domingo, 30 de junho de 2019
Review: ⚡ Gygax - 'High Fantasy' (2019) ⚡
Da cidade costeira de Ventura
(Califórnia, EUA) chega-nos ‘High Fantasy’, o (por
mim) tão aguardado terceiro álbum do quarteto Gygax. Lançado muito
recentemente pela mão do selo discográfico californiano Creator-Destructor
Records (especializado no género) sob a forma física de CD e vinil, este novo trabalho de longa
duração da jovem banda norte-americana escuda-se num melódico, entusiástico e dinâmico
Heavy Metal de indiscreta inspiração tradicional que causara em mim um enérgico
abalo emocional. A sua sonoridade fogosa, ritmada, esmerada e ostentosa – marcadamente
norteada e influenciada por uns clássicos Thin Lizzy – conjuga na
perfeição a primorosa elegância com a voraz e vibrante destreza técnica manifestada
pelos instrumentos em incessantes e cativantes diálogos entre si. Uma furiosa
locomotiva sem travões à vista, carburada por duas guitarras gémeas que se agigantam
e galanteiam na ascensão e condução de majestosos, oleados, condimentados e
vigorosos riffs, e se perseguem e entrelaçam em ziguezagueantes,
frondosos, apetitosos e delirantes solos de uma desarmante perícia e atordoante
extravagância, um baixo magnetizante de linhas reverberantes, fluídas, fibrosas
e ondulantes, uma empolgante, desembaraçada e desconcertante bateria esporeada
a uma ritmicidade apressada e arrebatadora tecnicidade, um tímido teclado de
magnânimos bailados, e uma agradável voz que combina a cuidada e lubrificada melodia
com a tórrida e felina rudeza. De estender ainda o elogio ao fabuloso e
caprichoso artwork de contornos mitológicos e créditos apontados ao talentoso
ilustrador mexicano Fares Maese, que confere a este fantástico registo
toda uma fabular ambiência visual de videojogo. ‘High Fantasy’ é
um álbum verdadeiramente portentoso – de consumada sublimidade, inquietante lubricidade
e irrepreensível sagacidade – que provocara e sustentara em mim todo um perfeito
estádio de intensa fascinação e desmoderada exaltação logo à primeira audição
que lhe dedicara. Um dos álbuns por mim mais ansiados do presente ano e que
acabara mesmo por rebentar e transbordar as costuras que balizavam a minha
expectativa a ele previamente prognosticada. São 28 minutos atestados de uma
crescente, erótica e ofuscante excitação que facilmente nos climatiza, prende e
euforiza do primeiro ao derradeiro tema. Toda uma melodiosa e efervescente fogosidade
– superiormente nutrida e conduzida pelos Gygax – que nos inflama e incendeia
de um êxtase impossível de não exteriorizar. Pecando apenas pela sua curta
duração, ‘High Fantasy’ perfila-se como um dos meus discos de
eleição deste já farto ano musical de 2019 que persiste em presentear-nos com o
que de melhor advém da relação entre a qualidade e a quantidade. Uma ininterrupta
vénia a estes californianos de instrumentos bafejados pelo lado mais virtuoso,
glorioso e carismático do Heavy Metal hasteado no final dos 70’s e desdobrado pelos 80's.
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➥ Creator-Destructor Records
sábado, 29 de junho de 2019
sexta-feira, 28 de junho de 2019
Review: ⚡ Frozen Planet 1969 - 'Meltdown On The Horizon' (2019) ⚡
Da grande e populosa cidade
de Sydney chega-nos o 7º capítulo da extensa e quimérica odisseia celestial
timonada pelo cativante power-trio australiano Frozen Planet 1969.
