The
Last of Us S01 (2023) de Neil Druckmann & Craig Mazin ★★★★★
Everybody Wants Some!! (2016) de Richard Linklater ★★★☆☆
The Whale (2022) de Darren Aronofsky ★★★★☆
Rocky (1976) de John G. Avildsen ★★★★☆
Daisy Jones & The Six S01 (2023) de Scott Neustadter
& Michael H. Weber ★★★★★
X (2022) de Ti West ★★★☆☆
Pearl (2022) de Ti West ★★★★☆
On Golden Pond (1981)
de Mark Rydell
★★★★☆
Cross of Iron (1977) de Sam Peckinpah ★★★★☆
The Revenant (2015) de Alejandro González
Iñárritu ★★★★★
The Lost Boys (1987) de Joel Schumacher ★★★☆☆
True Grit (2010) de Ethan Coen &
Joel Coen ★★★★☆
Lost Highway (1997) de David Lynch ★★★★☆
Eastern Promises (2007)
de David Cronenberg ★★★★☆
Event Horizon (1997) de Paul W.S. Anderson ★★★☆☆
Alien (1979) de Ridley Scott ★★★★★
This Is Us S06 (2022)
de Dan Folgelman ★★★★★
Aliens (1986) de James Cameron ★★★★★
The Menu (2022) de Mark Mylod ★★★☆☆
Summer of Soul (2021) de Questlove ★★★★☆
Gone in Sixty Seconds (2000) de Dominic Sena ★★★☆☆
sexta-feira, 30 de junho de 2023
🍿 Cinema & TV de Abril, Maio e Junho
quinta-feira, 29 de junho de 2023
Review: 🦇 Karavan - 'Unholy Mountain' (2023) 🦇
Do litoral sul
norueguês – mais concretamente do condado de Rogoland – chegam-nos as
trevosas, intrigantes e poderosas ressonâncias emanadas do possante tridente nórdico
Karavan, que acaba de nos ofuscar com o lançamento do seu portentoso
álbum de estreia ‘Unholy Mountain’ através dos imediatos formatos
cassete (pela mão da norueguesa Evil Noise Recordings) e digital, e ainda
com a garantia de uma futura prensagem em vinil pelo selo dinamarquês Vinyltroll
Records. Misturando e condimentando um pantanoso, ocioso, intoxicante e monstruoso Doom
Metal, um lodacento, seboso, rugoso e bolorento Sludge Metal e um inflamante,
demoníaco, tétrico e hipnotizante Black Metal, a apocalíptica, pentagrâmica
e cerimonial sonoridade de ‘Unholy Mountain’ – banhada a cega pretura e incendida
a provocante diabrura – dilata as pupilas, trava a respiração, enregela a pele
e profana a alma do ouvinte. Atropelados por uma mastodôntica, impiedosa e
virosa avalanche de THC e soterrados num embrumado e profundo estádio de
febril narcose, caminhamos de olhar vendado e passo amedrontado pelos
fumarentos, sombrios e dantescos territórios de Karavan. Uma liturgia infernal
que nos sepulta no lado eclipsado da religiosidade. Uma morfínica, asfixiante e
luciférica obscuridade que nos mumifica e terrifica do primeiro ao derradeiro
tema. São 45 minutos governados e enlutados por uma opressão tumular que nos endurece
e paralisa os sentidos. Deixem-se absorver e estarrecer por este culto endiabrado,
superiormente liderado por uma guitarra imperiosa – consumida pelo faiscante, abrasivo
e crocante Fuzz – que se agiganta em riffs modorrentos,
bafientos e acintosos, um baixo fibrótico de linhas tensas, densas e sísmicas,
uma bateria potente de ritmicidade ofensiva, incisiva e impetuosa, e violentos vocais
de rugidos cavernosos, incandescentes e espinhosos. ‘Unholy Mountain’ é
um álbum fervido e consumido por negras e crepitantes lavaredas que nos encarvoam o espírito. Um registo tenebroso, maléfico e misantrópico que nos inebria e
conduz à mais trágica distopia. Deixem-se conspurcar e açoitar pela corrosiva,
agressiva e altiva pretura de Karavan, e vivenciem as suas prepotentes
trevas das quais não é tarefa fácil regressar.
