🎬 Cinema & TV de Abril, Maio e Junho

Rio Bravo (1959) de Howard Hawks   ★★★★☆
The Prestige (2006) de Christopher Nolan   ★★★★★
The Shining (1980) de Stanley Kubrick   ★★★★★
Lost Women of Highway 20 S01 (2023) de Arianna LaPenne   ★★★★☆
Perfect Days (2023) de Wim Wenders   ★★★★☆
Little Children (2006) de Todd Field   ★★★★☆
LaRoy, Texas (2023) de Shane Atkinson   ★★★★☆
Late Night with the Devil (2023) de Cameron Cairnes & Colin Cairnes   ★★★★☆
The Walking Dead: The Ones Who Live S01 (2024) de Scott M. Gimple, Danai Gurira & Andrew Lincoln   ★★★★☆
Kelly’s Heroes (1970) de Brian G. Hutton   ★★★★☆
Poor Things (2023) de Yorgos Lanthimos   ★★★★★
Gojira -1.0 (2023) de Takashi Yamazaki   ★★★★☆
What Jennifer Did (2024) de Jenny Popplewell   ★★★☆☆
Silverado (1985) de Lawrence Kasdan   ★★★☆☆
The Covenant (2023) de Guy Ritchie   ★★★★☆
Cuando acecha la Maldad (2023) de Demián Rugna   ★★★☆☆
Das Boot (1981) de Wolfgang Petersen   ★★★★★
Heojil Kyolshim (2022) de Park Chan-Wook   ★★★☆☆
Dial M for Murder (1954) de Alfred Hitchcock   ★★★★★
Monsters Inside: The 24 Faces of Billy Milligan S01 (2021) de Olivier Megaton   ★★★☆☆
The Town (2010) de Ben Affleck   ★★★★☆
Khane-ye doust kodjast? (1987) de Abbas Kiarostami   ★★★★
The Devil’s Advocate (1997) de Taylor Hackford   ★★★☆☆
Severance S01 (2022) de Dan Erickson   ★★★★★
Die Ehe der Maria Braun (1979) de Rainer Werner Fassbinder   ★★★☆☆

Review: 🧙🏻‍♀️ All Them Witches + Jesus the Snake @ Hard Club, Porto 🧙🏻‍♀️


Foi já com o Hard Club muito bem composto (e a caminhar a passos apressados para a lotação esgotada) que os minhotos Jesus the Snake – regressados de um hiato e carregando o peso da responsabilidade que é abrir para uma banda da montanhosa influência de All Them Witches – davam início ao seu lisérgico ritual. De cerveja empunhada, pálpebras tombadas e corpos lentamente baloiçados comungámos aquelas anestésicas brisas de um viajante, ensolarado, delicado, arejado e deslumbrante Psychedelic Rock de sotaque Pink Floyd’eano, radioso clima californiano e salgado sabor a mar. Desdobrando longas, reflexivas, lenitivas e ambientais faixas instrumentais com vista desabrigada para a imensa noite cósmica, o quinteto natural de Vizela oxigenou e apaziguou todos os presentes com uma pachorrenta, ternurenta e celestial sonoridade que nos abrira as comportas do universo onírico e embalsamara num imperturbável estado mesmérico. Uma performance governada pela mansidão que nem os entusiasmados gritos da sua claque trazida de casa conseguiram perturbar. Flutuámos leve e calmamente pelas quietas, paradisíacas e inanimadas águas de Jesus the Snake e só no último tema fomos arrancados da hipnose com um colorido, absorvente e ritmado safari que devolvera a lucidez ao nosso corpo e mente. Foi o fármaco perfeito para instaurar em cada um de nós a bonança antes da catártica tempestade tomar conta dos nossos céus.