Intitulado de ‘Meltdown On The Horizon’ e oficialmente lançado no
passado dia 19 de Junho pela insuspeita editora local Pepper Shaker Records
em formato de CD e pelo selo discográfico holandês Headspin Records sob
a forma física de vinil, este seu novo álbum repete a receita sonora posta em
prática nos álbuns que o antecedem. Alicerçado num hipnotizante, sublime e
empolgante Heavy Psych de propensão astral – que se desdobra através de
longas e evolutivas jam’s de cariz instrumental – este ‘Meltdown
On The Horizon’ causa no ouvinte uma bipolaridade emocional tão capaz
de o sepultar e anestesiar num profundo estádio de narcose como de o disparar e
vibrar numa crescente e emancipadora erupção de pura adrenalina. De atenção fascinada
e atrelada à psicotrópica musicalidade de Frozen Planet 1969, somos
puxados para fora da gravidade terrestre e dissipados pela perpétua vacuidade
de um Cosmos bocejante e inebriante. Contando ainda com uma forte dosagem de experimentalismo
sónico que facilmente se dilui no estonteante psicadelismo que o irriga, ‘Meltdown
On The Horizon’ convida-nos a ingressar num vertiginoso vórtice do qual
não regressaremos sóbrios. Balanceiem todos os membros e sentidos ao sabor de
uma exótica guitarra que vomita alucinantes, ácidos, caóticos e desviantes solos
de elevada toxicidade, um baixo latejante de linhas magnetizantes, torneadas,
musculadas e ondeantes que instintivamente nos instiga a sussurrá-lo, e uma estimulante
bateria que – com inspirada ritmicidade – escolta e tiquetaqueia toda esta renovada
improvisação destes destemidos astronautas de instrumentos empunhados. De destacar
e elogiar ainda o majestoso artwork – ilustrado pelo artista indonésio Alfiandi
– que nos escancara todo um portal cósmico e maravilha com o místico esplendor
de uma colorida é vistosa paisagem alienígena. ‘Meltdown On The Horizon’
é um mirífico álbum detentor de um encantamento transbordante que facilmente
nos seduz, prazenteia e conduz pelo universo onírico de um mavioso sonho
acordado.
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➥ Headspin Records
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quinta-feira, 27 de junho de 2019
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Review: ⚡ Electric Moon - 'Hugodelia' (2019) ⚡
Do alto do seu iminente 10º
aniversário, os três astronautas germânicos Electric Moon acabam de
lançar um novo álbum gravado ao vivo – engordando assim toda uma discografia
que se dissemina a uma quantidade e velocidade estonteantes – para gáudio
daqueles que – tal como eu – há muito escoltam e veneram as suas envolventes e
fascinantes jam’s de propensão extraplanetária. Depois de os ter
vivenciado ao vivo em 2015 no já extinto festival ribatejano Reverence
Valada (review aqui) o deslumbramento que até aí nutria pelos
Electric Moon sofrera um empolamento de tal ordem, que ainda hoje –
passados quatro anos – tenho bem presente a ressaca que essa mágica experiência
deixara em mim. E se é inegável que me confesso pouco apreciador de registos gravados
ao vivo, Electric Moon consegue verter com imaculada fidelidade para cada uma das nossas casas toda a mágica essência que climatiza e condimenta as suas performances em
palco. E este ‘Hugodelia’ não escapa à regra. Gravado ao vivo em
2018 no velho e carismático edifício austríaco Graf Hugo – que logo após
essa actuação seria permanentemente encerrado ao público – este álbum adjectiva-se
como que uma sentida e inspirada homenagem à vida desse histórico espaço enraizado
na cidade austríaca de Feldkirch. Lançado no passado mês de Maio pela
mão da insuspeita editora alemã Sulatron Records (numa edição em CD limitada
a apenas 1000 cópias disponíveis) e da Pancromatic Records (em formato de vinil),
este ‘Hugodelia’ vem atestado de uma inebriante poeira estelar
que nos desenraíza da gravidade terrestre e magnetiza de encontro aos mais profundos
e negros solos do imenso oceano cósmico. Destilada de um admirável equilíbrio
entre a doce lisergia e a ardente euforia, a mística sonoridade que Electric
Moon tricota e pulveriza ao vivo causa no ouvinte toda uma crescente
hipnose que o canaliza pelas longas e evolutivas jam’s que se desdobram
pelos domínios alienígenas da infinidade e majestosidade sideral. Uma
enigmática essência que gradualmente nos suga de encontro à sua medula, numa anestésica
levitação que desagua numa perfeita erupção de intenso prazer e revoltosa comoção.
