© Theo Van Den Boogaard
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Dead Sea Apes - 'Night Lands' (2020) ⚡
Os ingleses Dead Sea Apes
acabam de antecipar e disponibilizar o seu novo trabalho de longa duração ‘Night
Lands’ para escuta integral através da sua página de Bandcamp
oficial, bem como para a devida compra do mesmo nos formatos físicos de vinil (repartido
em duas edições ultra-limitadas e entretanto já esgotadas), CD-R (reduzido a
uma prensagem de apenas 90 cópias praticamente vendidas na sua totalidade) e sob
a forma digital através do influente selo discográfico local Cardinal Fuzz.
Condimentado por um imersivo, magnético e lenitivo Drone em harmoniosa sinergia
com um contemplativo, arrebatador e inventivo Post-Rock de estética
cinematográfica, e um delirante, alucinógeno e deslumbrante Psychedelic Rock
embrulhado e embriagado num experimentalismo exótico e alienígena, este novo
álbum da formação sediada na cidade de Manchester sorve, dissolve e aprisiona
o ouvinte nas profundezas de um morfínico universo onírico. De lucidez
esvaziada, alma atestada de uma pesada embriaguez, percepção desancorada da gravidade
terrestre, e velas hasteadas ao sabor dos ventos cósmicos, somos enfeitiçados e
arremessados na vertiginosa direcção dos astros, deixando para trás um corpo tombado
e desmaiado. A sua sonoridade de atmosfera flutuante, sidérica, anestésica e fascinante
passeia-nos pela intimidade de uma etérea envolvência nocturna, onde chamejantes
fornalhas estelares incendeiam e farolizam os céus matizados de um espesso e
aveludado negrume. Reconfortados, enternecidos e maravilhados pela doce
letargia exalada por todos os poros de ‘Night Lands’, somos
canalizados e desaguados nas praias de um resplandecente transe espiritual
climatizado e aromatizado por um narcotizante baixo de fluidez Krauty que deambula à
boleia de linhas murmurantes, meditativas, hipnóticas e oscilantes, duas
guitarras exploratórias que se perdem e encontram por entre maviosos, ácidos e
sinuosos solos, um fantástico sintetizador que nos inunda de magia estelar, e uma
requintada bateria de sensibilidade jazzística que tiquetaqueia toda
esta evolutiva digressão astral com o seu toque polido, luminoso, vagaroso e cuidado.
Este é um álbum tecido a um misticismo sideral que nos banha e bronzeia de uma
edénica lisergia. Deixem-se embevecer, dominar e vogar pela ataráxica e pacifica
ondulação de Dead Sea Apes, e vivenciem com inteira devoção e fascinação todo
o purificante, diamantino e ofuscante esplendor de um álbum verdadeiramente encantador.
Links:
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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Coogans Bluff - 'Metronopolis' (2020) ⚡
Coogans Bluff é
uma daquelas bandas exímias na arte de explorar, reinventar e conjugar os mais díspares sub-géneros
do espectro Rock na sua sonoridade, dificultando assim a tarefa de
rotular o seu som usando o menor número de carimbos possível. E se o seu
passado discográfico já indiciava um crescente amadurecimento dessa vincada tendência,
o novo álbum ‘Metronopolis’ representa o pináculo dessa sua incrível
capacidade camaleónica. Lançado muito recentemente pela clássica editora
berlinense Noisolution sob a forma física de CD e vinil, este sétimo
álbum da banda germânica – localizada na cidade-capital de Berlim – vem
lotado de temas desiguais, originando todo um multicolorido e apaladado sortido
sonoro de onde facilmente se identifica um exótico, orquestral, jovial e carnavalesco Krautrock
– de apurada sensibilidade jazzística, caleidoscópica pigmentação
de feição psicadélica e uma serpenteante condução Progressiva – que se aproxima
de forma discreta mas ousada de um caloroso e contagiante Funk, de um
ostensivo, festivo e exuberante Brass Rock, e ainda se envolve e revolve
numa renhida disputa de protagonismo com um agradável, afável e bem-disposto Indie
Rock de estética e simetria radiofónicas. Na génese dessa aparatosa,
