quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Review: ⚡ Mythic Sunship - 'Another Shape of Psychedelic Music' (2018) ⚡

Depois de ‘Upheaval’ (desmontado e venerado aqui) ter sido lançado em Janeiro deste mesmo ano, os incansáveis dinamarqueses Mythic Sunship – detentores de uma inesgotável capacidade criativa - estão de regresso com a apresentação do seu novo álbum ‘Another Shape of Psychedelic Music’, e sinto-me impelido a antecipar que este se trata mesmo do meu álbum de eleição desta banda escandinava que tanto me preenche e fascina. Com a data do seu lançamento oficial agendada para o início do próximo mês de Outubro nos formatos físicos de CD e vinil (bem como no formato digital de mp3), este renovado e quarto trabalho produzido em território discográfico do já emblemático selo local El Paraiso Records exibe-se como o mais requintado, trabalhado e exuberante disco de Mythic Sunship. Emergente de um carnavalesco, bizarro, colorido e exótico sortido de sonoridades – de onde facilmente se distingue o paladar de um envolvente, hipnótico e viajante Krautrock de natureza cósmica, um nebuloso, alucinante e ostentoso Heavy Psych, e ainda um extravagante, caótico e deslumbrante Free Jazz de condução inesperada e inventiva – este novo capítulo da evolutiva e admirável digressão destes astronautas de instrumentos em punho causara em mim toda uma imersiva sublimação que me hipnotizara e encantara do primeiro ao derradeiro tema. São 75 minutos completamente saturados de uma provocante, selvática e delirante excentricidade que nos sacode, euforiza e implode de um intenso e desgovernado entusiasmo capaz de nos arremessar com extrema violência pela infinita vacuidade de um Cosmos embriagado. Inalem toda esta mágica exalação suspirada pelas estrelas e sintam a vossa sanidade dispersar à estonteante e arrebatadora boleia sonora de duas guitarras prodigiosas que se entrelaçam na incrível ascensão de gritantes, tumultuosos, labirínticos e berrantes solos, um baixo infatigável que se desdobra em linhas reverberantes, oscilantes, fluídas e bailantes, uma ensolarada bateria de deliciosa orientação jazzística nutrida a um toque polido, luminoso, leve e habilidoso, e um vibrante saxofone que – com base nos seus uivantes, efervescentes, revoltosos e serpenteantes bailados – desabrocha energia e fulgor por todos os espaços virgens desta majestosa e adorável criação apelidada de ‘Another Shape of Psychedelic’. É-me importante ainda destacar a distinta aparição do virtuoso guitarrista Jonas Munk (Causa Sui) na enlouquecedora governação de dois dos temas que incorporam toda esta fabulosa, ardente e espalhafatosa detonação de prazer. Este é um álbum intensamente mirabolante e impactante que transpira e evidencia uma anarquia superiormente controlada pela turma dinamarquesa. Recostem-se confortavelmente, apertem bem os cintos de segurança e deixem-se farolizar pelo ‘Another Shape of Psychedelic’ num vertiginoso mergulho cósmico de onde a vossa lucidez não sairá ilesa. Uma vénia ininterrupta aos Mythic Sunship pela criação deste talismã bordado, elevado e purificado a desarmante lubricidade, inteligência, imaginação e voracidade. Este é um disco consumado que resvala nas fronteiras do impossível. Percam-se e encontrem-se por entre a sua distinta loucura e formosura, e vivenciem como puderem toda a redentora fogosidade de um dos álbuns mais apoteóticos do ano.

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