Seguiam-se os responsáveis pelo preenchimento total da sala de maiores dimensões do Hard Club numa fresca e húmida noite de nevoeiro na cidade do Porto: os já icónicos e largamente venerados All them Witches. Recordo-me com bastante clareza do momento em que tropecei no seu irrepetível ‘Lightning at the Door’ (lançado em 2013) e ficar de queixo caído durante muito, muito tempo, até que os pude vivenciar com o coração em chamas no já longínquo ano de 2016 no SonicBlast (experiência aqui traduzida em palavras). Daí para cá seguiu-se o impopular cancelamento daquela que seria mais uma aparição da banda no SonicBlast (corria o ano de 2022) e, mais recentemente, o surpreendente anúncio da saída do baterista Robby Staebler com a banda já de malas feitas para começar a trilhar a tour europeia onde este concerto se insere. A substituição do músico foi imediata, mas a escolha, principalmente por desconhecimento, levantou uma monolítica onda de desconfiança que ainda hoje se vai mantendo. E por isso, devo antecipar-me e admitir – sem reservas – que fiquei desiludido com a performance do novo baterista. Não só por me parecer tecnicamente bastante preso de movimentos, barulhento e demasiado simplista, como o som estridente, destemperado e dissonante tem muitas dificuldades em adaptar-se e fundir-se na harmonia superiormente musicada pelos restantes instrumentos. Logo às primeiras batidas, todos em meu redor se olharam entre si, completamente estupefactos com o insípido e incisivo som extraído daquela tarola que mais parecia ter sido (des)afinada pelo Lars Ulrich (Metallica), e não foi nada fácil tentar abstrair-me da bateria durante todo o concerto. Ainda assim, e apesar deste ter sido um detalhe demasiado relevante para conseguir ignorá-lo, a banda presenteou toda uma plateia salivante com uma setlist equilibrada que deu música a muitos dos temas secretamente mais suspirados por cada um de nós. Aos primeiros acordes reconhecidos pelo público do misterioso e esponjoso tema introdutório “See You Next Fall”, embarcámos numa gratificante experiência pelo ardente, caramelizado, condimentado e atraente Psychedelic Rock, regado pelo bourbon (ou a banda não fosse natural do Tennessee) de um fogoso, provocante, afrodisíaco e lustroso Blues Rock. Combinando uma guitarra irrepreensível de riffs viciantes, grossos, nervudos e escaldantes de onde se desatam serpenteantes, detalhados, comoventes e esvoaçantes solos, um baixo de pulso latejante que se conduz por linhas oleadas, tonificadas, elásticas e pesadamente sombreadas, uma bateria retumbante, ainda que esforçada, mas demasiado barulhenta, um fresco, quimérico e romanesco teclado de bailados deliciosamente swingados, e uma voz liderante de tez açucarada, melodiosa e aveludada, os All Them Witches envolveram-nos, namoraram-nos e enfeitiçaram-nos com a contagiante efervescência de “When God Comes Back”, a edénica fragância de “The Marriage of Coyote Woman”, o intenso magnetismo de “Charles William” e a ritualística absorção de “Mountain” (todas extraídas do meu álbum favorito) com a qual finalizaram o tempo regulamentar da sua actuação antes da saída e anunciada reentrada em palco, debaixo de um apoteótico aplauso, para o já habitual encore (os amplificadores ligados denunciam sempre um iminente regresso), desta feita com a execução da impulsiva e propulsiva “Bulls” para finalizar um concerto que, aos meus ouvidos, só não tocou as costuras fronteiriças da perfeição pela aparatosa dissonância da bateria. Não querendo com isto promover um funeral artístico ao novo baterista, até porque estou receptivo a que este me surpreenda pela positiva no futuro (caso ele tenha futuro de baquetas empunhadas ao serviço de All Them Witches), mas a verdade é que senti a ausência do baterista original em praticamente todos os temas. No final, transpirados, mas sorridentes e com um inapagável brilho no olhar, fomos arrastados pela forte corrente humana numa maré alta que nos levou a passo de pinguim até ao exterior do Hard Club. Termino esta crónica agradecendo aos suspeitos do costume (Ricardo e Telma) pela oportunidade. Há um antes e um depois da aparição deste casal (Garboyl Lives) no panorama da promoção musical em Portugal.