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quarta-feira, 28 de junho de 2023
terça-feira, 27 de junho de 2023
segunda-feira, 26 de junho de 2023
domingo, 25 de junho de 2023
sábado, 24 de junho de 2023
sexta-feira, 23 de junho de 2023
Review: 🐉 Mammatus - 'Expanding Majesty' (2023) 🐉
Depois de um
longo e penoso jejum discográfico que se seguira ao lançamento de ‘Sparkling
Waves’ (2015), os titânicos Mammatus estão finalmente de regresso
com o nascimento da opulenta obra-prima ‘Expanding Majesty’, descortinada hoje
mesmo através da californiana Silver Current Records no exclusivo
formato físico de LP (com duas edições ultra-limitadas e já esgotadas). Antes
de me debruçar sobre este triunfante retorno do druídico tridente natural da
cidade costeira de Santa Cruz (Califórnia, EUA), devo
confessar que este era muito provavelmente o álbum por mim mais aguardado do
ano (tal a minha devoção de contornos quase religiosos pela banda), e,
portanto, foi com um crescente e imoderado entusiasmo que contara os dias até à
chegada do momento em que pude finalmente experienciá-lo na íntegra e confirmar
toda a sua ofuscante majestosidade. Ensaboado e encerado por um ambiental, colorido,
açucarado e divinal Psychedelic Rock – que se bipolariza numa fresca,
contemplativa e reinante fragância oceânica a fazer recordar o lado mais reflexivo
dos surfistas californianos The Mermen, e numa fogosa, transpirada e ocasional vertigem de ligeiro tremor tectónico que me remete para os seus saudosos vizinhos Comets
on Fire e para os não menos saudosos canadianos Quest for Fire –, em perfeita simbiose com um sumptuoso, onírico, fantástico e
aventuroso Progressive Rock com vista desimpedida para os astros que
cintilam no negro solo ultraterrestre e que partilha o ADN com os clássicos britânicos
YES, este quinto álbum de estúdio da banda à beira mar plantada presenteia
e prazenteia o ouvinte com uma expansiva, expressiva e gratificante odisseia cósmica
de 70 minutos de duração que o viaja por maravilhosas paisagens sonoras
futuristas e inexplorados territórios do espaço alienígena. ‘Expanding
Majesty’ vem compartimentado por quatro longas, adoráveis e memoráveis faixas
edificadas a uma irretocável beleza arquitectónica, oxigenadas por um esponjoso hipnotismo
que nos proíbe de pestanejar, e farolizadas por um deífico misticismo que em
nós provocam toda uma permeabilidade sensorial e emancipação consciencial. Lavrado
por uma instrumentação sublime e habilmente elaborada para envolver o espírito
do ouvinte numa inescapável teia de sonhos, este jupiteriano registo de Mammatus
veleja leve e pausadamente pelas pacíficas, nirvânicas e etéreas águas cósmicas
onde se revelam deslumbrantes firmamentos que nos comovem, absorvem e petrificam
numa doce ilusão de adormecimento. Um álbum espaçoso, arejado e miraculoso –
ventilado a uma fina sensibilidade e aureolado por uma diáfana luminescência – que
em nós provoca a depuração e desagregação da alma rumo a um oásis espiritual.
Na composição desta mágica combustão dialogam entre si uma guitarra faraónica de
acordes serpenteantes, melífluos e cristalinos que se vão desenvolvendo em slow-motion
e de onde são vertidos uivantes, engordurados e avinagrados solos, um baixo
elástico de linhas quentes, volumosas e flutuantes, uma bateria acrobática de locomoção
cativante e precisão robótica, toda uma quimérica profusão de sintetizadores que
vocalizam diluvianos mugidos e berrantes sirenes cósmicos que nos provocam
arrepios epidérmicos, e celestiais, gentis e lampejantes coros vocais – de tom
cantante e essência profética – que se encontram e desencontram numa caleidoscópica
sobreposição e ecoam pela infinidade sideral. O artwork verdadeiramente esplêndido
e de indiscreta inspiração Roger Dean’esca – que traduzira na perfeição para o
universo visual tudo aquilo que a criativa sonoridade de ‘Expanding Majesty’
desdobra no imaginário do ouvinte – aponta os seus créditos autorais ao talentoso
ilustrador espanhol Cristian Eres. Alcanço o final desta inesquecível viagem
mergulhado num torpor comatoso, de olhar marejado e sorriso desabrochado no
rosto. Este é um disco verdadeiramente nirvânico e um dos mais sérios
candidatos ao tão ambicionado título de melhor álbum de 2023.