refinada e apetitosa complexidade musical envaidece-se toda uma talentosa simbiose
instrumental de incessantes, comoventes e fascinantes diálogos sublimemente tricotados,
nutridos e orientados por um mirabolante saxofone de aveludados, uivantes,
ofuscantes e requintados bailados, um atmosférico, intrigante e sidérico sintetizador
Moog em forte cumplicidade com um melódico e onírico Mellotron,
uma primordial guitarra de acordes enternecedores e provocantes, e solos ácidos
e embriagantes, um baixo deliciosamente groovy de linhas pulsantes, empoladas, onduladas e murmurantes, uma animada e incitante bateria superiormente compassada a uma
desarmante sensibilidade e dançante sagacidade, um berrante, enfático e
penetrante trompete de orgulhosos bramidos, e ainda uns vocais melosos, simpáticos,
lustrosos e angelicais que sobrevoam e ecoam tanto a solo como lado a lado pelos
sorridentes e triunfantes firmamentos de ‘Metronopolis’. Este é
um álbum vibrante, pensado, lapidado e executado a tocante primazia, que se auto-valoriza
a cada audição que se lhe dedica. Um registo atestado de um epidémico enlevo
que nos prende a um estádio de perfeito bem-estar. De olhar semi-selado e
incendiado, bochechas coradas, sorriso perpetuado no rosto e alma a transbordar
de êxtase, degustem atempadamente este açucarado, espirituoso e renovado trago destilado pelos inspirados foliões Coogans Bluff. Não vai ser fácil estancar e contrariar a
duradoura e paradisíaca ressaca por ele em nós deixada, bem como a forte convicção
de que se trata de um dos álbuns mais graciosos do ano.
Links:
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terça-feira, 28 de janeiro de 2020
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
domingo, 26 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Acid Mammoth - 'Under Acid Hoof' (2020) ⚡
Da cidade-capital de Atenas
(na Grécia) chega-nos a densa e esverdeada vaporização do quarteto Acid
Mammoth com o lançamento do seu segundo e novo álbum apelidado de ‘Under
Acid Hoof’ e devidamente promovido pela mão do incansável selo
discográfico romano Heavy Psych Sounds sob a forma física de CD e vinil.
Robustecida, inflamada e enegrecida por um morfínico, hipnotizante, dominante e
ritualístico Stoner Doom de ressonância e devoção Black Sabbath’ica
que conjuga a intrigante lisergia de uns Uncle Acid & The Deadbeats com
a monolítica potência de uns Monolord e ainda a demoníaca feitiçaria de Electric
Wizard, a profana e enigmática sonoridade de ‘Under Acid Hoof’
arrasta o ouvinte pelas pesadas, paradas e lodacentas águas de um crepitante pântano
de tonalidade ferrugenta e embaciado pela espessa bruma outonal. De pálpebras
seladas, olhar eclipsado, maxilares cerrados, narinas dilatadas e cabeça
balanceada de ombro a ombro, somos enfeitiçados, absorvidos e sedados pela atraente
liturgia de adoração luciférica superiormente celebrada pela formação helénica.
São cerca de 36 minutos completamente oxigenados, assombrados e saturados por
uma atmosfera tenebrosa, nebulosa e entorpecedora que nos enluta e inebria a
alma. Deixem-se obscurecer e varrer pela pausada, reverberante e monstruosa avalanche detonada
por duas guitarras umbrosas e heréticas que se aliam e avolumam em Riffs
montanhosos, fumarentos, lamacentos e imperiosos, e se soltam na libertação de gélidos,
viscerais, penetrantes, alucinógenos e astrais solos, um corpulento baixo de
linhas magnetizantes, tensas, densas e pujantes, uma estrondosa, viril e fogosa
bateria de ritmicidade impetuosa, autoritária, galopante e rumorosa, e ainda uns
vocais gélidos, ácidos, destemperados e diabrinos que completam toda esta psicotrópica
bruxaria cozinhada pelos Acid Mammoth. De destacar ainda o místico artwork
de créditos facilmente reconhecidos e apontados à famosa Branca Studio.
Estamos na vultosa presença de um álbum edificado por uma massiva e alucinógena
musculatura que nos atemoriza e narcotiza com urgente e veemente supremacia.
