domingo, 30 de junho de 2024
🎬 Cinema & TV de Abril, Maio e Junho
Rio
Bravo (1959) de Howard Hawks
★★★★☆
The Prestige (2006) de Christopher Nolan ★★★★★
The Shining (1980) de Stanley Kubrick ★★★★★
Lost Women of Highway 20 S01 (2023) de Arianna
LaPenne ★★★★☆
Perfect Days (2023) de Wim Wenders ★★★★☆
Little Children (2006)
de Todd Field
★★★★☆
LaRoy, Texas (2023) de Shane
Atkinson ★★★★☆
Late Night with the
Devil (2023) de Cameron Cairnes & Colin Cairnes ★★★★☆
The Walking Dead: The Ones Who Live S01 (2024) de Scott M. Gimple,
Danai Gurira & Andrew Lincoln ★★★★☆
Kelly’s Heroes (1970)
de Brian G. Hutton ★★★★☆
Poor Things (2023) de Yorgos Lanthimos ★★★★★
Gojira -1.0 (2023) de Takashi
Yamazaki ★★★★☆
What Jennifer Did (2024)
de Jenny Popplewell ★★★☆☆
Silverado (1985) de Lawrence
Kasdan ★★★☆☆
The Covenant (2023) de Guy Ritchie ★★★★☆
Cuando acecha la Maldad (2023) de Demián Rugna ★★★☆☆
Das Boot (1981) de Wolfgang Petersen ★★★★★
Heojil Kyolshim (2022)
de Park Chan-Wook ★★★☆☆
Dial M for Murder (1954) de Alfred Hitchcock ★★★★★
Monsters Inside: The 24 Faces of Billy Milligan S01 (2021) de Olivier
Megaton ★★★☆☆
The Town (2010) de Ben Affleck ★★★★☆
Khane-ye doust
kodjast? (1987) de Abbas Kiarostami ★★★★☆
The Devil’s Advocate
(1997) de Taylor Hackford ★★★☆☆
Severance S01 (2022) de Dan Erickson ★★★★★
Die Ehe der Maria Braun (1979) de Rainer Werner
Fassbinder ★★★☆☆
sábado, 29 de junho de 2024
sexta-feira, 28 de junho de 2024
quinta-feira, 27 de junho de 2024
Review: 🧙🏻♀️ All Them Witches + Jesus the Snake @ Hard Club, Porto 🧙🏻♀️
Foi já com o Hard
Club muito bem composto (e a caminhar a passos apressados para a lotação esgotada)
que os minhotos Jesus the Snake – regressados de um hiato e carregando o
peso da responsabilidade que é abrir para uma banda da montanhosa influência de
All Them Witches – davam início ao seu lisérgico ritual. De cerveja
empunhada, pálpebras tombadas e corpos lentamente baloiçados comungámos aquelas
anestésicas brisas de um viajante, ensolarado, delicado, arejado e deslumbrante
Psychedelic Rock de sotaque Pink Floyd’eano, radioso clima
californiano e salgado sabor a mar. Desdobrando longas, reflexivas, lenitivas e
ambientais faixas instrumentais com vista desabrigada para a imensa noite
cósmica, o quinteto natural de Vizela oxigenou e apaziguou todos os presentes com
uma pachorrenta, ternurenta e celestial sonoridade que nos abrira as comportas
do universo onírico e embalsamara num imperturbável estado mesmérico. Uma
performance governada pela mansidão que nem os entusiasmados gritos da sua
claque trazida de casa conseguiram perturbar. Flutuámos leve e calmamente pelas
quietas, paradisíacas e inanimadas águas de Jesus the Snake e só no
último tema fomos arrancados da hipnose com um colorido, absorvente e ritmado
safari que devolvera a lucidez ao nosso corpo e mente. Foi o fármaco perfeito
para instaurar em cada um de nós a bonança antes da catártica tempestade tomar conta dos nossos céus.
