Depois de em 2017 ter vertido
para o universo lírico tudo o que o surpreendente 'Live at Desi' (review
aqui) provocara em mim, os cosmonautas germânicos Acid Rooster
motivam agora nova dissertação elogiosa ao seu primeiro álbum de estúdio. De
designação homónima e acabado de ser lançado sob a forma física de vinil (reduzido
a uma edição limitada a 300 cópias existentes) através da sua página de Bandcamp,
este quimérico ‘Acid Rooster’ vem nutrido de um místico, etéreo, contemplativo
e hipnótico Krautrock em harmoniosos, constantes e libidinosos diálogos
com um intrigante, desvairado, embriagado e viajante Space Rock de
propensão estelar. A sua sonoridade deslumbrante, maviosa, aventurosa e
narcotizante tem o dom de nos enfeitiçar, escorregar e mergulhar nas
profundezas abissais do nosso Cosmos interior, embarcando numa labiríntica e
duradoura hipnose que nos rasga as vestes da lucidez e infesta de uma intensa e
febril embriaguez. Progredindo de uma anestésica, plácida e letárgica atmosfera
que nos desmaia as pálpebras, tomba o semblante de encontro ao peito e submerge
na intimidade da ataraxia, até aos territórios de um delirante, caótico e
euforizante experimentalismo sónico que nos liberta e propulsiona na
vertiginosa direcção dos astros, as jams extraplanetárias deste
tridente natural da cidade de Leipzig causaram em mim todo um catártico estádio
de crescente fascinação impossível de extinguir. Suspensos e imortalizados numa
dança gravitacional em órbita de um incessante transe espiritual, somos
embalados na infindável vertigem de uma admirável odisseia pelos secretos domínios
que se distendem para lá lado eclipsado da Lua. Na origem desta sagrada
levitação do ego pela infinidade vertical está uma endeusada guitarra canonizada
pelas estrelas que se supera na majestosa condução de intoxicantes, ácidos,
distorcidos e ecoantes solos, um magnetizante baixo de reverberação pulsante,
motorizada, tonificada e flutuante, um enigmático sintetizador que desprende
todo um profuso e difuso coro celestial, e uma bateria de galope imutável, relaxante,
tribalista e imperturbável que se debate por entre a densa e tóxica
nebulosidade de ‘Acid Rooster’. Num plano secundário é-me ainda importante
distinguir a efémera presença de um vistoso, exótico e aparatoso saxofone que
com os seus aveludados, uivantes e desgovernados bailados intensifica todo um
acalorado, orgiástico e sublimado clímax de puro cataclismo instrumental. Este
é um álbum de propriedades psicotrópicas que perpetua o ouvinte num paradisíaco
atordoamento capaz de o embevecer e embaciar do primeiro ao derradeiro minuto.
Não será nada fácil despertar deste verdadeiro sonho acordado.
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