Depois de ‘Windborne’
(aqui examinado), ‘Odense Sessions’ (aqui
examinado) e ‘Double Sun’ (aqui examinado), eis que o
jovem e talentoso tridente norueguês Kanaan – sediado na capital Oslo
– acaba de lançar o seu quarto álbum de estúdio, denominado de ‘Earthbound’
e carimbado pela companhia discográfica local Jansen Records através dos
formatos digital e vinil. Enegrecendo, dinamitando e robustecendo a
musicalidade que norteara os seus antecessores, este bombástico e aparatoso ‘Earthbound’ associa
um inflamante, tonificado, carregado e euforizante Heavy Psych de atemorizantes feições Doom’escas a um estonteante, acrobático, enfático e
electrizante Jazz-Rock lavrado a sónico experimentalismo, e
ainda a um imersivo, hipnótico, quimérico e meditativo Krautrock que
orvalha os efémeros estágios de etérea bonança nesta bélica e implacável tempestade instrumental. A sua sonoridade
intensamente efervescente, montanhosa, portentosa e erodente agiganta-se
perante o ouvinte num impactante, monolítico e chamejante tsunami de
endorfinas que o sombreia e incendeia de sísmica exaltação. Conseguem imaginar
os lendários Kyuss à saída de uma academia de Jazz com o diploma
debaixo do braço? Se sim, então acabam de pisar os abrasivos territórios onde
germinara e frutificara este novo álbum de Kanaan. Na composição do
combustível que nutre toda esta vertiginosa propulsão, alinham-se uma titânica guitarra
– banhada, distorcida e encrostada pelo infernal, crocante e borbulhante efeito
Fuzz – que vocifera fogosos, ciclónicos, tirânicos e monstruosos Riffs
de onde descarrilam nervosos, uivantes, ácidos e sinuosos solos, um fibrótico baixo
valvulado a linhas pulsantes, inchadas, onduladas e possantes, uma selvática bateria
em polvorosa que escoiceia – a frenética agilidade, enérgica explosividade e desmedida
tecnicidade – os timbalões trovejantes e os pratos relampejantes, e ainda um mágico
sintetizador que asperge a atmosfera do disco de um edénico misticismo estelar.
O artwork minimalista de design futurista aponta os seus créditos
autorais ao inconfundível artista sueco Robin Gnista. São 44 minutos
governados por um caótico bombardeamento que nos agride e amotina, aliado a um
psicotrópico atordoamento que nos embacia a lucidez e atesta de pesada
embriaguez. ‘Earthbound’ é um registo verdadeiramente expressivo,
pujante, tonitruante e incisivo – de longe o mais trevoso da sua discografia –
que fará estremecer de vibrante e caloroso empolgamento todo aquele que ousar
enfrentá-lo. Deixem-se arrastar e embalar à boleia da forte corrente de ‘Earthbound’,
e naufragar num centrifugado delírio. Um dos grandes discos do ano está aqui,
na revitalizante força dos transmutados Kanaan. É impossível escapar disto ileso. Encarvoem-se, revolvam-se e empoderem-se nele.
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