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quinta-feira, 22 de junho de 2023
quarta-feira, 21 de junho de 2023
Review: 🌙 Moonstone - 'Growth' (2023) 🌙
Depois de no
final de 2019 ter testemunhado pela primeira vez todo o impactante vigor dos
polacos Moonstone (análise ao seu homónimo álbum de estreia aqui),
hoje aponto os holofotes ao seu segundo álbum de estúdio ‘Growth’,
lançado pela parceria discográfica local Galactic Smokehouse / Interstellar
Smoke Records através dos formatos CD e digital. Anoitecido por um altivo, melancólico,
sorumbático e opressivo Psychedelic Doom de falecida coloração outonal que
vagueia pelas fúnebres ruínas de beleza cinematográfica de um enfeitiçante, distópico,
misantrópico e intrigante Post-Metal oxigenado por um misticismo
oriental, 'Growth' é um titâ que em nós provoca todo um fremente sismo emocional. A sua sonoridade nocturna, dramática, hermética e taciturna deixa o
ouvinte prostrado, sedado e de olhos vendados, abrigado nas encarvoadas trevas de
Moonstone. De semblante desmaiado e caído sobre o peito, embarcamos numa
esfíngica, ascética e sonâmbula digressão pelos nebulosos desertos do lado
eclipsado da alma, farolizados pela negra radiância emanada deste possante quarteto enraizado na cidade polaca de Cracóvia. Este é um álbum que nos trava a
respiração, enregela o coração e incendeia de uma flamejante escuridão. Dissolvidos
nesta plangente narcose que nos embacia a lucidez, somos varridos pelos esotéricos
bailados de duas guitarras lascivas que se engrandecem e enrijecem em mastodônticos,
contemplativos, impiedosos e proféticos riffs – efervescidos a fogosa
distorção – de onde ecoam solos uivantes, ácidos, alucinados e esvoaçantes,
sombreados pela densa, sisuda, nervuda e tensa reverberação de um baixo imponente,
vergastados pela altiva, incisiva, relampejante e precisa ritmicidade de uma
bateria tribalista, e embruxados pelos vocais vampíricos, hipnóticos,
monocórdicos e sacerdotais que conduzem toda esta caliginosa liturgia de
transformação espiritual. ‘Growth’ é uma obra tristemente bela. Um álbum
mesmérico, portador de uma atmosfera imensamente cativante, que tanto nos
asfixia como alivia, escurece como amanhece, alcooliza como euforiza. Não vai
ser fácil – ou sequer desejado – quebrar o intenso feitiço de Moonstone,
que, do primeiro ao derradeiro tema, tem o dom de nos conquistar e aprisionar a
um pleno estádio de imperturbável transe.
