Review: ⚡ Madmess - 'Madmess' (2019) ⚡

Madmess – um jovem power-trio português emigrado na cidade inglesa de Londres – acaba de lançar o seu impactante álbum de estreia ‘Madmess’ através da plataforma Bandcamp e unicamente em formato digital para download. Fundamentado num meditativo, místico e lenitivo Psych Rock que se fortalece, sombreia, enlameia e metamorfoseia num electrizante, sublime e alucinante Heavy Psych de natureza instrumental e propensão astral, este seu primeiro registo de longa duração – consequência de dois anos de trabalho focado e inspirado – causa no ouvinte todo um profundo estádio de êxtase e fascinação que de forma progressiva e subtil se desenvolve para uma polvorosa comoção de redentora euforia e exaltação. A sua sonoridade desmesuradamente encantadora e provocante – essencialmente sustentada em envolventes, fabulosas e ostentosas Jam’s que nos desenterram da gravidade terrestre e fazem cabecear os mais longínquos e solitários astros que farolizam o aveludado negrume cósmico – passeia-se e incendeia-se numa vertiginosa odisseia a velocidades e horizontes diferenciados. Num admirável equilíbrio emocional entre a anestésica, sedutora e nirvânica mansidão, e a efervescente, frenética e intoxicante excitação, somos raptados e enfeitiçados por uma guitarra magnética que se vangloria em refinados, comoventes, ardentes e condimentados riffs, e se exalta em atordoantes, desenfreados, ácidos e instigantes solos, um possante baixo de reverberação maciça que se orienta a linhas pujantes, fibróticas, hipnóticas e bafejantes, e uma apimentada bateria locomovida a uma intensa e vigorosa fogosidade. De destacar e louvar ainda o majestoso artwork – levado a cabo pela talentosa ilustradora portuguesa Lory Cervi – que embeleza o rosto deste ‘Madmess’ com um transponível portal capaz de nos imanizar para as caóticas e enigmáticas paisagens de um Cosmos palpitante. São cerca de 34 minutos – estruturados pelos quatro longos temas que os ornamentam – lavrados e saturados por uma absorvente misticidade que me embaciara e sufocara a lucidez, e hasteara as velas da consciência ao sabor dos celestiais ventos que mareiam toda a imensidão sideral de Madmess. Chego ao final do derradeiro tema de alma completamente pasmada e arrebatada pela etérea beleza que este álbum encerra. Um perfeito refém em orbita da sua poderosa gravidade. E é ainda de sentidos inebriados e cambaleantes que aponto esta incrível estreia de Madmess aos mais elevados lugares da listagem onde habitam os mais distintos registos lançados em 2019. ‘Madmess’ é uma portentosa e inolvidável experiência sonora à qual ninguém se deve negar. Que álbum!

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Review: ⚡ Auramental - 'Auramental' (2019) ⚡

Do outro lado do oceano Atlântico chega-nos o psicadelismo sideral e tropical dos brasileiros Auramental com a promoção do seu tão aguardado álbum de estreia (e que estreia! - devo antecipar). De denominação homónima e lançado no passado dia 17 de Maio em formato digital através da sua página de Bandcamp oficial, este ‘Auramental’ representa a sinopse que baliza a iminente meia década de actividade alcançada por este talentoso quarteto localizado na veraneia cidade de Rio de Janeiro. Resultada de uma bem-sucedida fusão entre um delirante, envolvente, alucinógeno e atordoante Heavy Psych com pontuais evoluções e aproximações ao arrastado, pesado e tenebroso Psych Doom, um serpenteante, ritmado, ensolarado e refrescante Surf Rock de indiscreta vocação sessentista, e ainda um ambiental, meditativo, imersivo e celestial Krautrock climatizado e aureolado por um misticismo oriental, a magnetizante, sublimada e deslumbrante sonoridade de ‘Auramental’ narcotiza e canaliza o ouvinte para uma profunda e vertiginosa hipnose que o embalará e massajará ao longo dos quatro temas que habitam o álbum. À adorável boleia das suas evolutivas, sedutoras e criativas jam’s de natureza instrumental e destreza excepcional, somos fascinados e içados até aos mais edénicos estados mentais onde o nosso ego se bronzeia, esperneia e regozija. Toda uma maravilhosa e deleitosa odisseia espiritual que nos catapulta pela misteriosa intimidade do lado secreto e eclipsado do nosso Cosmos interior. Deixem-se embevecer, extasiar e endoidecer pela exótica e diluviana toxicidade libertada por duas guitarras sensacionais que se exteriorizam em voluptuosos, lenitivos, deslumbrantes e apetitosos acordes, e descarrilam em ziguezagueantes, ácidos, alucinados e mirabolantes solos sem qualquer organização lógica, um enigmático baixo capitaneado a linhas murmurantes, fluídas, hipnóticas e dançantes, e uma bateria entusiasta e diligente que tiquetaqueia com perícia, imaginação e emoção toda esta portentosa erupção consciencial. ‘Auramental’ escancara as portas da nossa percepção e convida-nos a um ousado mergulho na infinidade espiritual. Sintam-se verter e diluir nesta visceral efervescência – tricotada e colorida a um febril e ofuscante psicadelismo de textura distorcida que prontamente nos esvazia a lucidez e atesta de embriaguez – e testemunhar na primeira pessoa uma das mais épicas divagações psíquicas da vossa existência. Não vai ser nada fácil regressar deste extraordinário álbum e recuperar da duradoura ressaca que o mesmo enraizara em mim.

