Três anos depois do seu portentoso
álbum de estreia (designado ‘Hymns’, e aqui devidamente
desconstruído e imensamente elogiado) ter saído à rua, o exótico quarteto
australiano Jack Harlon & The Dead Crows – localizado na artística cidade
de Melbourne – ressurge agora com a muito ansiada apresentação do seu
novo trabalho ‘The Magnetic Ridge’, oficial e integralmente lançado
hoje mesmo nos formatos físicos de vinil (pela mão da editora local Psychedelic
Salad Records) CD e cassete (estes com o carimbo editorial do selo
norte-americano Forbidden Place Records). Repetindo a bem-sucedida receita
usada na génese do primeiro álbum, este imersivo, apaixonante, impactante e criativo ‘The
Magnetic Ridge’ vem ensolarado, nutrido e flamejado por um intoxicante,
arenoso, lustroso e electrizante Heavy Psych que – de forma indiscreta e
fluída – desagua numa bifurcação que separa as paradísicas praias de um deslumbrante,
caleidoscópico, hipnótico e purificante Psychedelic Rock banhado a
intensa luzência solar, dos encarvoados pântanos embrumados por um intrigante, trevoso,
fibroso e aliciante Psychedelic Doom de coloração nocturna. Sintonizado
na mesma frequência dos norte-americanos All Them Witches e King Buffalo, dos germânicos Colour Haze, e ainda dos saudosos canadianos Quest for Fire, o segundo capítulo destes
místicos cowboys australianos vem ainda embelezado por arejados, meditativos
e aromatizados interlúdios de natureza Folky que nos
remetem para os solitários desertos do velho oeste. Num perfeito equilíbrio entre
a profunda imersão numa morfínica, labiríntica e atordoante hipnose que nos atesta
de febril embriaguez, e a enlouquecedora, efervescente e libertadora euforia que
nos sobreaquece de um ardor vulcânico e rasga as vestes da lucidez, galopamos as
desérticas planícies que se descortinam por entre a densa poeira cósmica deste ‘The
Magnetic Ridge’ completamente absorvidos pela sua feitiçaria xamânica. Na sagrada composição de toda esta empolgada, extasiante e embriagada paranoia deambulam
livremente duas guitarras endeusadas que se envaidecem na edificação de serpenteantes,
venenosos, poderosos e excitantes Riffs distorcidos e encrostados a
crocante efeito Fuzz, e na sónica condução de selváticos enxames de uivantes,
fugidios, escorregadios e borbulhantes solos, uma voz avinagrada, ecoante,
escarpada e liderante que pendula entre a inflamada rispidez e a gélida
placidez, um baixo motorizado – soberbamente groovy – de onduladas, oleadas,
magnéticas e estéticas linhas pesadamente bafejadas, e uma bateria expressiva –
esporeada a duas velocidades contrastadas – que tanto metralha de forma bélica e
tempestuosa os momentos de saturada explosividade, como tiquetaqueia com polido
requinte as passagens mais bonanceiras do disco. O fantástico artwork de
feições necrológicas que confere rosto a este álbum verdadeiramente épico pertence
ao inconfundível ilustrador Adam Burke (aka Nightjar Illustration). Se deste regresso de Jack Harlon & The Dead Crows
eu muito esperava, tudo ele me deu. ‘The Magnetic Ridge’ é um
registo incrivelmente híbrido que tanto nos centrifuga numa psicótica espiral
de emoções à flor da pele, como esbate numa entorpecida lisergia oxigenada a LSD.
Estamos mesmo na honrosa presença de uma obra genuinamente piramidal que aponta aos
mais elevados lugares da listagem que condecorará os melhores álbuns
florescidos em 2021. Embarquem destemidamente nesta quimérica odisseia de estimulação sensorial e glorificação espiritual sem destino predefinido e regresso garantido.
Links:
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➥ Bandcamp
➥ Forbidden Place Records
➥ Psychedelic Salad Records
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