Icém as velas da consciência e desbravem os mares cósmicos bem para lá do lado
eclipsado da Lua à boleia de uma endeusada guitarra de orientação Space & Psych, embrulhada e embriagada num experimentalismo
sónico de onde florescem extravagantes, alucinógenos e delirantes solos de elevada
toxicidade e durabilidade a perder de vista, um delicioso baixo Krauty
que com as suas linhas pulsantes, robustas, onduladas e hipnotizantes nos murmura
repetidamente as feições do riff-base, e uma agradável bateria detidamente
entregue a uma constante cadência rítmica que tiquetaqueia e capitaneia esta
fabulosa e aventurosa digressão por entre os mais secretos e solitários astros
suspensos na mais longínqua verticalidade. ‘Hugodelia’ é uma
experiência imersiva que nos faz sentir presentes na gloriosa despedida do Graf
Hugo. Recostem-se confortavelmente, respirem pausada e profundamente, desmaiem as pálpebras sobre o olhar
envidraçado e tombem o semblante eterizado de encontro ao peito. Electric
Moon encarregar-se-á de tudo o resto.
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terça-feira, 25 de junho de 2019
segunda-feira, 24 de junho de 2019
domingo, 23 de junho de 2019
Review: ⚡ 1782 - '1782' (2019) ⚡
No já muito remoto ano de
1782, a helvética Anna Göldi – considerada a última bruxa da Europa a
ser executada – era acusada de infanticídio, condenada e punida através de decapitação.
Em sua homenagem – assim como também em honra a todas as restantes bruxas perseguidas,
julgadas e executadas pela severa tirania da Santa Inquisição – o recém-formado duo
italiano 1782 lança agora o seu homónimo álbum de estreia através dos
selos discográficos seus conterrâneos Heavy Psych Sounds Records (em CD
e vinil) e Electric Valley Records (em cassete). Enegrecido, distorcido
e demonizado por um intrigante, lodacento, bafiento e atemorizante Psych
Doom de veneração pagã, este ‘1782’ causara em mim toda uma imersiva
sensação de ininterrupta fascinação que enlutara e profanara a minha alma do
primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade maléfica, tenebrosa, densa e ritualística
– descendente natural da magia negra doutrinada por uns Black Sabbath e Electric
Wizard – convida o ouvinte a ingressar e participar numa luciférica
liturgia climatizada a ocultismo. Assim que os sinos ressoam por entre o relaxante
som da chuva e dos longínquos rugidos baforados pelos trovões – numa clara
menção ao histórico tema “Black Sabbath” de 1970 (tema homónimo e
pertencente ao álbum homónimo da lendária banda inglesa) – somos hipnotizados, assombrados e arrastados pela titânica, influente e demoníaca ressonância exalada e propagada ao longo
de todo o álbum, desaguando e despertando num crescente sentimento de Déjà
vu assim que o tema conclusivo de ‘1782’ nos surpreende com
uma inspirada reinterpretação do mítico tema “A Saucerful Of Secrets”
(1968) de créditos apontados aos inigualáveis Pink Floyd. De olhar eclipsado, cabeça
pesada e lentamente baloiçada junto ao peito, e alma amortalhada e embaciada
nas profundezas de um oceano morfínico, somos banhados e enlameados pela negra
reverberação de uma guitarra profana que se agiganta em poderosos, vigorosos e
monolíticos riffs tonificados, vibrados e calcinados a efeito Fuzz,
um baixo modorrento de linhas possantes, carregadas e magnetizantes, uma bateria
trovejante de ritmicidade lenta, pesada e retumbante, um cerimonioso órgão Hammond
de intrigantes, trágicos, melancólicos e arrepiantes bailados, e ainda uma voz avinagrada,
ecoante, inebriante e desconsagrada que nos mancha e rasga as vestes da
religiosidade. ‘1782’ é um álbum governado a uma pervertida
sobranceria que nos converte em seus devotos peregrinos. Um impactante registo
de audição incontornável a todos os apaixonados pelo lado mais herético e psicotrópico
do Doom Metal. Deixem-se sombrear e conspurcar nos viscosos pântanos de 1782
irrigados pelo próprio Diabo, e comungar com intensa sedução toda a sua gloriosa
dominância.
