Review: 🐘 Lord Elephant - 'Cosmic Awakening' (2022) 🐘

★★★★

Provenientes da cidade-berço do renascentismo italiano – Florença, Toscana – chegam-nos as ondas sísmicas do tridente Lord Elephant com o seu impactante álbum de estreia ‘Cosmic Awakening’, lançado pelo influente selo discográfico romano Heavy Psych Sounds nos formatos LP, CD e digital. Formada em 2016, a banda italiana é electrificada por um vulcânico, esponjoso, venenoso e titânico Psychedelic Doom de natureza instrumental que mergulha o ouvinte nas abissais profundezas do Cosmos bocejante, penetrando a colorida poeira de fantasmagóricas nebulosas, driblando o abraço gravitacional de solitários planetas e sobreaquecendo nas aproximações a chamejantes fornalhas estelares que lampejam na eterna noite sideral. Num passo equilibrista entre a anestésica dormência e a eufórica efervescência, somos passeados pelas fascinantes atmosferas fortemente contrastadas de um álbum tanto deslumbrante e amainado quanto alucinante e conturbado. Uma enigmática, brumosa, emancipadora e propulsiva odisseia de escapismo futurista que nos assalta os sentidos e catapulta para a insondável intimidade da mística negrura que habita o lado eclipsado da Lua. Impiedosamente varrido por uma guitarra ciclónica de resinosos, fumegantes, faiscantes e monstruosos Riffs de olhar predatório – escaldados pelo chamejante e crepitante efeito Fuzz de esvoaçantes faúlhas - e hipnóticos, encaracolados, embriagados e caleidoscópicos solos de ácida luzência, imperiosamente trovejado por uma bateria ribombante de galope fluído, tribalista, enfático e encorpado, e pesadamente sombreado por um baixo ronronante de pele rugosa e linhas palpáveis, sisudas, nervudas e troantes, ‘Cosmic Awakening’ é um álbum verdadeiramente mastodôntico, ritualístico e demolidor – manobrado a contagiante dinâmica e carburado a altíssima octanagem – que não deixará ninguém de mãos nos bolsos. São 44 minutos atestados de um inflamado torpor que nos gravita, intoxica e sepulta numa poderosa, trevosa, e inescapável narcose de ambiência alienígena. Deixem-se derrotar pelas invasivas, abrasivas, vibrantes e massivas ressonâncias de Lord Elephant, e vivenciem com inquebrantável feitiço todo o pujante esplendor do seu cósmico despertar.

Links:
 Facebook
 Bandcamp
 Heavy Psych Sounds

Review: 🎹 Zeremony - 'Survivin' Rock'n'Roll' (2022) 🎹

★★★★

O tridente germânico Zeremony – localizado na cidade francónia de Würzburg, no norte da Baviera – está de regresso com o lançamento do seu novo trabalho de longa duração, intitulado ‘Survivin' Rock'n'Roll’ e promovido através dos formatos LP, CD e digital com o carimbo editorial de autor. Valvulado por um faustoso, dinâmico e cheiroso Hard Rock em íntima cumplicidade com um elegante, bem-disposto e dançante Blues Rock - de vistosos meneios progressivos e revivalista tintura psicadélica -, este quarto álbum do vibrante power-trio bamboleia-se livre e graciosamente numa atmosfera festiva, cabaresca e lasciva. A sua sonoridade sorridente, prazenteira e refrescante – de brilho setentista e jovialidade contagiante – inquieta e atesta o ouvinte de uma plena sensação de transbordante bem-estar que o climatiza e eteriza do primeiro ao derradeiro tema. São 52 minutos – compartimentados por destravadas galopadas e desassombradas baladas de tempero Pop – de um airoso e buliçoso deslumbramento conduzido pelos esvoaçantes serpenteios de um ostentoso, harmonioso e carismático órgão Hammond, costurado por uma eloquente bateria de ritmos quentes, animados e apimentados, vagueado por uma guitarra estimulante de solos psicotrópicos, ácidos e caleidoscópicos, e ajardinado pelos vocais liderantes, revigorantes e desiguais – tanto sedosos e cristalinos como rouquenhos e felinos – que agarram as rédeas e esporeiam toda esta radiante celebração musical. De espalhar ainda elogios pelo vívido portal de vitrais góticos – superiormente ilustrado pelo artista alemão Christian Krank – que pavimenta o estético artwork do disco, conferindo-lhe uma aura litúrgica. ‘Survivin' Rock'n'Roll’ é um álbum cerimonioso de fácil digestão e imediata afeição que nos incendeia de um entusiasmo desregrado. Uma exótica folia de indumentária aristocrática que nos agarra pelos colarinhos e impele a dançá-la com inquebrável entrega.

