Da cidade australiana de Bendigo (localizada no estado de Victoria) chega-nos ‘Hymns’,
o prodigioso álbum de estreia da fascinante formação Jack Harlon & The Dead Crows. Lançado muito recentemente em
formato físico de vinil (numa edição ultra-limitada a 250 cópias existentes) e
em formato digital através da sua página oficial de Bandcamp, este primeiro trabalho de longa duração vem embebido num
carnavalesco sortido de sonoridades de onde sobressai um delirante, ácido e
intoxicante Heavy Psych, um quente,
enigmático e dançante Surf Rock, um
vigoroso, atraente e ostentoso Heavy
Blues e ainda um nebuloso, morfínico e pantanoso Psych Doom. Um álbum composto por uma narrativa complexa, mas
imensamente progressiva e cativante, que se desenvolve de um reluzente,
bronzeado e ofuscante deserto calejado pelo Sol vigilante ao mais profundo e
vertiginoso negrume do solo cósmico. Acompanhem esta encantadora digressão
destes quatro cowboys de coldre
desapertado e instrumentos empunhados, e deixem-se empoeirar e sublimar pela
misticidade western’eana que climatiza
a ambiência sonora de ‘Hymns’. É de pés descalços
atravessando longos desertos de areias aveludadas, fervilhantes e laranjadas, e
cabeceando os mais longínquos astros perpetuados na imensa vacuidade do
território sideral que nos passeamos e deslumbramos ao longo deste majestoso
álbum. Deixem-se enlevar e intoxicar pelos exuberantes, coloridos e
extravagantes bailados de duas guitarras embriagadas que vomitam solos
borbulhantes, alucinógenos e trepidantes, e se amuralham na criação de
intrigantes, extraordinários e inflamantes riffs.
Pendulem o vosso corpo pesado e temulento na instintiva resposta à reverberante
ondulação exalada de um baixo detidamente entregue a linhas sussurrantes,
robustas, densas e absorventes. Desatem a vossa cabeça embaciada à redentora
boleia de uma bateria soberbamente movida a potência, dinamismo e efervescência,
e deixem-se desmaiar e mergulhar na penetrante toxicidade trazida à tona desta
intensa narcose por uma voz ecoante, distorcida, avinagrada e hipnotizante. De
destacar ainda pela positiva o burlesco e colorido artwork – a fazer lembrar a arte que tão bem maquilha e embeleza os dois álbuns da
saudosa banda canadiana Quest For Fire
– brilhantemente pintado pelo inconfundível e inimitável Adam Burke. Este é um álbum tremendamente encantador que nos mantém
a ele atrelados do primeiro ao derradeiro tema. Uma verdadeira hipnose na qual
escorregamos e dificilmente regressamos. Um dos meus álbuns favoritos de 2018
está aqui, na arrebatadora e lodacenta alma de ‘Hymns’. Sujem-se na sua viscosa
magia.
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