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terça-feira, 20 de junho de 2023
segunda-feira, 19 de junho de 2023
domingo, 18 de junho de 2023
sábado, 17 de junho de 2023
sexta-feira, 16 de junho de 2023
Review: 🦅 Yawning Man - 'Long Walk of the Navajo' (2023) 🦅
Com quase quatro
décadas de inspiradora actividade e duas mãos cheias de lançamentos
discográficos, os históricos Yawning Man apresentam agora a sua novíssima
obra ‘Long Walk of the Navajo’ através dos formatos LP, CD e digital com
o carimbo editorial do influente selo romano Heavy Psych Sounds. Com o incontornável
Mario Lalli ausente num hiatus de duração indeterminada, mas brilhantemente substituído
nas quatro cordas pelo regressado baixista Billy Cordell (uma cara bem
conhecida dentro da desert scene), estes três reis magos do deserto
californiano – liderados pelo mítico Gary Arce – dão, assim,
continuidade à sua mística, longa e paradisíaca travessia pelos seus
ajardinados desertos. De almas empoeiradas, pele bronzeada e instrumentos
empunhados, os Yawning Man sobrevoam as mastodônticas formações rochosas
do Monument Valley à boleia de um melancólico, reflexivo, lenitivo e cinematográfico
Post-Rock embrumado por um temulento, pachorrento e onírico Shoegaze,
e um arenoso, místico, druídico e radioso Psychedelic Rock arejado pela revitalizante
frescura Surf-Rock. A sua caravânica sonoridade – inteiramente instrumental
– trilha o sagrado território indígena do povo Navajo, debaixo de céus
crepusculares, pincelados por múltiplas cores fogosas, e farolizado pelo corado Sol,
de bafo morno, que se debruça no intangível horizonte rochoso. Uma deslumbrante,
anestésica, profética e relaxante digressão espiritual pelas sinestésicas e narcotizantes
propriedades da mescalina. Um afago sensorial que nos soterra nas profundezas
da nirvânica introspecção. Escancarem as portas da percepção e testemunhem um bíblico
dilúvio da consciência ao profético som de uma guitarra alucinógena que se espreguiça
vagarosamente num perpétuo e obsessivo loop de serpenteantes,
caleidoscópicos, viajantes e imaginativos acordes onde ecoam uivantes, ácidos, translúcidos
e intoxicantes solos levados pela odorosa brisa do deserto, um baixo murmurante
de linhas quentes, obesas, coesas e ondeantes que persegue e sombreia todas as estonteantes
incursões da guitarra, e uma bateria hipnótica de ofuscante luzência seráfica e
contagiantes ritmos tribais que tiquetaqueia com irretocável precisão toda esta
maravilhosa digressão pelos longos e sinuosos desfiladeiros da nossa alma. São
38 minutos de um edénico, quimérico e absorvente ritual que nos dilata as
pupilas e desanuviam os páramos da espiritualidade. ‘Long Walk of the Navajo’
é um peiote sonoro que nos faz sonhar acordados. Um álbum mesmérico, sem porta
de saída, que nos enfeitiça e gravita em seu redor bem para lá do seu corpo
temporal. Um oásis de frescas águas marulhantes, farta vegetação verdejante e
reconforto mental onde nos recostamos e entregamos aos braços da ataraxia. Comunguem-no
sem defesas.
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➥ Heavy Psych Sounds
quinta-feira, 15 de junho de 2023
quarta-feira, 14 de junho de 2023
Review: 🌌 MOUTH - 'Getaway' (2023) 🌌
Depois de um
jejum discográfico de cinco anos – que principiara com o triste falecimento do
baixista Gerald Kirsch – a banda germânica MOUTH – localizada na
cidade de Colónia e que conta já com duas décadas de existência –
regressa agora com o lançamento do seu quarto trabalho de longa duração,
intitulado ‘Getaway’ e lançado sob a forma física de LP através da editora,
sua compatriota, This Charming Man. Climatizado por um magistral,
magnetizante, enleante e celestial Progressive Rock de roupagem setentista,
natureza fantasista e um vistoso sotaque Canterbury’esco, que integra discretas
moléculas de um deslumbrante, colorido e dançante Psychedelic Rock, um arlequinesco,
gaiteiro e enfeitiçante Jazz-Fusion e até de um experimental, absorvente
e sideral Krautrock, este novo álbum de MOUTH faz a ponte
perfeita entre clássicas referências do género como Soft Machine, YES,
Caravan, Gentle Giant e Genesis, e outras contemporâneas
como Hypnos69, Colour Haze, Astra, Birth e Sacri
Monti. Embrumados pelas cintilantes e fantasmagóricas poeiras estelares, viajados
pela intensa pretura que pavimenta a perpétua vacuidade cósmica, e inebriados
pelo odoroso e psicotrópico misticismo de ‘Getaway’, somos prontamente
