Da irreverente cidade
costeira de San Diego (Califórnia, EUA) chega-nos mais uma
relíquia sonora e um dos registos – por mim – mais aguardados do ano. ‘Birth’
é o mavioso EP de estreia do virtuoso colectivo dado pelo mesmo nome de Birth
– fundado em 2017 e que combina membros das saudosas e carismáticas bandas locais
Astra e Psicomagia – que conhecera finalmente e muito
recentemente a luz do dia através do produtivo e insuspeito selo discográfico
nova-iorquino Tee Pee Records exclusivamente em formato digital através
das mais variadas plataformas digitais. De velas hasteadas e capitaneadas ao
sabor de um edénico, envolvente, eloquente e exótico Prog Rock de
inspiração fielmente trazida dos dourados anos 70, e em ardente cumplicidade com
um talentoso, carnavalesco, romanesco e charmoso Jazz-Fusion de sensibilidade,
desenvoltura e elegância revivalistas, ‘Birth’ enfatiza-se e
notabiliza-se como um dos mais atraentes registos lançados no presente ano. Fruto
de uma requintada, cuidada, perspicaz e ornamentada composição – a fazer
recordar uma impactante fusão entre os dois colossos londrinos YES e Emerson,
Lake & Palmer – que nos mantém de olhar arregalado, ouvidos salivantes e
espírito capturado por um firme estádio de plena fascinação, a purificante,
rica, estética e deslumbrante sonoridade de Birth passeia-se e
galanteia-se livre e graciosamente pelas ensolaradas, bucólicas e sublimadas
planícies de uma realidade conjugada no pretérito. São cerca de 22 minutos de
duração – onde convivem três temas de essência aparentada – que nos cortejam e
enfeitiçam com ofuscante intensidade. De sentidos embebidos na desarmante sagacidade
instrumental, somos hipnotizados e estimulados por uma majestosa guitarra de harmoniosos,
aristocráticos, feéricos e fabulosos acordes que acabam a desaguar na arrebatadora
excentricidade dos seus solos condimentados e conduzidos a irretocável lubricidade,
um volumoso e sombreado baixo estoicamente compenetrado nas suas linhas afáveis,
pulsantes, magnetizantes e maleáveis, um enigmático, pomposo e mágico teclado que
se adensa nas asas dos seus litúrgicos bailados, uma bateria soberbamente jazzística
de toque polido, cintilante, inventivo e estimulante que pendula entre delicados
momentos de profunda mansidão e excitantes acrobacias de circense comoção, e
ainda uma melódica voz de presença desinibida mas efémera que completa na
perfeição toda esta catártica ostentação de Birth. O caprichado artwork
que confere rosto a esta irrepreensível estreia do próspero quarteto
californiano é da singular autoria do hábil, consagrado e inimitável ilustrador
norte-americano Arik Roper (que se celebrizara ao serviço de vultosas referências
como Sleep, High On Fire, Astra, Mammatus, Earth e Windhand).
Sendo eu um intratável e insaciável consumidor do Prog Rock desenterrado
dos 60’s e 70’s, não poderia deixar passar este EP despercebido. Estamos
mesmo na presença de um registo imaculado que apenas peca pela sua curta
duração. Um EP executado a uma maestria lapidar que seguramente não
deixará nenhum dos seus ouvintes recostado à indiferença. Provavelmente o mais
forte candidato a EP do ano. É – pelo menos – essa a inabalável convicção
que a ressaca de ‘Birth’ instalara e imortalizara em mim.
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