terça-feira, 3 de março de 2020

Review: ⚡ Sleepwulf - 'Sleepwulf' (2020) ⚡

Os eremitas suecos Sleepwulf preparam-se para lançar já na próxima sexta-feira o seu muito aguardado álbum de estreia pela mão da editora discográfica dinamarquesa Cursed Tongue Records sob a forma física de vinil e em formato digital através do seu Bandcamp oficial. Herdeiro de velhas e consagradas lendas como Black Sabbath e Pentagram, bem como parente de vultosas bandas contemporâneas como Kadavar, Graveyard, Witchcraft e Dunbarrow, este fascinante quarteto natural da cidade de Kristianstad traz-nos o intrigante negrume pesadamente bafejado por um imperioso, sombreado, fibrado e poderoso Proto-Doom de vocação setentista, e a vistosa majestosidade espelhada de um esotérico, atraente, influente e luciférico Heavy Blues de requinte revivalista. A sua sonoridade enfeitiçante, pagã e provocante – de absorvente e contagiosa essência ritualista – tem o raro dom de nos dilatar as pupilas, empalidecer o rosto e enlutar a alma. De membros serpenteantes e sentidos vigilantes somos irrigados, convertidos e assombrados pelo melancólico, brumoso e enigmático misticismo de Sleepwulf. Uma dominante hipnose – sublimemente tricotada a envolventes, edénicas e comoventes baladas e possantes, monolíticas e incessantes galopadas – que nos magnetiza, canaliza e deslumbra do primeiro ao derradeiro tema. São 37 minutos sorvidos e encobertos de uma amaldiçoada liturgia de proeminente adoração ocultista grandiosamente celebrada por uma voz Bobby Liebling'eana de feição azedada, diabrina, límpida e enregelada, uma guitarra soberana e messiânica de alterosos, aprumados, ensombrados e luxuriosos Riffs de onde ocasionalmente sobressaem solos sinuosos, voluptuosos, ácidos e venenosos, um vigoroso baixo locomovido a uma reverberação pulsante, tensa, densa e ondulante, e uma incisiva bateria esporeada a uma cuidada, estimulante, dançante e criativa orientação rítmica. ‘Sleepwulf’ é um álbum verdadeiramente magistral, dotado de uma gritante e hipnotizante sensualidade que nos faz cair prontamente em ardente tentação. Deixem-se banhar de obscurantismo e canonizar nas catárticas trevas desta talentosa e auspiciosa formação nórdica, e experienciem toda esta sua épica e faustosa supremacia de indução auditiva e radiação espirituosa. Não será nada fácil conseguir exorcizar Sleepwulf de quem nele se refugiar. Seguramente um dos mais notáveis e veneráveis registos do ano está aqui, na inatacável e muito prometedora estreia de designação homónima, superiormente forjada e patenteada pelos suecos.

Sem comentários: