes da exposição a esta intensa radiação
ultravioleta.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Crazysane Records
sábado, 15 de junho de 2024
sexta-feira, 14 de junho de 2024
quinta-feira, 13 de junho de 2024
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Review: 🕷️ Bum Shelter - 'Bum Shelter' (2024) 🕷️
Da cidade-capital Viena chega-nos a exalação canábica baforada pelo dominante, sísmico e arrogante álbum de estreia do recém-formado quinteto austríaco Bum Shelter, lançado no final de abril através dos formatos cassete (pela mão da Capeet Records numa edição ultra-limitada a 150 cópias físicas) e digital. Obscurecido por um melancólico, montanhoso, tenebroso e distópico Psychedelic Doom polvilhado com condimentos cósmicos, e profanado por um fervilhante, pantanoso, viscoso e intoxicante Sludge Metal de cerrada e esverdeada nebulosidade, este primeiro passo discográfico de Bum Shelter embarca o ouvinte numa intrigante, mesmérica, caravânica e enfeitiçante digressão pelos umbrosos, fantasmagóricos e pavorosos trilhos da abissal introspecção. De inspiração colhida nos universos de Sleep, Weedeater, Bongzilla, Bell Witch, Pallbearer, Ahab, Shrinebuilder, Bongripper, Nortt e Ufomammut, a sua monolítica, cataclísmica, narcótica e infernal sonoridade tem a capacidade de nos paralisar, sufocar e soterrar nas profundezas da letargia. De cabeça pesadamente baloiçante, pálpebras caídas sobre um olhar embaciado, narinas dilatadas, respiração travada, semblante esbranquiçado e espírito integralmente sedado, caminhamos sonâmbulos e fascinados pelos territórios encarvoados, brumosos, trevosos e amaldiçoados de ‘Bum Shelter’. Uma vil, umbrosa e irresistível liturgia de preces arremessadas na direcção do profano que comungamos sem qualquer resistência. Mergulhem na vertiginosa fundura desta demoníaca, ácida e psicotrópica negrura, ancorados a uma guitarra inquisidora que hasteia riffs hipnóticos, intensos, sisudos e dramáticos, um baixo musculoso que bafeja linhas obesas, tensas, densas e coesas, uma bateria escaldante de ritmo intempestivo, estrepitoso, vigoroso e altivo, teclados vampíricos, espaciais, pirotécnicos e ritualísticos que exorcizam o Cosmos, e vocais urticantes, bolorentos, cavernosos e guturais de vestes rasgadas, caninos afiados e garras ensanguentadas. São 40 minutos de febril ardência, máxima potência, anestésica sonolência e nociva pestilência que nos desmaiam a lucidez, atestam de embriaguez e anoitecem a alma. Uma atmosfera angustiante, misteriosa, pecaminosa e intimidante – tão ociosa e libertadora quanto revoltosa e opressora – que nos seduz e conduz numa marcha fúnebre de encontro ao lado eclipsado da mente humana. ‘Bum Shelter’ é um registo nocturno, soturno e licantrópico que deve ser ouvido em noites de Lua cheia. Mumifiquem-se e deitem-se no interior deste sarcófago.
terça-feira, 11 de junho de 2024
segunda-feira, 10 de junho de 2024
domingo, 9 de junho de 2024
sexta-feira, 7 de junho de 2024
quarta-feira, 5 de junho de 2024
terça-feira, 4 de junho de 2024
segunda-feira, 3 de junho de 2024
Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part I' (2024) 🔮
Depois de farolizado e ofuscado
pela sagrada luminosidade irradiada pelo seu edénico álbum de estreia (aqui
descrito e imoderadamente elogiado) florescido na primavera de 2020, os
catalães Magick Brother & Mystic Sister regressam
agora com o lançamento – pela mão da companhia discográfica grega Sound
Effect Records nos formatos LP, CD (estes, entretanto, já esgotados) e digital – da
tão aguardada primeira de duas partes de uma enigmática e enfeitiçante sessão de cartomancia
sublimemente musicada. Abraçados pela negrura cósmica, magnetizados pelo olhar incisivo
de uma feiticeira, e sentados à mesa onde é aberto, em forma de leque, um
baralho tarot, vislumbramos, de sentidos vivazes e despertos, o nosso
passado, presente e futuro em cada uma das cartas que se vai revelando à nossa
frente. Mergulhados na profunda introspecção e absorvidos pela esponjosa fascinação,
comungamos todo o formoso, profético e miraculoso misticismo de ‘TAROT part I’ de velas içadas e sopradas ao
sabor dos suaves ventos suspirados por um multicolorido caleidoscópio de fragâncias
sonoras, onde flutuam de mãos dadas um lisérgico, alucinógeno e esotérico Neo-Psychedelic
Rock de essência trazida dos 60’s e com um discreto corante Pop, um outonal, fabular
e pastoral Folk de adornada moldura medieval, um deslumbrante, onírico e
apaixonante Progressive Rock de afável clima Canterbury’esco, e
ainda um cerimonial, alienígena e ambiental Cosmic Jazz de feitiçaria
electrónica que nos arremessa para os confins do Cosmos. Com inspirações
colhidas de clássicas referências como Gong, Pink Floyd (era Syd
Barrett), Ash Ra Tempel (assim como da obra a solo de Manuel
Göttsching), The Zodiac, Ultimate Spinach, Nektar, Daevid
Allen, Steve Hillage e Pierre Moerlin, a divinal, seráfica, mágica
e sacramental musicalidade de Magick Brother & Mystic Sister tem um
efeito calmante, reparador, emancipador e purificante que nos relaxa o corpo, massaja a
alma e estimula a espiritualidade. Mumificados pelas teias do misticismo, vogamos
pelo acetinado manto da noite astral com o destino das nossas vidas nas mãos do
oráculo. Uma nirvânica transcendência na endeusada companhia de sublimados teclados
que mugem intrigantes sirenes cósmicos e desdobram mágicos, tocantes e apaixonantes
bailados, uma bateria deliciosamente jazzística de ritmos orientais, atraentes,
quentes e tribais, um baixo contemplativo de linhas sombreadas, leves e onduladas,
uma guitarra uivante, poética e sidérica, uma flauta fabular de sopros frescos,
romanescos e aveludados, uma messiânica sitar de imersivos, magnetizantes
e enleantes serpenteios que nos alinham os chakras, e vocais etéreos, límpidos,
ecoantes e angelicais que nos banham e envolvem de luz e paz. ‘TAROT part I’
é um álbum conceptual, superiormente orquestrado a leveza, subtileza e fina
sensibilidade. Uma obra verdadeiramente bela e inspiradora, incensada por
poeiras estelares, que nos faz sorrir e revirar o olhar na direcção do universo
onírico. No final destes 42 minutos de terapêutica hipnose, reina o silêncio
que nos devolve a lucidez, a capacidade de respirar e pestanejar, e intensifica
em nós um apetite voraz pela segunda parte deste ritual. Percam-se e encontrem-se,
aventurem-se e desventurem-se neste paraíso fantasista – brilhantemente pensado
e edificado pelos Magick Brother & Mystic Sister – e vivenciem um
dos mais maviosos álbuns do ano.
Links:
➥ Facebook
➥ Instagram
➥ Bandcamp
➥ Sound Effect Records