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Review: ⚡ Travo - 'Ano Luz' (2019) ⚡

Nos últimos dez anos Portugal testemunhara um crescimento exponencial no que ao aparecimento e sustento de novas bandas ligadas ao lado underground da música Rock diz respeito, e hoje vive-se toda uma cúmplice conjugação entre a diversidade e a qualidade, saciando até os mais exóticos gostos dos ouvidos lusitanos. E é nesse contexto de amor e vaidade próprios que a música Rock nacional ostenta que aponto os holofotes para o quarteto bracarense Travo e verto para o universo lírico tudo aquilo que o seu recém-nascido álbum de estreia em mim provocara. Lançado no passado dia 25 de Maio através da sua página de Bandcamp e unicamente em formato digital, ‘Ano Luz’ encerra um eloquente sortido sonoro de onde sobressai um deslumbrante, atmosférico e envolvente Psych Rock de indiscretas aproximações a um narrativo Post-Rock de natureza cinematográfica, um meditativo, hipnotizante e imersivo Krautrock e ainda um viajante, alienígena e entusiasmante Space Rock. A sua musicalidade de propensão astral tem o dom de enfeitiçar e exorcizar a nossa espiritualidade, desprendendo-a da gravidade consciencial e derramando-a pela vasta vacuidade de um Cosmos sonolento e solitário. Uma digressão evolutiva pelos maravilhosos firmamentos celestiais, onde chamejantes fornalhas estelares farolizam e magnetizam a nossa atenção, e índigos e gélidos cometas golpeiam de luz todo o intenso negrume que encobre a infinidade espacial. Deixem-se embalar e fascinar por toda esta odisseia galáctica à adorável boleia de duas guitarras endeusadas que se atam em extasiantes, sublimes e cativantes riffs, e desatam em delirantes, ácidos, alucinógenos e atordoantes solos, um baixo compenetrado e carregado a linhas murmurantes, leves, fluídas e oscilantes, uma ardente bateria de ritmicidade destravada, expansiva e descomplicada, um mágico sintetizador de idioma alienígena que perfuma e sulfata toda esta atmosfera com uma embriagante e intrigante dosagem de experimentalismo e exotismo sónico, e ainda uma harmoniosa, espectral e sedosa voz – de contornos proféticos e poéticos a fazer lembrar José Cid ao volante do seu mítico ‘10.000 anos depois entre Vénus e Marte’ – que apenas floresce já no último suspiro do derradeiro tema que encerra este magnífico ‘Ano Luz’. De destacar e aclamar ainda o fantástico artwork de créditos apontados ao artista português Guilherme Dourart que interpretara com perfeita exatidão tudo o que a música de Travo concebe e alimenta no imaginário do ouvinte: a gloriosa e redentora eclosão da alma pela vertiginosa verticalidade do universo, deixando para trás um corpo completamente inanimado e arrebatado. Este é um álbum verdadeiramente comovente que tanto nos paralisa e eteriza de uma doce e febril inércia, como nos atesta e infesta de uma intensa e incontida euforia. Sintam-se dissolver e perecer nas profundezas siderais de ‘Ano Luz’, e converter em destemidos astronautas do vosso Cosmos interior. Um autêntico bálsamo para todos os nossos membros e sentidos.

