segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Review: ⚡ Kryptograf - 'The Eldorado Spell' (2022) ⚡

★★★★

Oriundos da cidade norueguesa de Bergen chegam-nos os maquiavélicos vapores nasalados pelo quarteto Kryptograf, que acaba de apresentar o seu segundo registo de longa duração. Designado ‘The Eldorado Spell’ e promovido pelo selo discográfico seu compatriota Apollon Records através dos formatos digital, CD e vinil, esta nova feitiçaria da formação nórdica replica a receita já inaugurada no fabrico do seu homónimo álbum de estreia (aqui narrado e aplaudido). Embruxado por um trevoso, intrigante, reinante e majestoso Proto-Doom de reverência ocultista e essência ritualista – sinuosamente conduzido por uma indiscreta influência Prog’ressiva que confere todo um requinte adicional às suas composições – este atraente ‘The Eldorado Spell’ contém ainda breves, mas envolventes, eruditos e eloquentes intermezzos Folk de polimento acústico, aura fabular e moldura outonal, reflexiva, lenitiva e pastoral. Norteada tanto por clássicas influências como Black Sabbath, Pentagram e Witchfinder General quanto por outras da contemporaneidade como Witchcraft, Graveyard e Dunbarrow, a sua irresistível sonoridade prende toda uma vil liturgia, onde são recitados fatídicos contos de umbrosa atmosfera Edgar Allan Poe, que nos mantém de olhos arregalados, semblante pasmado, sentidos acordados e espírito profanado. Percam-se nos heréticos, frondosos e labirínticos bosques de Kryptograf de mãos dadas a duas guitarras pagãs que se empoderam na ascensão de vultosos, fumegantes, atemorizantes e impiedosos Riffs – fervidos em chamejante e crepitante efeito Fuzz – de onde esvoaçam uivantes, ziguezagueantes, vistosos e vagueantes solos, um baixo enlutado de linhas baloiçantes, carrancudas, carregadas e magnetizantes, uma dinâmica bateria tiquetaqueada a persuasivo, fogoso, glorioso e altivo galope, e a um desigual coro vocal – de onde imergem emparelhadas e à vez a perniciosa acidez Ozzy Osbourne’eana, a cavernosa rigidez, e ainda uma melosa tez – que nos seduz, faroliza e conduz pela pesada obscuridade de ‘The Eldorado Spell’. São 45 minutos repletos de negra ofuscação, bruxuleante fantasmagoria e demoníaca sedução. Dissolvam-se de espírito escravizado nas insondáveis funduras deste invasivo, mesmérico e imersivo feitiço impossível de ser quebrado.