Inalem a demoníaca e intoxicante exalação suada por ‘Under Acid Hoof’
e sintam-se embalsamar num intenso e imperturbável estádio de doce letargia.
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➥ Bandcamp
➥ Heavy Psych Sounds
sábado, 25 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Rafael Denardi - 'Two Handfuls of Rock' EP (2020) ⚡
Da outra margem do oceano
Atlântico chega-nos uma das mais agradáveis surpresas sonoras germinadas neste ainda
tenro solo de 2020. ‘Two Handfuls of Rock’ é o entusiástico EP
de estreia inteiramente gravado e produzido pelo talentoso multi-instrumentista
brasileiro Rafael Denardi – residente na grande e populosa cidade de São
Paulo – que tem o seu lançamento oficial agendado para o próximo dia 6 de
Fevereiro, exclusivamente através do formato digital e disseminado pelas mais
variadas plataformas digitais. De instrumentos calibrados e apontados a um empolgante, dinâmico,
vistoso e inflamante Heavy Blues de essência e exuberância revivalistas
que prontamente nos remete para a ardente sensualidade do irreverente power-trio
suíço The Dues e a efervescente explosividade dos sónicos californianos JOY, este é um trabalho de beleza e destreza consumadas.
Com excepção da destacada presença de um teclista convidado para condimentar e abrilhantar um dos
temas que incorporam este auspicioso registo de curta duração, ‘Two
Handfuls of Rock’ é um delicioso e portentoso EP superiormente executado a
duas mãos. A sua requintada, serpenteante, vibrante e agitada sonoridade de textura
e formosura vintage causara em mim todo um crescente e imediato estado de imperturbável
fascinação e intenso empolgamento que me climatizara do primeiro ao derradeiro
tema. São cerca de 22 minutos apimentados e chamejados por uma virtuosa, afrodisíaca
e aparatosa guitarra que – com os seus poderosos, musculados, despachados, torneados e
ostentosos Riffs, de onde são transpirados e disparados ziguezagueantes,
labirínticos, ácidos e estonteantes solos de elevada toxicidade – homenageia icónicas referências do género como Billy Gibbons (ZZ Top), Eric Clapton (Cream) e Rory
Gallagher (Taste), um possante, espesso e dominante baixo Rickenbacker de linhas
desenhadas, baforadas e orientadas a robustez, coesão, vitalidade e paixão, uma
calorosa bateria de esporas afiadas e rédea solta que se revolve nas suas
acrobacias galopantes, inventivas e excitantes, e uma voz liderante, jovial e
refrescante que chefia com inegável carisma toda esta extasiante, carnavalesca e delirante detonação sensorial. O
expressivo e caricaturesco artwork que confere rosto a este registo aponta os seus créditos à ilustradora brasileira Rafaela Barros que de
forma fiel e até humorística traduzira para o universo visual a interpretação literal
de ‘Two Handfuls of Rock’. Este é um registo dotado de inspiração, lavrado à minha
imagem e que muito deve orgulhar o seu criador Rafael Denardi. Apesar de
só agora termos estreado o calendário referente a 2020, na ressaca desta obra tudo em mim grita convictamente de que
estamos mesmo na presença de um dos mais fortes candidatos a EP do ano.