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Review: ⚡ Dan's Revival - 'Back On Track' (2019) ⚡

Da pequena e pacata cidade transmontana de Mirandela chega-nos ‘Back On Track’, o auspicioso álbum de estreia do jovem power-duo Dan’s Revival. Lançado muito recentemente através da sua página oficial de Bandcamp sob a forma física de CD (reduzido a uma ultra-limitada edição de crédito autoral) e em formato digital, este primeiro trabalho de longa duração – concebido por estes dois irmãos de sangue – exala um dançante, quente, radiofónico e empolgante Garage Blues de produção lo-fi que resulta de um equilíbrio de influências entre velhas lendas do rudimentar Delta-Blues como Robert Johnson, Son House e Muddy Waters, e algumas das mais incontornáveis referências modernas do Blues Rock como Seasick Steve, The Picturebooks e The Black Keys. A sua sonoridade animada, irreverente e ritmada – de fácil audição e consequente digestão – causa no ouvinte uma forte sensação de empolgamento e sedução que se intensifica de tema para tema, culminando no derradeiro – e aos meus ouvidos, o seu mais consumado e singular tema – “Twenties”. À boleia de uma guitarra que se serpenteia e envaidece em inquietantes, fogosos, oleosos e excitantes riffs e se encrespa e incendeia na libertação e condução de gritantes, uivantes, ácidos e inflamantes solos, a trote de uma bateria galopante que com as suas despachadas, descomplicadas e emocionantes investidas esporeia e empola todas as notas da guitarra, e absorvidos por uma voz de tonalidade monocórdica, jovial e refrescante, somos viajados pelas poeirentas estradas do Arizona, de punhos cerrados no volante de um turbulento, agressivo e barulhento muscle car e olhar ancorado num esbatido e ensolarado firmamento desértico que se desdobra repetidamente. Toda uma dialogante e contagiante cumplicidade musical entre estes dois jovens músicos que persistem em hastear e agitar a bandeira do bom e velho Blues para gáudio daqueles que – tal como eu – há muito se converteram em devotos discípulos deste género lavrado nas margens do rio Mississippi. De forma instintiva, desmaiem as pálpebras, desenhem um sorriso no rosto, balanceiem a cabeça de ombro a ombro, e batam o pé, compassando a tocante e redentora ritmicidade e intensa fogosidade que este ‘Back On Track’ encerra. É demasiado fácil vibrar com a vivacidade, fervura e expressividade de Dan’s Revival, e considerar este seu álbum de estreia como um dos mais cativantes registos de origem portuguesa lançados até ao momento em 2019. Dancem-no de forma sentida, extravagante e desinibida, ou não fosse esse o primordial mandamento deste dueto mirandelense.

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Review: ⚡ Jordsjø - 'Nattfiolen' (2019) ⚡

Da cidade-capital de Oslo (na Noruega) chega-nos o recém-nascido novo álbum do quarteto Jordsjø. Designado de ‘Nattfiolen’ e lançado hoje mesmo sob a forma física de CD e vinil (este último bifurcado em duas edições ultra-limitadas), adjectiva-se como o resultado de uma devota inspiração que se distende do cinema clássico de horror, passando pela cena germânica Progressiva dos 70’s, pelo misticismo dos contos fantásticos, a frondosa natureza norueguesa e desaguando na emblemática mitologia de origem nórdica. A sua sonoridade revivalista, adorável e fantasista sobrevoa os envolventes domínios de um encantador Prog Folk – orquestrado e condimentado a uma apurada habilidade e sensibilidade – que me prendera e namorara com expressiva vitalidade. Recostem-se confortavelmente, desmaiem as pálpebras, respirem pausada e profundamente, e deixem-se ingressar no universo medieval de Jordsjø, brilhantemente narrado por um requintado bailado de um mágico sintetizador em incessante diálogo com um quimérico mellotron, uma sumptuosa guitarra de acordes sentimentalistas, intimistas e poéticos, e solos serpenteantes, majestosos e aliciantes, uma flauta romanesca de frescas harmonias desenhadas a uma beleza lírica e epopeica, um baixo sombreado e balanceado a linhas hipnotizantes, fluídas, compenetradas e ondulantes, uma primorosa bateria de soberba e sublimada orientação jazzística, e ainda uma profética voz de tez aveludada, melódica e ensolarada que – com base no seu idioma nativo – confere a ‘Nattfiolen’ todo um nobre misticismo de traje mitológico e novelesco. Sou um confesso admirador de bandas que façam do pretérito o seu presente, e nesse contexto Jordsjø causara em mim um perfeito e imperturbável estado de fascinação e veneração à primeira audição que lhe dedicara. Uma épica e magnífica excursão ao interior emoldurado e amuralhado da Idade Média que nos faz desejar não mais dela regressar. Musicalmente, conseguem imaginar uma perfeita conjugação entre os ilustres britânicos Gentle Giant, Camel e Genesis? Se sim, alcançaram a fabular e lapidar essência que climatiza todas as incomensuráveis, primaveris e pastoris planícies que este extraordinário álbum encerra. Toda uma utopia onírica de vestes ancestrais e fragância divinal que nos eteriza e canoniza a alma sedenta de algo assim. É demasiado fácil perecer de amor a ‘Nattfiolen’ e prometer-lhe um dos mais invejáveis lugares na lista que receberá os mais notáveis álbuns lançados em 2019. Estamos mesmo na honrosa presença de uma completa obra-prima nutrida a uma inspirada e enfeitiçada maestria, irretocável e inatacável aos meus ouvidos.