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 Apollon Records

domingo, 27 de fevereiro de 2022

Review: ⚡ Misleading - 'Missing' (2022) ⚡

★★★★

O irreverente quarteto português Misleading está de regresso – e em grande forma, devo antecipar – com o lançamento do seu segundo trabalho de longa duração denominado ‘Missing’ e exorcizado através do imediato formato digital (com a possibilidade de download gratuito através da sua página de Bandcamp oficial) e de uma futura edição física em CD pela mão do pequeno selo discográfico mexicano LSDR Records (calendarizada para o mês de Abril). Como acontecera com o seu antecessor, este novo álbum de Misleading vem ensombrado e atormentado por um intoxicante, selvático, canábico e alucinante Heavy Psych de mãos dadas a um pantanoso, misantrópico, distópico e nebuloso Psych Doom. A sua atordoante, nauseabunda, febril e magnetizante sonoridade – desdobrada a sónicas jam’s e locomovida a alta rotação – catapulta o ouvinte numa libertadora, vertiginosa e enlouquecedora impulsão que o sepulta nas abissais profundezas do negro solo cósmico. Simultaneamente eufórica e morfínica, esta endiabrada, esverdeada, fumarenta e centrifugada alquimia – de toxicidade a perder de vista e superiormente musicada pelos negros druidas portugueses – envolve e revolve o espírito de quem a comunga num dramático, herético e vampírico ritual de intrigante vocação pagã. No trevoso, luciférico e lodoso âmago deste ‘Missing’ gravitam uma psicótica guitarra de perversos, nocivos e distorcidos Riffs estriados por esvoaçantes, ácidos e efervescentes solos que se atropelam e dilaceram, um baixo pérsico de bafejos latejantes, saturados e hipnotizantes, uma bateria ofensiva, galopante e incisiva, ferozmente metralhada a um coice Punk, um sintetizador alienígena que vaporiza toda a atmosfera do álbum com uma aura ocultista, psicotrópica e ritualista, e ainda evanescentes vocais de ares decrépitos, crípticos e medonhos. De espalhar ainda elogiosas palavras pelo aliciante uso de samples cirurgicamente retirados de obras cinematográficas e pelo bizarro artwork – de feições esotéricas a fazer recordar uma carta de tarot – que fora cuidadosamente ilustrado pela artista Echo Echo. São 53 minutos de uma viagem desorientadora pelo lado eclipsado da religiosidade. Percam-se na infernal fantasmagoria celebrada e desprendida pelos tempestuosos Misleading, e soterrem-se na sua inflamada, sinistra e conturbada negrura com requintes de malvadez.

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 LSDR Records

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Review: ⚡ Fostermother - 'The Ocean' (2022) ⚡

★★★★

Tendo o epicentro localizado na cidade de Houston (Texas, EUA), chega até nós a monolítica, movediça e sísmica negrura ferozmente reverberada pelo poderoso power-trio Fostermother com o seu recém-lançado segundo trabalho de longa duração denominado ‘The Ocean’ e carimbado pela mão da influente companhia discográfica californiana Ripple Music nos formatos vinil, CD e digital. Fervida e enegrecida num vulcânico, massivo, invasivo e psicotrópico Stoner Doom de fosforescente tintura psicadélica e sintonizado na mesma frequência de bandas como Holy Serpent, Spelljammer, The Well, Monolord e Uncle Acid & the Deadbeats, a impactante, encarvoada, fibrada e fumegante sonoridade deste imersivo ‘The Ocean’ agiganta-se e tonifica-se num revoltoso, rumoroso e mastodôntico tsunami que varre tudo o que encontra no seu caminho. São cerca de 45 minutos – desbravados a duas velocidades contrastantes – de uma narcótica pujança que baloiça o ouvinte entre a morfínica letargia e a enérgica euforia. De olhar selado, espírito embriagado e cabeça rodopiante, somos embalados, submersos e naufragados na turbulenta ondulação de ‘The Ocean’ à empolgante boleia de uma altiva guitarra que se manifesta em resinosos, tenebrosos, espadaúdos e imperiosos Riffs corroídos e electrocutados pela crepitante distorção Fuzz, um palpitante baixo de ondeantes, hipnóticas, viris e possantes linhas desenhadas a negrito, uma explosiva bateria dinamitada a inflamada, coerciva, massuda e incisiva ritmicidade, e ainda vocais cósmicos, avinagrados, translúcidos e fantasmagóricos que assombram os cavernosos abismos deste dominante registo forjado pelo tridente texano. O condimentado e expressivo artwork – que ilustra toda uma multicolorida conflagração nos opulentos céus estelares – aponta os seus créditos autorais ao talentoso e inventivo pintor britânico RyanT. Hancock. Este é um álbum verdadeiramente intenso e demolidor. Um violento vendaval de endorfinas que nos abalroa e enevoa a lucidez. É impossível escapar disto ileso.