eclipsados e maravilhados pela sonoridade catártica, onírica e camaleónica da
banda alemã. Compartimentado em sete temas, sendo que o introdutório – uma épica
suite de opulenta composição e cintilantes 23 minutos de duração que dá nome a
esta fantástica obra – reclama para si mesmo a maior fatia do protagonismo, ‘Getaway’
navega através dos oceanos cósmicos em constante mutação. Um subtil pêndulo que
tanto nos eteriza e nebuliza nas sublimes e sonhadoras passagens oxigenadas a
morfínica e melancólica ataraxia, como nos sacode e explode com vertiginosas e
aparatosas galopadas locomovidas a vulcânica e aparatosa euforia. Na composição
deste fármaco sagrado convivem em harmonia uma guitarra aventureira que se manifesta em babilónicos, majestosos,
esponjosos e epopeicos riffs de onde são vertidos, uivados e esvoaçados delirantes, ácidos,
lampejantes e estonteantes solos, um baixo baloiçante de linhas sombreadas, avultadas
e pululantes, uma bateria tribal de pratos flamejantes, acrobáticos timbalões e
estimulante ritmicidade, um polposo teclado de tonalidade vintage que nos dilata as pupilas e estanca
a respiração com os seus intrigantes, refrescantes e aquosos mugidos, e uma voz
profética, de tez amarelada, harmoniosa, sedosa e azedada, que nos faroliza e
canaliza nesta quimérica odisseia pelo admirável universo de MOUTH.
Deixem-se cair na salivante boca deste power-trio germânico e diluir na sua açucarada
musicalidade.
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terça-feira, 13 de junho de 2023
segunda-feira, 12 de junho de 2023
domingo, 11 de junho de 2023
sábado, 10 de junho de 2023
sexta-feira, 9 de junho de 2023
quinta-feira, 8 de junho de 2023
Review: ⚓️ The Silver Linings - 'The Silver Linings' EP (2023) ⚓️
Da cidade
sulista de Málaga (Andaluzia, Espanha) chega-nos um dos
mais sérios candidatos a melhor registo de curta duração de 2023. ‘The
Silver Linings’ é o homónimo EP de estreia (e que estreia!) da banda
andaluza, lançado sob a exclusiva forma digital, mas com a promessa do
lançamento de um LP calendarizado para o outono debaixo da alçada do influente
selo discográfico local Spinda Records (com o qual o quinteto acaba de
celebrar um vínculo contratual). Este sumarento cocktail tricolor, onde
se identifica e apalada um colorido, caleidoscópico, exótico e ensolarado Psychedelic
Rock – a fazer recordar Causa Sui, Papir e Sun River – de fragância oceânica,
calor tropical e acidez sessentista, um alucinógeno, ritualístico,
místico e sideral Space Rock de alienígena idioma Hawkwind’esco, escapismo
sónico e amplificação consciencial, e um galopante, ritmado, magnético e
contagiante Krautrock de absorvente pulsação CAN’ica que mumifica
o ouvinte na sua inescapável teia sonora, provoca no ouvinte todo um arco-íris
de boas sensações que o aureola do primeiro ao derradeiro tema. A sua sonoridade ataráxica,
viajante, deslumbrante e camaleónica embala-nos numa vertiginosa hipnose – rica
em sacarose – que nos subtrai a lucidez e mergulha nas profundezas da sinestésica
embriaguez. De olhar ofuscado por uma intensa luzência diamantina, narinas
dilatadas na inalação da cheirosa brisa marítima, ouvidos salivantes onde
penetra o grasnar de gaivotas esvoaçantes, sorriso desabrochado no rosto
bronzeado e pés desnudos, soterrados nas suavizantes e douradas areias onde um
perpétuo vai-e-vem de frescas e espumosas ondas desmaiam, somos eclipsados e
sedados pela paradisíaca toxicidade de The Silver Linings. Na composição
desta irresistível iguaria mediterrânica perfilam-se duas guitarras lisérgicas que
se enlaçam em dançantes, voluptuosos e refrescantes acordes e desenlaçam em escorregadios,
prismáticos e fugidios solos, um baixo murmurante de linhas saltitantes, hipnóticas
e ondeantes, uma bateria propulsiva – aliada a uma percussão tribal – de ritmos
quentes, movediços e absorventes, um quimérico teclado de mil coros angelicais,
e uma voz robotizada, distorcida e espectral. A maravilhosa e chamativa ilustração
desta bonita obra aponta os seus créditos autorais ao artista espanhol Antonio
Ramírez, que traduzira com exactidão para o universo visual todo o
psicadelismo pelágico que navega a musicalidade desta jovem banda. ‘The
Silver Linings’ é um nirvânico sonho acordado. A banda-sonora perfeita para
musicar o verão que se avizinha. Deixem-se dissolver e embevecer nesta
esponjosa e deleitosa odisseia marítima, e se avistarem o deus Poseidon, talvez
não seja uma miragem.