sexta-feira, 21 de junho de 2019
Review: ⚡ Acid Alice - 'The Road' (2019) ⚡
Da cidade do México
(capital do México) chega-nos ‘The Road’, o euforizante,
adorável e impactante álbum de estreia do quinteto Acid Alice. Oficialmente
lançado no último suspiro de Maio através da sua página de Bandcamp e
exclusivamente em formato digital, este primeiro trabalho da jovem formação
azteca vem inflamado e perfumado por uma excitante combustão entre um elegante,
ritmado, enérgico e electrizante Classic Rock e um vaidoso, aromatizado,
ardente e poderoso Heavy Blues de indiscreta natureza revivalista. A sua
sonoridade tricotada e colorida a uma entusiasmante e deslumbrante galopada à
rédea solta provocara em mim todo um crescente estádio de pura fascinação e comoção
que me atiçara e agitara do primeiro ao derradeiro tema. São 47 minutos
afogueados e condimentados a uma destreza, sentimento e fineza incapazes de
deixar os ouvintes mais exigentes apegados à indiferença. De olhar selado,
maxilares cerrados e cabeça arremessada de ombro a ombro, sintam-se venerar e serpentear
os eróticos bailados de duas guitarras primorosas que se exteriorizam,
locomovem e enfatizam em majestosos, empolgantes, fumegantes e ostentosos riffs
de onde desabrocham atordoantes, sublimes, refinados e delirantes solos em
debandada, balancear o corpo num movimento pendular ao magnetizante som de um ofegante
baixo reverberado a linhas pulsantes, arrojadas, torneadas e dançantes, embriagar
de adrenalina à incitante boleia de uma bateria endiabrada e desembaraçada que
tão bem conjuga a febril explosividade com a melodiosa delicadeza, e arrebatar
com os surpreendentes dotes vocais de uma desarmante voz lubrificada a melosidade,
harmonia, corrosão e graciosidade que tanto se encrespa com portentosos
rugidos, como se suaviza com melódicas e aveludadas passeatas. ‘The Road’
é um álbum integralmente pensado e executado à minha imagem. Dele são destilados
todos os elementos que mais procuro ouvir na música Rock e, portanto,
tudo em mim me faz considera-lo como um dos mais singulares e inspiradores trabalhos
nascidos e promovidos em 2019. Deixem-se perfumar, embevecer e destravar a
trote desta estonteante cavalgada à boa moda dos airosos 60’s e dos musculados 70’s,
e vivenciem com todos os sentidos acordados e apurados a alma desta autêntica
obra-prima de origem sul-americana. Uma das mais distintas surpresas sonoras do ano está aqui, na talentosa e cheirosa irreverência dos mexicanos Acid Alice.