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Bohren & der Club of Gore - 'Patchouli Blue' (2020) ⚡
Com quase 3 décadas de
existência, os ímpares Bohren & der Club of Gore preparam-se agora
para acrescentar à sua discografia o muito aguardado 11º trabalho de longa
duração. Com o seu lançamento oficial agendado para o dia de amanhã – sexta, 24
de Janeiro – pelo influente selo discográfico multinacional PIAS Recordings
(acrónimo de Play It Again Sam) nos formatos físicos de CD e vinil, ‘Patchouli
Blue’ vem dar o tão desejado prosseguimento à enigmática, envolvente, misteriosa e melancólica ambiência de orientação Film Noir superiormente segredada
e adensada pelos instrumentos desta muito peculiar e já emblemática formação germânica. Baseado
num lutuoso, demorado, hipnótico e pesaroso Doom-Jazz que nos remete
para uma noite fria e chuvosa de uma cidade pecadora onde o crime espreita a
cada esquina, ‘Patchouli Blue’ é um fabuloso álbum de
sensibilidade cinematográfica. Mãos soterradas nos largos e profundos bolsos de
longos sobretudos acariciam revólveres famintos, olhares suspeitosos brilham na embrumada penumbra deixada e recortada pela aba larga de negros chapéus, farolizados e enfeitiçados
pela ofuscante luminância flamejada e transbordada de uma janela despida – abraçada
pelo fosco negrume – onde no seu interior um ruborizado batom se passeia graciosamente
dentro dos limites territoriais de uns lábios murmurantes, um enegrecido rímel tonifica e
penteia as pestanas, e um elegante vestido de tonalidade púrpura é desdobrado
por toda a extensão de um corpo desnudo e decotado até às fronteiras da irresistível tentação. É esta a ambiência de intrigante e incessante sedução que ‘Patchouli
Blue’ edifica no meu imaginário. Toda uma fatídica trama que se
desprende das teclas de um funesto órgão de notas magnetizantes, sinistras e saltitantes,
sombreadas pela soturna e misantrópica radiância borrifada por um enigmático sintetizador
que ausculta as trevas, da boquilha de um saxofone uivante que se serpenteia e
formoseia em extravagantes bailados, das vassouras luzidias que deixam todo um brilhante e poeirento lastro de pulsação ressoada de uma bateria detidamente entregue a uma ritmicidade
minimalista, arrastada e intimista, e das gordas cordas de um contrabaixo prostrado
que sussurra linhas pesadas, lastimosas, umbrosas e carregadas. Este é um álbum genuinamente cativante que nos petrifica e mergulha numa fumarenta atmosfera eclipsada e temperada pela doce
melancolia. Deixem-se seduzir e conduzir pela trágica e perversa narrativa de Bohren
& der Club of Gore e vivenciem de olhar intensamente fascinado uma das
mais inspiradas odes aos nostálgicos e glamorosos policiais brilhantemente produzidos nas
velhas décadas de 1940 e 1950. Não vai ser nada fácil regressar dos nebulosos, intimidantes
e caliginosos becos citadinos de ‘Patchouli Blue’ por onde nos
perdemos e entretemos ao longo de sensivelmente 60 minutos.
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➥ Website Oficial
➥ PIAS Recordings
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
domingo, 19 de janeiro de 2020
sábado, 18 de janeiro de 2020
Review: ⚡ RYTE - 'RYTE' (2020) ⚡
Renascidos das cinzas dos
saudosos Pastor, os recém-formados druídas austríacos RYTE – sediados na cidade-capital
de Viena – acabam de lançar o seu muitíssimo aguardado álbum de estreia. De
designação homónima e devidamente promovido pelo imparável selo discográfico
romano Heavy Psych Sounds sob a forma física de CD e vinil, ‘RYTE’
vem governado e inflamado por um electrizante, psicotrópico, misantrópico e alucinante
Heavy Psych, um serpenteante, melódico, exótico e hipnotizante Heavy
Prog e ainda um tirânico, tenebroso, vigoroso e messiânico Proto-Metal
de ressonância Black Sabbath’ica. A sua sonoridade tremendamente
galvanizadora e impactante – destilada de um épico confronto entre os consagrados californianos
Earthless, Mammatus e Ancestors – ostenta elaboradas, ostentosas e
inspiradas composições onde envolventes e evolutivos bailados instrumentais se
agigantam e desaguam em crescendos estonteantes, sónicos e triunfantes que
culminam numa explosiva e catártica euforia capaz de nos fazer rasgar as vestes
da lucidez. Na génese desta perfeita e apoteótica simbiose instrumental estão
duas guitarras gémeas que se avultam e empoderam na assunção e condução de majestosos,
fumegantes, intrigantes e trevosos Riffs, e se entrelaçam e multiplicam
em estonteantes, ciclónicos, homéricos e excitantes solos, um pesado, magnético
e sombreado baixo de bafagem tensa, densa e reverberante, uma incrível bateria de
apurada sensibilidade jazzística que tiquetaqueia, pauta e esporeia com
um toque cintilante, fogoso, acrobático e retumbante, e ainda uns vocais ácidos,
ásperos, ferrugentos e diabrinos que assombram toda a revoltosa atmosfera de ‘RYTE’.