Seguiam-se os
responsáveis pelo preenchimento total da sala de maiores dimensões do Hard Club numa fresca e húmida noite de nevoeiro na cidade do Porto:
os já icónicos e largamente venerados All them Witches. Recordo-me com
bastante clareza do momento em que tropecei no seu irrepetível ‘Lightning at
the Door’ (lançado em 2013) e ficar de queixo caído durante muito, muito
tempo, até que os pude vivenciar com o coração em chamas no já longínquo ano de
2016 no SonicBlast (experiência aqui traduzida em palavras). Daí
para cá seguiu-se o impopular cancelamento daquela que seria mais uma aparição
da banda no SonicBlast (corria o ano de 2022) e, mais recentemente, o
surpreendente anúncio da saída do baterista Robby Staebler com a banda
já de malas feitas para começar a trilhar a tour europeia onde este
concerto se insere. A substituição do músico foi imediata, mas a escolha,
principalmente por desconhecimento, levantou uma monolítica onda de desconfiança
que ainda hoje se vai mantendo. E por isso, devo antecipar-me e admitir – sem reservas
– que fiquei desiludido com a performance do novo baterista. Não só por me
parecer tecnicamente bastante preso de movimentos, barulhento e demasiado simplista,
como o som estridente, destemperado e dissonante tem muitas dificuldades em
adaptar-se e fundir-se na harmonia superiormente musicada pelos restantes
instrumentos. Logo às primeiras batidas, todos em meu redor se olharam entre si,
completamente estupefactos com o insípido e incisivo som extraído daquela
tarola que mais parecia ter sido (des)afinada pelo Lars Ulrich (Metallica),
e não foi nada fácil tentar abstrair-me da bateria durante todo o concerto. Ainda
assim, e apesar deste ter sido um detalhe demasiado relevante para conseguir ignorá-lo,
a banda presenteou toda uma plateia salivante com uma setlist
equilibrada que deu música a muitos dos temas secretamente mais suspirados por
cada um de nós. Aos primeiros acordes reconhecidos pelo público do misterioso e
esponjoso tema introdutório “See You Next Fall”, embarcámos numa
gratificante experiência pelo ardente, caramelizado, condimentado e atraente Psychedelic
Rock, regado pelo bourbon (ou a banda não fosse natural do Tennessee)
de um fogoso, provocante, afrodisíaco e lustroso Blues Rock. Combinando
uma guitarra irrepreensível de riffs viciantes, grossos, nervudos e
escaldantes de onde se desatam serpenteantes, detalhados, comoventes e
esvoaçantes solos, um baixo de pulso latejante que se conduz por linhas oleadas,
tonificadas, elásticas e pesadamente sombreadas, uma bateria retumbante, ainda
que esforçada, mas demasiado barulhenta, um fresco, quimérico e romanesco teclado
de bailados deliciosamente swingados, e uma voz liderante de tez
açucarada, melodiosa e aveludada, os All Them Witches envolveram-nos, namoraram-nos
e enfeitiçaram-nos com a contagiante efervescência de “When God Comes Back”,
a edénica fragância de “The Marriage of Coyote Woman”, o intenso magnetismo
de “Charles William” e a ritualística absorção de “Mountain”
(todas extraídas do meu álbum favorito) com a qual finalizaram o tempo
regulamentar da sua actuação antes da saída e anunciada reentrada em palco, debaixo
de um apoteótico aplauso, para o já habitual encore (os amplificadores
ligados denunciam sempre um iminente regresso), desta feita com a execução da
impulsiva e propulsiva “Bulls” para finalizar um concerto que, aos meus
ouvidos, só não tocou as costuras fronteiriças da perfeição pela aparatosa dissonância
da bateria. Não querendo com isto promover um funeral artístico ao novo
baterista, até porque estou receptivo a que este me surpreenda pela positiva no
futuro (caso ele tenha futuro de baquetas empunhadas ao serviço de All Them
Witches), mas a verdade é que senti a ausência do baterista original em
praticamente todos os temas. No final, transpirados, mas sorridentes e com um
inapagável brilho no olhar, fomos arrastados pela forte corrente humana numa
maré alta que nos levou a passo de pinguim até ao exterior do Hard Club.