📸 Fotografias captadas por Daniela Jácome (Facebook / Instagram)

Review: 🍁 Moura - 'Fume Santo de Loureiro' EP (2024) 🍁

★★★★

Depois do assombroso álbum de estreia (aqui textualizado e desavergonhadamente namorado) e do seu fantástico sucessor ‘Axexan, Espreitan’ (aqui trazido e imoderadamente elogiado), o druídico sexteto galego Moura lança agora um apaixonante EP intitulado ‘Fume Santo de Loureiro’, carimbado pelo insuspeito selo da editora discográfica espanhola Spinda Records nos formatos LP, CD e digital, e nascido com o especial propósito de musicar uma dramática curta-metragem chamada “Nai” rodada na Galiza. Colhidos e trazidos dos idosos, místicos, ritualísticos e frondosos bosques galegos que escondem santuários de celebração wicca, um esotérico, outonal, sacramental e romanesco Folk de adoração pagã que desenterra e ressuscita velhas mitologias locais, um serpenteante, inquisidor, sonhador e enfeitiçante Progressive Rock de exuberantes trajes medievais e uma indiscreta inspiração setentista, e ainda um misterioso, bucólico, caleidoscópico e charmoso Psychedelic Rock de forte odor vintage são submetidos a enigmáticas mezinhas, incensados por secretas especiarias e então revolvidos num fumegante caldeirão de ferro, abraçado pelas chamas e em borbulhante ebulição. A sua cativante, mágica, seráfica e intrigante musicalidade anestesia, captura e extasia o ouvinte com esfíngicas, majestosas, sumptuosas e estéticas melodias capazes de lhe dilatar as pupilas e situá-lo numa inquietante narrativa cinematográfica envolta em indecifráveis mistérios que se multiplicam e adensam. Superiormente tricotado por grandiosas, formosas, excelsas e gloriosas composições que nos estremecem, embevecem e empoderam, ‘Fume Santo de Loureiro’ tem na curta duração o seu único defeito. Sobressaídos de toda uma irrepreensível simbiose instrumental – orquestrada de forma excepcional –, vagueiam livremente os harmoniosos, ensolarados, aveludados e odorosos vocais – ora isolados, ora coligados – cantarolados na sua língua materna, crepitam e palpitam chocalhantes pandeiretas, explodem os gongos orientais de quente e deífica luzência que nos inunda a alma, desfilam vaidosamente trovadoras guitarras Wishbone Ash’eanas de faustosos, minuciosos, galantes e poderosos acordes, mugem quiméricos teclados de enfeitiçantes coros gregorianos e polposos, dramáticos, cósmicos e enfáticos bailados, troteia uma acrobática bateria de toque polido, cintilante, flamejante e preciso, e bafeja pesadamente um baixo hipnótico de linhas marcantes, parrudas, sisudas e sufocantes. ‘Fume Santo de Loureiro’ simboliza o lado mais ousado e experimental de Moura, e consequentemente a admirável capacidade da banda galega de adaptação e conquista de novos territórios musicais. Um EP oxigenado a pura beatitude e murado por uma atmosfera intimista, pastoral, cerimonial e intriguista que nos mantém a ele atrelados do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo verdadeiramente epopeico – de pequena duração, mas demorada fascinação – que nos respira, arrepia e embruxa sem moderação. Eclipsem-se nele.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Spinda Records

