Depois da muito promissora
estreia com ‘Windborne’ (desconstruído e elogiado aqui), o
jovem e talentoso tridente norueguês Kanaan prepara-se agora para nos
presentear com o seu tão aguardado segundo trabalho de longa duração. Intitulado
de ‘Odense Sessions’ e com o seu lançamento oficial agendado para
o dia de amanhã através do insuspeito selo discográfico dinamarquês El
Paraiso Records sob a forma física de vinil (limitado a uma prensagem de
apenas 500 cópias disponíveis) e digital na extensão mp3, este novo
álbum da banda educada e norteada pela música Jazz conta com um reforço
de peso na guitarra: Jonas Munk (Causa Sui). Se o álbum de
estreia é capitaneado por uma dominante aura jazzística, transversal
a todos os seus temas integrantes, este quimérico ‘Odense Sessions’
investe com mais firmeza e ousadia num aromatizado, anestésico e ensolarado psicadelismo
de tez pastoril, bocejante, deslumbrante e primaveril que – aliado a uma veia
experimental conduzida a uma fluída, inventiva e muito descontraída espontaneidade
criativa – se desdobra pelas verdejantes, cheirosas e ondulantes planícies vigiadas
e afagadas pelo Sol crepuscular. Para além deste radioso, cristalino,
envolvente e delicioso Psychedelic Rock de agradável influência West
Coast, esta mágica e estupenda obra forjada e gravada pelo trio sediado na cidade-capital de Oslo no município dinamarquês de Odense (casa-mãe da El
Paraiso Records), vem também condimentada, adornada e massajada por um lenitivo, sublimado,
inspirado e meditativo Krautrock de apurada estética cinematográfica. De
narinas dilatadas a inalar e saborear a salgada brisa suspirada pela ondulação
oceânica, pálpebras semi-cerradas escondendo um tímido e inebriado olhar
encandeado pela intensa resplandecência bafejada pelo Sol, e alma extasiada e
relaxada num perfeito oásis sensorial, somos maravilhados, alcoolizados e
atordoados por um catártico e delirante transe espiritual que nos
climatiza e eteriza do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 45 minutos vertidos e diluídos
nas vertiginosas profundezas de uma edénica hipnose superiormente tricotada e canalizada por
duas guitarras dialogantes, encantadoras e ziguezagueantes que se esperneiam em
reconfortantes, místicos e fascinantes acordes e se entrançam em delirantes, orgásmicos
e serpenteantes solos, um baixo murmurante de linhas pulsantes, densas, distensas
e ondeantes, e uma sumptuosa bateria de sensibilidade, inteligência e
sagacidade jazzísticas que – com o seu toque flamejante, acrobático, ponderado
e elegante – tiquetaqueia e formoseia toda esta utópica digressão pela simbiótica
sedução de Kanaan. Este é um purificante álbum de luminância diáfana e
caleidoscópica, integralmente tecido a uma delicadeza e subtileza
verdadeiramente enternecedoras, que nos enfeitiça, petrifica e ancora num inamovível
estádio de febril embriaguez. Deixem-se prender, namorar e ofuscar pela irresistível, doce e
ternurenta misticidade que gravita todo este ‘Odense Sessions’, e testemunhem toda a admirável e venerável maturação de uma banda que há muito deixara
de ser uma dúvida para representar e ostentar a mais inabalável certeza. Percam-se e encontrem-se nele.
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