Links:
 Facebook
 Bandcamp

Review: 🥚 Birth - 'Born' (2022) 🥚

★★★★

Depois de em 2019 ter nascido o homónimo EP de estreia (aqui louvado e seguidamente aqui galardoado com o título de melhor registo de curta duração desse mesmo ano), floresce agora o muitíssimo aguardado primeiro álbum desta talentosa banda californiana – com residência na cidade costeira de San Diego – que alberga conceituadíssimos músicos trazidos de influentes bandas como Astra, Psicomagia e Sacri Monti. Lançado sob a alçada da companhia discográfica londrina Bad Omen Records através dos formatos LP, CD e digital, ‘Born’ vem povoado pela regravação dos três temas originalmente publicados no EP de estreia e outros novos três temas nunca antes desembrulhados. De influências apontadas a históricas referências dos universos Progressivos italiano e britânico que ornamentaram a dourada década de 1970 – como Premiata Forneria Marconi, Le Orme, Banco del Mutuo Soccorso, Osanna, Reale Accademia di Musica, Pink Floyd, Camel, King Crimson, YES e Emerson, Lake & Palmer –, este impressionante primeiro trabalho de longa duração do quarteto é superiormente navegado por um imaginativo, cerebral, imperial e expressivo Progressive Rock de colorida efervescência de textura psicadélica e apurada acuidade jazzística que tanto se espreguiça em arejadas, melancólicas, anestésicas e desanuviadas passagens de etéreo misticismo fabular, como se agita e gravita em estonteantes, dramáticos, enfáticos e vibrantes rebuliços instrumentais de desarmante beleza cinematográfica. De olhar deslumbrado e cravado nos longínquos viveiros estelares que deflagram o acetinado negrume cósmico, somos levitados numa gratificante, maravilhosa, fantasiosa e purificante odisseia de consagração sensorial e validade intemporal. Matematizado por audaciosas composições de majestosos arranjos, ‘Born’ é remexido numa dialogante sinergia sublimemente lavrada por uma guitarra endeusada de pomposos, cheirosos e encaracolados Riffs de onde esvoaçam solos trepidantes, alucinantes e invertebrados, um baixo vagueante de linhas baloiçantes, fluídas e enleantes, uma desembaraçada bateria cuidadosamente tiquetaqueada a acrobática precisão e flamejante comoção, uma voz melosa, aveludada e melodiosa de luzência espectral, e ainda toda uma miraculosa profusão de teclados elegíacos que se hasteiam em comoventes coros angelicais e enfeitiçantes mugidos oníricos. A detalhada, elaborada e primorosa ilustração que confere rosto a esta obra-prima do Prog Rock contemporâneo pertence ao prendado artista norte-americano David D’Andrea. Este é um álbum cozinhado a cintilante docilidade e principesca sagacidade que preenchera e transbordara as minhas medidas. Um registo inteiramente arquitectado e executado à minha imagem. Um dos mais fortes candidatos à qualidade de álbum do ano está aqui, na poderosa, epopeica e esplendorosa magnificência de Birth. Ofusquem-se nele.

Links:
 Facebook
 Bandcamp
 Bad Omen Records

Review: 🛰 Acid Rooster - 'Ad Astra' (2022) 🛰

★★★★

Depois do registo ao vivo ‘Live at Desi’ (review aqui), do estreante álbum de estúdio ‘Acid Rooster’ (review aqui) e do primeiro EP ‘Irrlichter’ (review aqui), o tridente alemão Acid Rooster prossegue a sua fantástica odisseia discográfica com o novíssimo álbum ‘Ad Astra’, lançado em formato digital e vinil através da Cardinal Fuzz (responsável pela distribuição no Reino Unido), Sunhair (responsável pela distribuição em território europeu) e Little Cloud Records (responsável pela distribuição nos EUA). De olhos postos nas estrelas, ‘Ad Astra’ é oxigenado por um viajante, deslumbrante e arejado Space Rock, um hipnótico, místico e serpenteante Krautrock de repetitiva e imersiva cadência Drone, e ainda um colorido, esbatido e alucinógeno Psychedelic Rock. Texturizado por uma envolvente tapeçaria psicotrópica de indiscretas semelhanças com a exótica radiância dos dinamarqueses Causa Sui e Papir, e embrumado por um experimentalismo espacial a fazer lembrar as enfeitiçantes alquimias do cosmonauta germânico Sula Bassana, este novo álbum de Acid Rooster eteriza e desenraíza o ouvinte da gravidade terrestre, canalizando-o pela boca adentro do Cosmos bocejante. Desorientados e à deriva na vacuidade sideral, somos sepultados nos abismos de uma reflexiva e inquebrável narcose que nos tombará as pálpebras e rodopiará a cabeça num lento movimento orbital. De sentidos hibernados e engolidos por uma morfínica sonolência, vagueamos pela intimidade de fantasmagóricas nebulosas, driblamos solitários astros sem pulso cardíaco, e nos enlutamos na espessa e acetinada pretura que banha a eterna noite cósmica. São 46 minutos – compartimentados por duas longas e desiguais faixas – de diluviana radiação mântrica emanada por um enigmático sintetizador de eflúvios alienígenas, uma ecoante guitarra de devaneios pérsicos, um baixo esponjoso de linhas quentes, e uma magnética bateria de batida imutável. ‘Ad Astra’ é um disco meditativo, letárgico e nirvânico que nos empoeira e cega de fuligem estelar. Uma desorientadora, reconfortante, sublimada e transformadora expedição com destino ao desconhecido e sem garantias de regresso.

Links:
 Facebook
 Bandcamp