quinta-feira, 20 de junho de 2019
Review: ⚡ Valley of the Sun - 'Old Gods' (2019) ⚡
Da histórica cidade de Cincinnati
aka “Cincy” (pertencente ao estado norte-americano de Ohio)
chega-nos um dos álbuns mais entusiasmantes do ano. Refiro-me a ‘Old Gods’,
o novo trabalho de longa duração do quarteto Valley of the Sun que fora
lançado na segunda metade do passado mês de Maio pela mão do conceituado selo
discográfico sueco Fuzzorama Records sob a forma física de CD e vinil. Fervido
e conduzido por um fogoso, musculado, torneado e poderoso Stoner Rock à
boa e velha moda de Truckfighters, Unida ou Fu Manchu,
este álbum conta também com uma indiscreta aproximação a um vigoroso, melódico,
denso e ostentoso Grunge Rock a fazer recordar os carismáticos Soundgarden
e Alice in Chains na plenitude dos gloriosos anos 90. A sua sonoridade de tonalidade pujante,
vulcânica, dinâmica e empolgante – incendiada, mordida e fustigada pelo efeito Fuzz
– remete o ouvinte para as poeirentas estradas de um imenso deserto a perder de
vista, de olhar cravado no horizonte abrasado e esbatido pelo Sol incandescente,
e punhos firmemente cerrados ao volante de um rumoroso muscle car. É num
admirável equilíbrio emocional que tanto nos explode e revolve num ardente rugido
de adrenalina, como nos banha e relaxa num lisérgico e contemplativo oásis, que
este ‘Old Gods’ faz sentir a sua forte presença. Acabados de alcançar
a sempre elogiável marca de dez anos de existência, os Valley of the Sun
têm em ‘Old Gods’ o seu álbum mais maturado, aprimorado e – indubitavelmente
– o meu favorito da sua já respeitável discografia. De lucidez nublada e alma plenamente
atestada de uma imperturbável sensação de bem-estar, somos dominados e embalados
à excitante boleia de duas guitarras motorizadas que se agigantam em volumosos,
oleados, ritmados e fragorosos riffs de onde florescem ziguezagueantes,
ácidos e alucinantes solos, um baixo bafejante – de tensa ressonância – que se
orienta e ostenta a linhas pulsantes, sólidas e possantes, uma bateria
expressiva de ritmicidade rutilante, galopante e impulsiva, e ainda uma voz liderante,
viçosa, melodiosa e refrescante – que se balanceia por entre a aspereza felina de um John Garcia
e a condimentada veemência de um Chris Cornell – e se adapta na perfeição à inflamante e fervilhante
reverberação instrumental. Este é um álbum repleto de um contagiante e vibrante
entusiasmo que nos espevita e agita do primeiro ao derradeiro tema. São 42
minutos ensolarados e tonificados por uma atmosfera animada e encantada que nos
desperta e sustenta o sorriso, e desata a cabeça na furiosa perseguição a uma
das mais euforizantes galopadas sonoras testemunhadas em 2019. De consumo impróprio
para cardíacos.
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➥ Fuzzorama Records
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➥ Fuzzorama Records
terça-feira, 18 de junho de 2019
Review: ⚡ Lucy In Blue - 'In Flight' (2019) ⚡
Da cidade-capital mais
setentrional do Mundo (Reiquiavique, na Islândia) chega-nos uma
das mais agradáveis surpresas sonoras de 2019. ‘In Flight’ é o
segundo e novo álbum do jovem e habilidoso quarteto nórdico Lucy In Blue
– lançado no passado mês de Abril pela mão da editora discográfica norueguesa Karisma
Records sob a forma física de CD e vinil – e traz-nos a melodiosa fragância
de um requintado, envolvente, eloquente e delicado Psychedelic Rock
entrelaçado num místico, sumptuoso, donairoso e onírico Prog Rock tingidos
e temperados a um desarmante, afagante e sublimado revivalismo que me prendera
e deslumbrara com tremenda facilidade. De influências focadas e cravadas nas míticas referências
britânicas Pink Floyd, Camel e King Crimson, a encantadora
sonoridade de beleza crepuscular que este ‘In Flight’ encerra,
transporta o ouvinte para as carismáticas e saudosas décadas de 60 e 70. São 40
minutos ensolarados, aromatizados e capitaneados por uma atmosfera saturada de
elegância, destreza, fineza e exuberância que nos extasia os sentidos e provoca