Termino esta crónica agradecendo aos suspeitos do costume (Ricardo e Telma)
pela oportunidade. Há um antes e um depois da aparição deste casal (Garboyl
Lives) no panorama da promoção musical em Portugal.
📸 Fotografias captadas por Daniela Jácome (Facebook / Instagram)
quarta-feira, 26 de junho de 2024
terça-feira, 25 de junho de 2024
segunda-feira, 24 de junho de 2024
sábado, 22 de junho de 2024
sexta-feira, 21 de junho de 2024
Review: 🍁 Moura - 'Fume Santo de Loureiro' EP (2024) 🍁
Depois do
assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente
namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui
trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura
lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado
pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records
nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar
uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e
trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que
escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal,
sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e
ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante
Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta
inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e
charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas
mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante
caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e
extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias
capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa
cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e
adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas
composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de
Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda
uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –,
vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais –
ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e
palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e
deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras
Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos
acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos,
dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de
toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo
hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo
de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e
consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de
novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma
atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele
atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico
– de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa
sem moderação. Eclipsem-se nele.
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➥ Spinda Records
quinta-feira, 20 de junho de 2024
quarta-feira, 19 de junho de 2024
segunda-feira, 17 de junho de 2024
Review: 🌞 Goblyns - 'Hunki Bobo' (2024) 🌞
Da capital
alemã chega-nos o imersivo, viciante e lenitivo psicadelismo divertidamente sambado
pelos berlinenses GOBLYNS com a apresentação do seu delicioso álbum de
estreia denominado ‘Hunki Bobo’ e lançado pela mão da germânica Crazysane
Records nos formatos LP, CD e digital. Baseado num multicolorido, sensual,
tropical e animado Psychedelic Rock de desértico clima Spaghetti Western
e carnavalescos ritmos balançados entre o Funk, o Surf Rock e o Afrobeat,
este primeiro registo do jovem tridente alemão embarca o ouvinte num exótico,
místico e empolgante safari pelas savanas tropicais. De influências apontadas a
referências como Kikagaku Moyo, The Budos Band, Khruangbin, Spindrift,
W.I.T.C.H., CAN, The Ventures, Man Or Astro-Man? e The
Meters, a magnética, refrescante, delirante e estética sonoridade de GOBLYNS
faz-nos baloiçar a cabeça, rodopiar as ancas, tombar as pálpebras, curvar a
linha labial na direcção do sorriso, salivar os ouvidos e saltitar os ombros. Um
sumarento, fresco, açucarado e saboroso cocktail servido num cálido
final de tarde, de pés enterrados na quente e bronzeada areia da praia e olhos cravados
no inalcançável horizonte de um brilhante e calmoso mar azul-turquesa onde se
debruça e desmaia um afogueado Sol crepuscular. ‘Hunki Bobo’ é um morno e borbulhante jacuzzi de efervescência psicotrópica que simultaneamente nos
relaxa e estimula. Uma alucinógena digressão pela imensa vastidão do profético deserto
onde peiotes irrompem no solo terroso e transpiram mescalina. Um afrodisíaco, deslumbrante
e paradisíaco caleidoscópio onde nos perdemos e embriagamos. Conduzido de forma
sinuosa por uma ensolarada guitarra de riffs serpenteantes, atmosféricos,
eróticos e enleantes, sombreado pelo bafo ardente de um fibroso baixo de linhas
ambulantes, elásticas, hipnóticas e dançantes, e brilhantemente tiquetaqueado
por uma bateria tribalista de cadências atraentes, descontraídas, extrovertidas
e absorventes, ‘Hunki Bobo’ faroliza e canaliza o ouvinte para um
verdadeiro oásis que nos massaja o corpo e o espírito. São 31 minutos de
nirvânica luzência que nos encandeia e incendeia de inefável prazer. Um álbum edénico,
irresistível e sorridente que nos contagia com a sua genuína alegria e perpetua
num estado de plena satisfação e bem-estar. Deixem-se absorver e enternecer por
esta letárgica euforia de contida excitação e adormeçam neste sonho acordado. A
banda-sonora perfeita para celebrar e emoldurar o verão que se avizinha está
aqui, no espirituoso, ziguezagueante, enfeitiçante e radioso psicadelismo de GOBLYNS.