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Review: ⚡ The Mothercrow - 'Magara' (2019) ⚡

Depois de uma bem-sucedida campanha de crowdfunding que num curto espaço de tempo financiara na totalidade toda a gravação e produção em estúdio, os espanhóis The Mothercrow anunciam finalmente o seu tão ansiado álbum de estreia batizado de ‘Magara’ e do qual muito devem orgulhar-se. Oficialmente lançado no passado dia 17 de Maio sob a forma física de vinil pela mão do conceituado selo discográfico de origem germânica Nasoni Records, e em formato de CD pela parceria editorial espanhola que interligara a madrilena Nooirax e a La Rubia Producciones, este primeiro trabalho de longa duração do entusiasmante quarteto localizado na cidade de Barcelona vem inflamado de um musculado, enérgico, fibrótico e torneado Hard Rock de tração setentista e engrenado num deslumbrante, sedutor, harmonioso e contagiante Heavy Blues de ostentosa e primorosa condução. A sua sonoridade deveras fascinante, clássica, carismática e chamejante prende um embriagante aroma de paladar intimista e revivalista que me envolvera, intrigara e embevecera do primeiro ao derradeiro tema. São 44 minutos ensolarados e ofuscados por uma paradisíaca fervura de alcance transversal a todo o álbum, condimentando e apimentando tanto as deleitáveis, adoráveis, atraentes e eloquentes baladas de desarmante beleza, como as excitantes, dinâmicas e desconcertantes cavalgadas de instrumentos esporeados à rédea solta. ‘Magara’ é um aprimorado, brilhante e consumado registo que se galanteia pela doce, harmoniosa e sedosa brandura, e se incendeia pela vulcânica, caótica e destravada comoção. Testemunhem toda a admirável sinergia destes catalães onde uma guitarra prodigiosa se bamboleia à boleia de ostentosos, veneráveis e prazerosos acordes e se transcende na libertação de vistosos, inventivos e talentosos solos, um voluptuoso baixo valvulado a linhas reverberantes, fluídas, vincadas e magnetizantes, uma agradável bateria locomovida tanto a um toque polido, brilhante e delicado como a uma rumorosa, explosiva e calorosa ritmicidade, e ainda uma voz volumosa, melódica, mélica e libidinosa que se passeia e envaidece pela decorosa atmosfera desde maravilhoso álbum de The Mothercrow. De realçar ainda o esmerado, distinto e elevado artwork – de créditos apontados ao habilidoso artista espanhol Jalón de Aquiles – que confere todo um exótico misticismo visual a esta distinta obra-prima. É de alma completamente enfeitiçada e saciada que regresso do sublimado ‘Magara’. Um disco portador de uma aura tanto edénica e tocante, como eufórica e vibrante que seguramente conquistará a aceitação e reclamará a devoção de todos aqueles que nele comungarem. Estamos na singular presença de um álbum tremendamente refinado e provocante que aponta todas as suas pretensões às mais altas posições da listagem referente aos melhores registos lançados em 2019.