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quarta-feira, 7 de junho de 2023
terça-feira, 6 de junho de 2023
segunda-feira, 5 de junho de 2023
Review: 🔮 Lars Fredrik Frøislie - 'Fire Fortellinger' (2023) 🔮
Da
cidade-capital norueguesa de Oslo chega-nos o mirífico álbum de estreia
do multi-instrumentista Lars Fredrik Frøislie (teclista de Wobbler),
que conta com a colaboração do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9
e Needlepoint). Recém-lançado pela mão do influente selo discográfico norueguês
Karisma Records nos formatos físicos de LP e CD, ‘Fire
Fortellinger’ vem climatizado por um medieval, romanesco, poético e magistral
Progressive Rock de épica dramaturgia que passeia de mãos dadas a um primaveril,
charmoso, odoroso e pastoril Folk pincelado a enternecedora melancolia. Norteada
pela intrigante mitologia escandinava e cativantes relatos de eventos
ancestrais, bem como impregnada em indiscretas influências britânicas resgatadas
dos dourados anos 70 como YES, Gentle Giant, Genesis, Jade Warrior, Camel e Emerson,
Lake & Palmer, a sua quimérica, estética e novelesca sonoridade caminha
airosa e graciosamente pelas sumptuosas, frescas e cheirosas melodias que
compõem este primeiro e glorioso passo discográfico a solo do talentoso músico
nórdico. Esculpido por composições de traje aristocrático, natureza erudita e
destreza irrepreensível, ‘Fire Fortellinger’ conduz o ouvinte pelas
virginais paisagens naturais da velha Noruega. Uma reparadora, ataráxica
e libertadora experiência, sublimemente musicada por toda uma mística, nirvânica
e onírica profusão de enfeitiçantes teclados clássicos (cravo, Mellotron,
MiniMoog, Yamaha CP70 e um órgão Hammond) – de onde saltitam soltas e consonantes
notas de beleza lapidar, esvoaçam imersivos e expressivos bailados serpenteantes,
e mugem polposos e misteriosos coros astrais e inebriantes –, um vistoso baixo
de linhas possantes, magnéticas, elásticas e ondeantes que sombreia e mareia
este navio viking, uma cintilante, acrobática, fogosa e enfática bateria
– de apaixonante requinte jazzístico – que pauta com distinção tanto a quimérica
quietação como a troante comoção, e uma voz lírica, sóbria e profética –
entoada no seu idioma nativo – que completa na perfeição esta caprichada, doce e
frutada fragrância norueguesa. Este é um álbum imensamente garboso, primoroso e
enleante que nos faz dançar e sonhar bem alto. Uma obra extraordinariamente
cativante, inspiradora e divinal, de arquitectura cerebral e beatitude imortal,
que em nós causa todo um apego impossível de quebrar e uma imensa
permeabilidade emocional. Um purificante bálsamo de lívida brancura que nos
cega de devota fascinação e reconforta nos braços da plena jubilação. Deixem-se
absorver e embevecer nesta encantadora epopeia nórdica e vivenciem – com um incontrariável
sorriso no rosto, uma inapagável expressão fantasista no olhar e uma
imperturbável sensação de bem-estar na alma – todo o mágico esplendor de um
disco batizado pelos astros.
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