De destacar e elogiar ainda o fabuloso artwork de créditos apontados à artista
gráfica Sandra Havik (aka Cosmik Havik) que ilustrara com irrepreensível
exactidão toda a mística, fervilhante, alucinógena e enérgica ferocidade fumegada pelo
quarteto austríaco. Este é um álbum integralmente pensado e executado à minha
imagem, que ultrapassara largamente as minhas elevadas expectativas a ele
previamente dedicadas. ‘RYTE’ é um registo locomovido a uma
tremenda ferocidade que nos sacode e implode num intenso turbilhão de adrenalina
via auditiva. Deixem-se agredir e engolir por toda esta titânica, raivosa e monolítica
avalanche repleta de endorfinas e sintam-se entrar numa vibrante erupção que
vos arremessará na vertiginosa direcção do infindável Cosmos. Na ressaca da sua arrebatadora e redentora audição, tudo em mim grita que não será nada fácil afastar este imponente
registo do primeiro lugar do pódio referente aos melhores álbuns nascidos em
2020. Uma consumada obra-prima aos meus ouvidos sedentos de poder
experienciar algo assim.
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sexta-feira, 17 de janeiro de 2020
quinta-feira, 16 de janeiro de 2020
Review: ⚡ Mythic Sunship - 'Changing Shapes' (2020) ⚡
Depois de ‘Ouroboros’
(Review aqui), ‘Land Between Rivers’ (Review
aqui), ‘Another Shape Of Psychedelic Music’ (Review
aqui) e ‘Upheaval’ (Review aqui), os
exóticos dinamarqueses Mythic Sunship preparam-se agora para nos
presentear com mais um novo álbum através do insuspeito selo discográfico local
El Paraiso Records. Captado ao vivo na passada edição de 2019 do carismático
festival holandês Roadburn Festival e com o seu lançamento oficial calendarizado
para o dia de amanhã – 17 de Janeiro – através dos formatos físicos de CD e
vinil (este último ultra-limitado a uma primeira prensagem de apenas 500 exemplares,
entretanto já reservados e esgotados), ‘Changing Shapes’ encerra
todo um vibrante, excêntrico, apoteótico e berrante Carnaval sonoro tão
característico deste colectivo nórdico brilhantemente transposto do estúdio para cima do palco.
Num admirável e adorável equilíbrio entre velhos temas resgatados dos seus
discos anteriores e outros nunca antes estreados, este novo álbum vem inaugurar
um renovado capítulo da sua fantástica odisseia musical e sensorial principiada
já há uma década. Conjugando um envolvente, hipnótico, psicotrópico e viajante Space
Rock com um expressivo, labiríntico, selvático e inventivo Free Jazz
que nos remete aos bizarros territórios de vultosas referências como Ornette
Coleman, John Zorn ou Pharoah Sanders, a camaleónica sonoridade
de ‘Changing Shapes’ catapulta o ouvinte para uma evolutiva,
sinuosa, assombrosa e intempestiva digressão pela intimidade espiritual sem
destino previamente traçado ou a garantia de um regresso anunciado. Deixem-se
dissolver e embevecer nesta mística e ritualística extravagância, condimentada por uma mágica alquimia, onde duas
guitarras sónicas imergem e desabrocham com os seus atordoantes, ácidos,
gélidos e incessantes solos serpenteados numa bombástica, gritante e orgásmica emancipação,
um baixo murmurante e magnetizante de linhas ondeantes, densas, sombrias e
dançantes, uma bateria tribalista de galopante, incisiva, criativa e contagiante
ritmicidade, e ainda um indomável e intratável saxofone que – com os seus uivos desvairados,
aparatosos, libidinosos e embriagados – golpeia, fere e incendeia todo o negro
veludo cósmico. ‘Changing Shapes’ é um registo dotado e adornado de uma imensa sedução xamânica que prontamente esgota toda a lucidez do ouvinte
e o atesta de uma ofuscante embriaguez. Diluam-se, percam-se e inflamem-se nas brumosas
profundezas de Mythic Sunship, e experienciem sem a mais pequena réstia
de inibição todo o gritante, frenético e euforizante esplendor deste seu memorável
registo gravado ao vivo.
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➥ El Paraiso Records
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