Review: ⚡ Praÿ - 'Praÿ' (2019) ⚡

Da cidade francesa de Lyon chega-nos o empolgante álbum de estreia do jovem tridente Praÿ. Lançado muito recentemente através da sua página oficial de Bandcamp em formato digital, de CD e ainda numa limitada edição em vinil, este registo de denominação homónima encerra um electrizante, dinâmico, xamânico e euforizante Heavy Psych de um corrosivo e chamejante efeito Fuzz, que tanto se robustece e obscurece num montanhoso, lamacento e poderoso Psych Doom, como se apazigua e nebuliza num meditativo, místico e lenitivo Space Rock. A sua sonoridade – nutrida e conduzida a envolventes, valvuladas e eloquentes jams de natureza instrumental e sideral – tem a capacidade de absorver, amotinar e extasiar o ouvinte ao longo de todo o seu corpo temporal, pendulando-o do mais soterrado abismo terrestre ao mais elevado ponto do Cosmos. São cerca de 48 minutos povoados por quatro longos temas e alternados por uma bipolaridade atmosférica que tanto nos sacode, centrifuga e explode de incontida e fervorosa adrenalina, como nos relaxa, narcotiza e eteriza de uma temulenta sublimidade temperada a morfina. E é esta bipolaridade musical e emocional que faz de ‘Praÿ’ um álbum verdadeiramente irresistível aos ouvidos do comum mortal. Deixem-se absorver, enlouquecer e deleitar à boleia de uma guitarra endeusada e consagrada pelos astros que se manifesta em riffs vultosos, pujantes e rumorosos, e se agita em alucinantes, ácidos e trepidantes solos, um baixo carrancudo de linhas carregadas, magnetizantes, intrigantes e onduladas, e uma bateria sísmica que com a sua impetuosa, arrojada e fogosa ritmicidade esporeia e incendeia toda esta violenta evasão da consciência pelo profundo negrume astral. A cuidadosa, detalhada e engenhosa ilustração que confere rosto a este portentoso registo é da autoria da artista francesa Jody de Bousilly (aka Mamie Bousille) que vertera com exatidão para o universo visual o que de mais secreto e primordial subsiste na enigmática essência de ‘Praÿ’. Este é um álbum de propensão sideral que nos suga através de um desenfreado vórtice e desagua num perfeito estado de encantamento e exultação. Já tinha saudades de um disco assim.

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Review: ⚡ Saint Vitus - 'Saint Vitus' (2019) ⚡

Depois de um jejum discográfico de sete anos (no que à produção de álbuns de estúdio diz respeito, entenda-se), os lendários Saint Vitus – comumente e justamente apelidados de padrinhos do Doom Metal norte-americano – estão de regresso (e que regresso!) com a apresentação do seu novo trabalho de longa duração designado de ‘Saint Vitus’ e lançado muito recentemente pela mão da já consagrada editora discográfica francesa Season Of Mist (sediada na cidade de Marselha e especializada na promoção da música Metal) sob a forma física de vinil, CD e cassete. Este seu novo álbum – o segundo de designação homónima – representa o tão ansiado regresso às origens da banda, ou não tivessem recuperado o seu carismático vocalista de origem Scott Reagers (que desde o lançamento de ‘Die Healing’ em 1995 não mais empunhara o microfone de Saint Vitus). Confesso-me um especial adorador dos primórdios discográficos desta mítica formação californiana (particularmente em relação ao seu álbum de estreia ‘Saint Vitus’ datado de 1984 e ao ‘Born Too Late’ nascido em 1986), e, portanto, foi com uma grande dose de desconfiança que antevi este seu novo registo. Mas assim que o ouvira pela primeira vez, todas as dúvidas se dissiparam e deram lugar a um perfeito estado de fascinação que me climatizara e empolgara do primeiro ao derradeiro tema. Apesar dos 35 anos que balizam o primeiro disco homónimo deste segundo, ambos possuem almas aparentadas. Logo aos primeiros acordes baforados pela guitarra demoníaca e atormentada de Dave Chandler, somos hipnotizados e toldados pela negra e intrigante radiância que envolve todo o corpo temporal deste renovado ‘Saint Vitus’. Trajada e maquilhada por um titânico, carregado e luciférico Doom Metal e com destemidas (mas bem-sucedidas) aproximações aos domínios de um galopante, apressado e euforizante Heavy Metal de cariz tradicional, a caliginosa, tensa e portentosa sonoridade destes revigorados Saint Vitus provocara em mim toda uma súbita e inesperada sensação de crescente devoção. Comunguem toda esta sombria e horripilante liturgia de ‘Saint Vitus’ à perturbadora boleia de uma guitarra suprema que se agiganta em arrastados, monolíticos e assombrados riffs e se desfigura em excêntricos, caóticos e alucinados solos, um baixo profano de bafagem possante, tensa, turva e magnetizante, uma forte bateria de ritmicidade pausada, pesada e ressonante, e ainda uma carismática voz tanto de textura encorpada, melódica e cuidada, como ardente, espinhosa e corrosiva, que lidera com gloriosa autoridade toda esta sólida e denegrida avalanche sonora. Chego ao final deste álbum de alma completamente pasmada e exorcizada pela ritualística dominância que ‘Saint Vitus’ ostenta. Um álbum do tamanho da imaculada reputação que esta banda localizada em Los Angeles detém, e que – depois de um passado triunfante – deixa no ouvinte a forte convicção de que este invejável legado se vai arrastar pelas estradas futuristas. Foi essa a certeza que ‘Saint Vitus’ deixara imortalizada em mim.

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