É recomendável o uso de protector solar antes da exposição a esta intensa radiação
ultravioleta.
Links:
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➥ Bandcamp
➥ Crazysane Records
sábado, 15 de junho de 2024
sexta-feira, 14 de junho de 2024
quinta-feira, 13 de junho de 2024
quarta-feira, 12 de junho de 2024
Review: 🕷️ Bum Shelter - 'Bum Shelter' (2024) 🕷️
Da cidade-capital Viena chega-nos a exalação canábica baforada pelo dominante, sísmico e arrogante álbum de estreia do recém-formado quinteto austríaco Bum Shelter, lançado no final de abril através dos formatos cassete (pela mão da Capeet Records numa edição ultra-limitada a 150 cópias físicas) e digital. Obscurecido por um melancólico, montanhoso, tenebroso e distópico Psychedelic Doom polvilhado com condimentos cósmicos, e profanado por um fervilhante, pantanoso, viscoso e intoxicante Sludge Metal de cerrada e esverdeada nebulosidade, este primeiro passo discográfico de Bum Shelter embarca o ouvinte numa intrigante, mesmérica, caravânica e enfeitiçante digressão pelos umbrosos, fantasmagóricos e pavorosos trilhos da abissal introspecção. De inspiração colhida nos universos de Sleep, Weedeater, Bongzilla, Bell Witch, Pallbearer, Ahab, Shrinebuilder, Bongripper, Nortt e Ufomammut, a sua monolítica, cataclísmica, narcótica e infernal sonoridade tem a capacidade de nos paralisar, sufocar e soterrar nas profundezas da letargia. De cabeça pesadamente baloiçante, pálpebras caídas sobre um olhar embaciado, narinas dilatadas, respiração travada, semblante esbranquiçado e espírito integralmente sedado, caminhamos sonâmbulos e fascinados pelos territórios encarvoados, brumosos, trevosos e amaldiçoados de ‘Bum Shelter’. Uma vil, umbrosa e irresistível liturgia de preces arremessadas na direcção do profano que comungamos sem qualquer resistência. Mergulhem na vertiginosa fundura desta demoníaca, ácida e psicotrópica negrura, ancorados a uma guitarra inquisidora que hasteia riffs hipnóticos, intensos, sisudos e dramáticos, um baixo musculoso que bafeja linhas obesas, tensas, densas e coesas, uma bateria escaldante de ritmo intempestivo, estrepitoso, vigoroso e altivo, teclados vampíricos, espaciais, pirotécnicos e ritualísticos que exorcizam o Cosmos, e vocais urticantes, bolorentos, cavernosos e guturais de vestes rasgadas, caninos afiados e garras ensanguentadas. São 40 minutos de febril ardência, máxima potência, anestésica sonolência e nociva pestilência que nos desmaiam a lucidez, atestam de embriaguez e anoitecem a alma. Uma atmosfera angustiante, misteriosa, pecaminosa e intimidante – tão ociosa e libertadora quanto revoltosa e opressora – que nos seduz e conduz numa marcha fúnebre de encontro ao lado eclipsado da mente humana. ‘Bum Shelter’ é um registo nocturno, soturno e licantrópico que deve ser ouvido em noites de Lua cheia. Mumifiquem-se e deitem-se no interior deste sarcófago.