Review: 🌞 Goblyns - 'Hunki Bobo' (2024) 🌞

★★★★

Da capital alemã chega-nos o imersivo, viciante e lenitivo psicadelismo divertidamente sambado pelos berlinenses GOBLYNS com a apresentação do seu delicioso álbum de estreia denominado ‘Hunki Bobo’ e lançado pela mão da germânica Crazysane Records nos formatos LP, CD e digital. Baseado num multicolorido, sensual, tropical e animado Psychedelic Rock de desértico clima Spaghetti Western e carnavalescos ritmos balançados entre o Funk, o Surf Rock e o Afrobeat, este primeiro registo do jovem tridente alemão embarca o ouvinte num exótico, místico e empolgante safari pelas savanas tropicais. De influências apontadas a referências como Kikagaku Moyo, The Budos Band, Khruangbin, Spindrift, W.I.T.C.H., CAN, The Ventures, Man Or Astro-Man? e The Meters, a magnética, refrescante, delirante e estética sonoridade de GOBLYNS faz-nos baloiçar a cabeça, rodopiar as ancas, tombar as pálpebras, curvar a linha labial na direcção do sorriso, salivar os ouvidos e saltitar os ombros. Um sumarento, fresco, açucarado e saboroso cocktail servido num cálido final de tarde, de pés enterrados na quente e bronzeada areia da praia e olhos cravados no inalcançável horizonte de um brilhante e calmoso mar azul-turquesa onde se debruça e desmaia um afogueado Sol crepuscular. ‘Hunki Bobo’ é um morno e borbulhante jacuzzi de efervescência psicotrópica que simultaneamente nos relaxa e estimula. Uma alucinógena digressão pela imensa vastidão do profético deserto onde peiotes irrompem no solo terroso e transpiram mescalina. Um afrodisíaco, deslumbrante e paradisíaco caleidoscópio onde nos perdemos e embriagamos. Conduzido de forma sinuosa por uma ensolarada guitarra de riffs serpenteantes, atmosféricos, eróticos e enleantes, sombreado pelo bafo ardente de um fibroso baixo de linhas ambulantes, elásticas, hipnóticas e dançantes, e brilhantemente tiquetaqueado por uma bateria tribalista de cadências atraentes, descontraídas, extrovertidas e absorventes, ‘Hunki Bobo’ faroliza e canaliza o ouvinte para um verdadeiro oásis que nos massaja o corpo e o espírito. São 31 minutos de nirvânica luzência que nos encandeia e incendeia de inefável prazer. Um álbum edénico, irresistível e sorridente que nos contagia com a sua genuína alegria e perpetua num estado de plena satisfação e bem-estar. Deixem-se absorver e enternecer por esta letárgica euforia de contida excitação e adormeçam neste sonho acordado. A banda-sonora perfeita para celebrar e emoldurar o verão que se avizinha está aqui, no espirituoso, ziguezagueante, enfeitiçante e radioso psicadelismo de GOBLYNS. É recomendável o uso de protector solar antes da exposição a esta intensa radiação ultravioleta.

Links:
➥ Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Crazysane Records

Review: 🕷️ Bum Shelter - 'Bum Shelter' (2024) 🕷️

★★★★

Da cidade-capital Viena chega-nos a exalação canábica baforada pelo dominante, sísmico e arrogante álbum de estreia do recém-formado quinteto austríaco Bum Shelter, lançado no final de abril através dos formatos cassete (pela mão da Capeet Records numa edição ultra-limitada a 150 cópias físicas) e digital. Obscurecido por um melancólico, montanhoso, tenebroso e distópico Psychedelic Doom polvilhado com condimentos cósmicos, e profanado por um fervilhante, pantanoso, viscoso e intoxicante Sludge Metal de cerrada e esverdeada nebulosidade, este primeiro passo discográfico de Bum Shelter embarca o ouvinte numa intrigante, mesmérica, caravânica e enfeitiçante digressão pelos umbrosos, fantasmagóricos e pavorosos trilhos da abissal introspecção. De inspiração colhida nos universos de Sleep, Weedeater, Bongzilla, Bell Witch, Pallbearer, Ahab, ShrinebuilderBongripper, Nortt e Ufomammut, a sua monolítica, cataclísmica, narcótica e infernal sonoridade tem a capacidade de nos paralisar, sufocar e soterrar nas profundezas da letargia. De cabeça pesadamente baloiçante, pálpebras caídas sobre um olhar embaciado, narinas dilatadas, respiração travada, semblante esbranquiçado e espírito integralmente sedado, caminhamos sonâmbulos e fascinados pelos territórios encarvoados, brumosos, trevosos e amaldiçoados de ‘Bum Shelter’. Uma vil, umbrosa e irresistível liturgia de preces arremessadas na direcção do profano que comungamos sem qualquer resistência. Mergulhem na vertiginosa fundura desta demoníaca, ácida e psicotrópica negrura, ancorados a uma guitarra inquisidora que hasteia riffs hipnóticos, intensos, sisudos e dramáticos, um baixo musculoso que bafeja linhas obesas, tensas, densas e coesas, uma bateria escaldante de ritmo intempestivo, estrepitoso, vigoroso e altivo, teclados vampíricos, espaciais, pirotécnicos e ritualísticos que exorcizam o Cosmos, e vocais urticantes, bolorentos, cavernosos e guturais de vestes rasgadas, caninos afiados e garras ensanguentadas. São 40 minutos de febril ardência, máxima potência, anestésica sonolência e nociva pestilência que nos desmaiam a lucidez, atestam de embriaguez e anoitecem a alma. Uma atmosfera angustiante, misteriosa, pecaminosa e intimidante – tão ociosa e libertadora quanto revoltosa e opressora – que nos seduz e conduz numa marcha fúnebre de encontro ao lado eclipsado da mente humana.  ‘Bum Shelter’ é um registo nocturno, soturno e licantrópico que deve ser ouvido em noites de Lua cheia. Mumifiquem-se e deitem-se no interior deste sarcófago.