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 Ripple Music

Review: ⚡ Sleepwulf - 'Sunbeams Curl' (2022) ⚡

★★★★

Depois de há dois anos ter sido desoprimida a sua primeira fantasmagoria de feições pagãs (aqui escalpelizada e imoderadamente reverenciada), eis que o fascinante quarteto sueco Sleepwulf volta a abrir o temível livro de feitiçaria negra para nos narrar novos e sórdidos contos superiormente musicados. Oficialmente lançado hoje mesmo sob a alçada da fértil companhia discográfica romana Heavy Psych Sounds nos formatos vinil, CD e digital, ‘Sunbeams Curl’ atestara e extravasara as minhas já altíssimas e exigentes expectativas a ele dedicadas. Ensombrecida e maturada por um trevoso, críptico, mesmérico e majestoso Proto-Doom de fragrância vintage, palavreado erudito e vampíricas vestes Black Sabbath’icas, Witchcraft’eanas, Dunbarrow’eanas e Pentagram’icas, esta irretocável, elegante, atraente e venerável obra de longa duração – elaborada e caprichosamente celebrada pelos druidas escandinavos que, desde a sua formação, fazem do ocultismo a sua estrela orientadora – respira e transpira toda uma hipnótica, diabólica e asfixiante necromancia que nos seduz, eclipsa e conduz do primeiro ao derradeiro tema. De olhos encovados, semblante esbranquiçado e espírito enlutado, mergulhamos num profundo estádio de ébrio sonambulismo - onde são desdobrados no nosso imaginário brumosos, amarelecidos e nimbosos pântanos, tingidos a tonalidade outonal e sobrevoados por vigilantes morcegos de uma sanguinária sede infernal - sob a opressiva influência de uma guitarra avassaladora que se engrandece no içar de Riffs intrigantes, dramáticos, sorumbáticos e viciantes, e se endoidece na rocambolesca caligrafia de solos tóxicos, deslumbrantes, exuberantes e principescos, um enfático e petulante baixo de bafejos dançantes, fibrados, sombreados e protuberantes, uma acrobática bateria de provocante, desembaraçada, acurada e dinâmica ritmicidade, uma liderante voz de pele gelatinosa, ácida, frígida e bruxuleante, e ainda um momentâneo órgão de faustosa aura litúrgica que decora a emocionante, bucólica, melancólica e enfeitiçante balada “Stoned Ape”, brilhantemente orlada por uma beleza miraculosa que nos faz salivar e desmaiar de inefável prazer. São 36 minutos chefiados e farolizados por uma negra radiância que nos magnetiza, deleita e eteriza com arrojada dominância. Deixem-se cair nesta profética, irresistível e mefistofélica tentação de Sleepwulf, e comunguem com entusiástica adoração um dos mais sérios candidatos a álbum do ano. É essa, pelo menos, a mais forte convicção em mim enraizada durante a atordoante ressaca deste épico ‘Sunbeams Curl’ que me emudecera os sentidos, paralisara os membros e purificara a alma sedenta por experienciar algo assim. Alberguem-se e reconfortem-se nas suas ataráxicas trevas sem qualquer vontade delas regressar.