terça-feira, 11 de junho de 2024
segunda-feira, 10 de junho de 2024
domingo, 9 de junho de 2024
sexta-feira, 7 de junho de 2024
quarta-feira, 5 de junho de 2024
terça-feira, 4 de junho de 2024
segunda-feira, 3 de junho de 2024
Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part I' (2024) 🔮
Depois de farolizado e ofuscado
pela sagrada luminosidade irradiada pelo seu edénico álbum de estreia (aqui
descrito e imoderadamente elogiado) florescido na primavera de 2020, os
catalães Magick Brother & Mystic Sister regressam
agora com o lançamento – pela mão da companhia discográfica grega Sound
Effect Records nos formatos LP, CD (estes, entretanto, já esgotados) e digital – da
tão aguardada primeira de duas partes de uma enigmática e enfeitiçante sessão de cartomancia
sublimemente musicada. Abraçados pela negrura cósmica, magnetizados pelo olhar incisivo
de uma feiticeira, e sentados à mesa onde é aberto, em forma de leque, um
baralho tarot, vislumbramos, de sentidos vivazes e despertos, o nosso
passado, presente e futuro em cada uma das cartas que se vai revelando à nossa
frente. Mergulhados na profunda introspecção e absorvidos pela esponjosa fascinação,
comungamos todo o formoso, profético e miraculoso misticismo de ‘TAROT part I’ de velas içadas e sopradas ao
sabor dos suaves ventos suspirados por um multicolorido caleidoscópio de fragâncias
sonoras, onde flutuam de mãos dadas um lisérgico, alucinógeno e esotérico Neo-Psychedelic
Rock de essência trazida dos 60’s e com um discreto corante Pop, um outonal, fabular
e pastoral Folk de adornada moldura medieval, um deslumbrante, onírico e
apaixonante Progressive Rock de afável clima Canterbury’esco, e
ainda um cerimonial, alienígena e ambiental Cosmic Jazz de feitiçaria
electrónica que nos arremessa para os confins do Cosmos. Com inspirações
colhidas de clássicas referências como Gong, Pink Floyd (era Syd
Barrett), Ash Ra Tempel (assim como da obra a solo de Manuel
Göttsching), The Zodiac, Ultimate Spinach, Nektar, Daevid
Allen, Steve Hillage e Pierre Moerlin, a divinal, seráfica, mágica
e sacramental musicalidade de Magick Brother & Mystic Sister tem um
efeito calmante, reparador, emancipador e purificante que nos relaxa o corpo, massaja a
alma e estimula a espiritualidade. Mumificados pelas teias do misticismo, vogamos
pelo acetinado manto da noite astral com o destino das nossas vidas nas mãos do
oráculo. Uma nirvânica transcendência na endeusada companhia de sublimados teclados
que mugem intrigantes sirenes cósmicos e desdobram mágicos, tocantes e apaixonantes
bailados, uma bateria deliciosamente jazzística de ritmos orientais, atraentes,
quentes e tribais, um baixo contemplativo de linhas sombreadas, leves e onduladas,
uma guitarra uivante, poética e sidérica, uma flauta fabular de sopros frescos,
romanescos e aveludados, uma messiânica sitar de imersivos, magnetizantes
e enleantes serpenteios que nos alinham os chakras, e vocais etéreos, límpidos,
ecoantes e angelicais que nos banham e envolvem de luz e paz. ‘TAROT part I’
é um álbum conceptual, superiormente orquestrado a leveza, subtileza e fina
sensibilidade. Uma obra verdadeiramente bela e inspiradora, incensada por
poeiras estelares, que nos faz sorrir e revirar o olhar na direcção do universo
onírico. No final destes 42 minutos de terapêutica hipnose, reina o silêncio
que nos devolve a lucidez, a capacidade de respirar e pestanejar, e intensifica
em nós um apetite voraz pela segunda parte deste ritual. Percam-se e encontrem-se,
aventurem-se e desventurem-se neste paraíso fantasista – brilhantemente pensado
e edificado pelos Magick Brother & Mystic Sister – e vivenciem um
dos mais maviosos álbuns do ano.
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