Links:
➥ Instagram
➥ 
Bandcamp

Review: 🔮 Magick Brother & Mystic Sister - 'TAROT part I' (2024) 🔮

★★★★

Depois de farolizado e ofuscado pela sagrada luminosidade irradiada pelo seu edénico álbum de estreia (aqui descrito e imoderadamente elogiado) florescido na primavera de 2020, os catalães Magick Brother & Mystic Sister regressam agora com o lançamento – pela mão da companhia discográfica grega Sound Effect Records nos formatos LP, CD (estes, entretanto, já esgotados) e digital – da tão aguardada primeira de duas partes de uma enigmática e enfeitiçante sessão de cartomancia sublimemente musicada. Abraçados pela negrura cósmica, magnetizados pelo olhar incisivo de uma feiticeira, e sentados à mesa onde é aberto, em forma de leque, um baralho tarot, vislumbramos, de sentidos vivazes e despertos, o nosso passado, presente e futuro em cada uma das cartas que se vai revelando à nossa frente. Mergulhados na profunda introspecção e absorvidos pela esponjosa fascinação, comungamos todo o formoso, profético e miraculoso misticismo de ‘TAROT part I’ de velas içadas e sopradas ao sabor dos suaves ventos suspirados por um multicolorido caleidoscópio de fragâncias sonoras, onde flutuam de mãos dadas um lisérgico, alucinógeno e esotérico Neo-Psychedelic Rock de essência trazida dos 60’s e com um discreto corante Pop, um outonal, fabular e pastoral Folk de adornada moldura medieval, um deslumbrante, onírico e apaixonante Progressive Rock de afável clima Canterbury’esco, e ainda um cerimonial, alienígena e ambiental Cosmic Jazz de feitiçaria electrónica que nos arremessa para os confins do Cosmos. Com inspirações colhidas de clássicas referências como Gong, Pink Floyd (era Syd Barrett), Ash Ra Tempel (assim como da obra a solo de Manuel Göttsching), The Zodiac, Ultimate Spinach, Nektar, Daevid Allen, Steve Hillage e Pierre Moerlin, a divinal, seráfica, mágica e sacramental musicalidade de Magick Brother & Mystic Sister tem um efeito calmante, reparador, emancipador e purificante que nos relaxa o corpo, massaja a alma e estimula a espiritualidade. Mumificados pelas teias do misticismo, vogamos pelo acetinado manto da noite astral com o destino das nossas vidas nas mãos do oráculo. Uma nirvânica transcendência na endeusada companhia de sublimados teclados que mugem intrigantes sirenes cósmicos e desdobram mágicos, tocantes e apaixonantes bailados, uma bateria deliciosamente jazzística de ritmos orientais, atraentes, quentes e tribais, um baixo contemplativo de linhas sombreadas, leves e onduladas, uma guitarra uivante, poética e sidérica, uma flauta fabular de sopros frescos, romanescos e aveludados, uma messiânica sitar de imersivos, magnetizantes e enleantes serpenteios que nos alinham os chakras, e vocais etéreos, límpidos, ecoantes e angelicais que nos banham e envolvem de luz e paz. ‘TAROT part I’ é um álbum conceptual, superiormente orquestrado a leveza, subtileza e fina sensibilidade. Uma obra verdadeiramente bela e inspiradora, incensada por poeiras estelares, que nos faz sorrir e revirar o olhar na direcção do universo onírico. No final destes 42 minutos de terapêutica hipnose, reina o silêncio que nos devolve a lucidez, a capacidade de respirar e pestanejar, e intensifica em nós um apetite voraz pela segunda parte deste ritual. Percam-se e encontrem-se, aventurem-se e desventurem-se neste paraíso fantasista – brilhantemente pensado e edificado pelos Magick Brother & Mystic Sister – e vivenciem um dos mais maviosos álbuns do ano.

Links:
 Facebook
 Instagram
 Bandcamp
 Sound Effect Records