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 Heavy Psych Sounds

Review: ⚡ Green King - 'Rock Alley Tapes' EP (2022) ⚡

★★★★

Da cidade-capital Helsínquia chega-nos a vibrante, efervescente e atordoante ferocidade vociferada pelo impactante EP de estreia ‘Rock Alley Tapes’ do quinteto finlandês Green King. Lançado exclusivamente sob a forma digital e com carimbo autoral, este primeiro passo discográfico da turma escandinava vem munido de um fogoso, alucinante, dinâmico e estrondoso Heavy Metal de roupagem clássica e vergastado a altíssima rotação, e enegrecido por um intrigante, imperioso, musculoso e fumegante Proto-Doom de vapor pestilento e relampejado a ocultista combustão. De olhares enraivecidos, espadas desembainhadas, rédeas firmemente empunhadas e esporas ensanguentadas, estes cinco cavaleiros do apocalipse arrancam para uma furiosa, enérgica, titânica e aparatosa galopada – nutrida a electrizante explosividade – que nos atesta e inquieta de tresloucada euforia. São vinte minutos – delimitados por quatro inflamados temas – de ciclónico frenesim à enlouquecedora boleia de uma tríade de guitarras siamesas e predatórias que hasteiam ardentes, mastodônticos, enigmáticos e erodentes Riffs – flamejados pelo urticante, abrasivo e crepitante efeito Fuzz – e centrifugam virtuosos, esvoaçantes, delirantes e sinuosos solos que trepam pela sónica vertigem, um baixo hermético de nervuda, tensa, densa e sisuda reverberação que anoitece toda esta críptica atmosfera, uma expressiva bateria dinamitada a galopante, apoteótica, colérica e incisiva ritmicidade, e ainda vocais rosnantes de pele arenosa, acintosa, vulcânica e cavernosa que lideram esta endiabrada evasão. ‘Rock Alley Tapes’ representa toda uma galvanizante experiência sensorial que não deixará ninguém recostado à indiferença. Uma violenta descarga de sísmica exaltação. Cervejas ao alto, maxilares cerrados e cabeças furiosamente rodopiadas. A isso nos obriga toda a intoxicante, frenética e empolgante pujança exalada por estes combativos Green King. O primeiro grande EP de 2022 está aqui, na pasmosa estreia do colectivo finlandês. Electrocutem-se nele.

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Review: ⚡ Obsidian Sea - 'Pathos' (2022) ⚡

★★★★

De Sófia (cidade-capital da Bulgária) chega-nos o novíssimo álbum ‘Pathos’ da autoria do druídico power-trio Obsidian Sea, oficialmente lançado hoje mesmo através dos formatos de vinil, CD e digital com o carimbo editorial da prolífera discográfica californiana Ripple Music. Escudado num ritualista, enfeitiçante, intrigante e obscurantista Proto-Doom de inspiração setentista e propensão ocultista, este quarto e apaixonante registo, forjado pelos três cavaleiros búlgaros de vestes ensanguentadas, olhares hostis e lanças empunhadas, pendula entre pesadas, fogosas, imperiosas e agitadas galopadas desdobradas à boa e velha moda da New Wave of British Heavy Metal (N.W.O.B.H.M.), e entorpecidas, brumosas, ociosas e alucinadas passagens de um melancólico, reflexivo e bucólico psicadelismo com vista para as estrelas. Contando ainda com discretos laivos Progressivos, a sua mesmérica, melódica, ostensiva e vampírica sonoridade – que conjuga a demoníaca negrura de uns Black Sabbath e a enigmática diabrura de uns Witchcraft – envolve, atemoriza e revolve o ouvinte em trevosos contos de beleza fabular que – do primeiro ao derradeiro tema – o manterão de corpo paralisado, semblante esbranquiçado, pupilas dilatadas e fascinação estimulada. Submersos nesta profunda e inquebrável hipnose que nos petrifica num ofuscante estádio de sonambulismo, somos farolizados pelas danças diabrinas de uma guitarra pagã que se agiganta em arrogantes, jupiterianos, draconianos e protuberantes Riffs – afogueados em rosnante e crepitante distorção – e se dispersa na condução de solos venenosos, esvoaçantes, exuberantes e tortuosos, pela bafejante reverberação de um baixo sombrio, bombeado a linhas corpulentas, pulsantes, ondeantes e densas, pela trovejante ritmicidade de uma bateria incisiva, vergastada a enérgica ardência, e ainda pela messiânica altivez de vocais imperiais, lúcidos, avinagrados e senhoriais que capitaneiam – de forma triunfante – toda esta impiedosa cavalaria pesada. São cerca de 41 minutos intensamente ensolarados por um negro encantamento que encarvoa todas as distópicas, bucólicas e amaldiçoadas paisagens de ‘Pathos’. Deixem-se envolver e perder nas tentadoras trevas de Obsidian Sea, e baloicem a vossa alma recém-convertida ao paganismo por entre a gélida melancolia e a inflamada euforia que bipolarizam e coabitam a atmosfera deste influente registo florescido no leste europeu.

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 Ripple Music