quarta-feira, 31 de julho de 2019

Review: ⚡ Acid Rooster - 'Acid Rooster' (2019) ⚡

Depois de em 2017 ter vertido para o universo lírico tudo o que o surpreendente 'Live at Desi' (review aqui) provocara em mim, os cosmonautas germânicos Acid Rooster motivam agora nova dissertação elogiosa ao seu primeiro álbum de estúdio. De designação homónima e acabado de ser lançado sob a forma física de vinil (reduzido a uma edição limitada a 300 cópias existentes) através da sua página de Bandcamp, este quimérico ‘Acid Rooster’ vem nutrido de um místico, etéreo, contemplativo e hipnótico Krautrock em harmoniosos, constantes e libidinosos diálogos com um intrigante, desvairado, embriagado e viajante Space Rock de propensão estelar. A sua sonoridade deslumbrante, maviosa, aventurosa e narcotizante tem o dom de nos enfeitiçar, escorregar e mergulhar nas profundezas abissais do nosso Cosmos interior, embarcando numa labiríntica e duradoura hipnose que nos rasga as vestes da lucidez e infesta de uma intensa e febril embriaguez. Progredindo de uma anestésica, plácida e letárgica atmosfera que nos desmaia as pálpebras, tomba o semblante de encontro ao peito e submerge na intimidade da ataraxia, até aos territórios de um delirante, caótico e euforizante experimentalismo sónico que nos liberta e propulsiona na vertiginosa direcção dos astros, as jams extraplanetárias deste tridente natural da cidade de Leipzig causaram em mim todo um catártico estádio de crescente fascinação impossível de extinguir. Suspensos e imortalizados numa dança gravitacional em órbita de um incessante transe espiritual, somos embalados na infindável vertigem de uma admirável odisseia pelos secretos domínios que se distendem para lá lado eclipsado da Lua. Na origem desta sagrada levitação do ego pela infinidade vertical está uma endeusada guitarra canonizada pelas estrelas que se supera na majestosa condução de intoxicantes, ácidos, distorcidos e ecoantes solos, um magnetizante baixo de reverberação pulsante, motorizada, tonificada e flutuante, um enigmático sintetizador que desprende todo um profuso e difuso coro celestial, e uma bateria de galope imutável, relaxante, tribalista e imperturbável que se debate por entre a densa e tóxica nebulosidade de ‘Acid Rooster’. Num plano secundário é-me ainda importante distinguir a efémera presença de um vistoso, exótico e aparatoso saxofone que com os seus aveludados, uivantes e desgovernados bailados intensifica todo um acalorado, orgiástico e sublimado clímax de puro cataclismo instrumental. Este é um álbum de propriedades psicotrópicas que perpetua o ouvinte num paradisíaco atordoamento capaz de o embevecer e embaciar do primeiro ao derradeiro minuto. Não será nada fácil despertar deste verdadeiro sonho acordado.

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