terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Review: ⚡ Birth - 'Birth' EP (2019) ⚡

Da irreverente cidade costeira de San Diego (Califórnia, EUA) chega-nos mais uma relíquia sonora e um dos registos – por mim – mais aguardados do ano. ‘Birth’ é o mavioso EP de estreia do virtuoso colectivo dado pelo mesmo nome de Birth – fundado em 2017 e que combina membros das saudosas e carismáticas bandas locais Astra e Psicomagia – que conhecera finalmente e muito recentemente a luz do dia através do produtivo e insuspeito selo discográfico nova-iorquino Tee Pee Records exclusivamente em formato digital através das mais variadas plataformas digitais. De velas hasteadas e capitaneadas ao sabor de um edénico, envolvente, eloquente e exótico Prog Rock de inspiração fielmente trazida dos dourados anos 70, e em ardente cumplicidade com um talentoso, carnavalesco, romanesco e charmoso Jazz-Fusion de sensibilidade, desenvoltura e elegância revivalistas, ‘Birth’ enfatiza-se e notabiliza-se como um dos mais atraentes registos lançados no presente ano. Fruto de uma requintada, cuidada, perspicaz e ornamentada composição – a fazer recordar uma impactante fusão entre os dois colossos londrinos YES e Emerson, Lake & Palmer – que nos mantém de olhar arregalado, ouvidos salivantes e espírito capturado por um firme estádio de plena fascinação, a purificante, rica, estética e deslumbrante sonoridade de Birth passeia-se e galanteia-se livre e graciosamente pelas ensolaradas, bucólicas e sublimadas planícies de uma realidade conjugada no pretérito. São cerca de 22 minutos de duração – onde convivem três temas de essência aparentada – que nos cortejam e enfeitiçam com ofuscante intensidade. De sentidos embebidos na desarmante sagacidade instrumental, somos hipnotizados e estimulados por uma majestosa guitarra de harmoniosos, aristocráticos, feéricos e fabulosos acordes que acabam a desaguar na arrebatadora excentricidade dos seus solos condimentados e conduzidos a irretocável lubricidade, um volumoso e sombreado baixo estoicamente compenetrado nas suas linhas afáveis, pulsantes, magnetizantes e maleáveis, um enigmático, pomposo e mágico teclado que se adensa nas asas dos seus litúrgicos bailados, uma bateria soberbamente jazzística de toque polido, cintilante, inventivo e estimulante que pendula entre delicados momentos de profunda mansidão e excitantes acrobacias de circense comoção, e ainda uma melódica voz de presença desinibida mas efémera que completa na perfeição toda esta catártica ostentação de Birth. O caprichado artwork que confere rosto a esta irrepreensível estreia do próspero quarteto californiano é da singular autoria do hábil, consagrado e inimitável ilustrador norte-americano Arik Roper (que se celebrizara ao serviço de vultosas referências como Sleep, High On Fire, Astra, Mammatus, Earth e Windhand). Sendo eu um intratável e insaciável consumidor do Prog Rock desenterrado dos 60’s e 70’s, não poderia deixar passar este EP despercebido. Estamos mesmo na presença de um registo imaculado que apenas peca pela sua curta duração. Um EP executado a uma maestria lapidar que seguramente não deixará nenhum dos seus ouvintes recostado à indiferença. Provavelmente o mais forte candidato a EP do ano. É – pelo menos – essa a inabalável convicção que a ressaca de ‘Birth’ instalara e imortalizara em mim.

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