uma crescente salivação nos ouvidos. De olhar semi-cerrado, sorriso perpetuado
no rosto, alma inebriada, e cabeça suave e detidamente balanceada de ombro a
ombro, somos levados e enlevados por esta majestosa digressão sonora de distinta
formosura. Uma inspirada e fascinada obra-prima de pureza lapidar da qual estes
Lucy In Blue só têm de se orgulhar e colecionar os mais nobres e elevados
elogios. Sintam-se levitar e arrebatar ao conjugado som entre uma prodigiosa guitarra
que se enfatiza na condução de majestosos acordes e eróticos solos, uma primorosa
bateria de cuidada, polida, talentosa e caprichada orientação jazzística,
um baixo contemplativo de linhas suavizantes, oleadas, fluídas e magnetizantes,
um maravilhoso teclado de copiosos, quiméricos, sidéricos e ostentosos bailados,
e ainda uma voz sedosa, delicada e voluptuosa que lidera com especial primazia todo
este sonho acordado. ‘In Flight’ é um álbum verdadeiramente
cativante, estupendo e apaixonante. Uma esmerada, preciosa e iluminada ode ao adorável
revivalismo há muito caído em desuso, mas que se mantém tão vivo e chamejante no
meu imaginário. Uma pérola islandesa que resvala nas fronteiras da perfeição. Deixem-se estarrecer,
embevecer e desmaiar na desmoderada excelsitude destilada por este novo
trabalho de Lucy In Blue, e reverenciem com total fascínio e rendição um
dos registos mais precisos, simétricos e virtuosos talhados este ano.
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segunda-feira, 17 de junho de 2019
domingo, 16 de junho de 2019
sábado, 15 de junho de 2019
sexta-feira, 14 de junho de 2019
Review: ⚡ Mote - 'Samalas' (2019) ⚡
Da boémia e irreverente cidade australiana
de Melbourne – residência de carismáticas referências como Ahkmed,
Child, Holy Serpent, Hotel Wrecking City Traders, Elbrus,
Buried Feather, Khan e Pseudo Mind Hive – chega-nos o
fabuloso e auspicioso álbum de estreia do quarteto Mote intitulado de ‘Samalas’.
Lançado no passado mês de Março sob a forma física de vinil (numa edição
autoral de prensagem ultra-limitada a apenas 150 cópias, (in)felizmente já
esgotadas), este seu primeiro trabalho de estúdio traz-nos a fragância astral e
os devaneios alienígenas de um hipnotizante, alucinógeno e deslumbrante Psych
Rock de criativa orientação experimental e ritmicidade pautada por
um envolvente e magnetizante Drone Rock. A sua sonoridade camaleónica
distende-se de uma paisagem desértica, cálida e árida até aos longínquos e secretos
domínios de um Cosmos distorcido, esbatido e embriagado. Numa vistosa ignição
consciencial que nos catapulta e canaliza através de um delirante vórtice,
somos absorvidos, intoxicados e atordoados por uma crescente alucinação sem destino à vista.
Entregues a um movimento pendular que tanto nos soterra numa meditativa introspecção
que climatiza o nosso Universo interior, como nos cospe violentamente na
vertiginosa direcção das costuras que amuralham o espaço sideral, somos prontamente
convertidos em astronautas à descoberta de ‘Samalas’. Deixem-se
escorregar pelas viscosas artérias desta quimérica hipnose à incrível boleia de
duas guitarras mântricas que dialogam em extasiantes, ensolarados, sublimados e
inebriantes acordes, e se repelem em solos temulentos, ácidos, coloridos e anestésicos,
um murmurante baixo de linhas onduladas, fluídas, densas e musculadas, uma
bateria criativa, arrojada e incisiva de cadência empolgante, uma voz ecoante,
messiânica e penetrante que raras vezes emerge desta saturada e psicotrópica
radiação, e ainda um fascinante sintetizador que irriga e sulfata toda a exótica
atmosfera de ‘Samalas’ com a sua intrigante, mágica e
enternecedora bafagem de odor estelar. Este é um álbum de natureza celestial que
nos sufoca a lucidez e em nós instala um profundo e duradouro estádio de total
embriaguez. Não será fácil regressar das profundezas deste deturpado, lisérgico e maravilhado
álbum de Mote que nos embaciara os sentidos e os sepultara nos mais
fundos abismos do universo onírico.