🎬 Cinema de Julho, Agosto e Setembro

A Quiet Place (2018) de John Krasinski ★★★★☆
What we do in the Shadows (2014) de Jemaine Clement & Taika Waititi ★★★★★
Fury (2014) de David Ayer 
★★★★☆
Suspiria (1977) de Dario Argento 
★★★★☆
Villa Rides (1968) de Buzz Kulik 
★★★☆☆
Isle of Dogs (2018) de Wes Anderson 
★★★★☆
Gravity (2013) de Alfonso Cuarón 
★★★★☆
The Unforgiven (1960) de John Huston 
★★★☆☆
Bottle Shock (2008) de Randall Miller 
★★☆☆☆
Whiplash (2014) de Damien Chazelle 
★★★★★
The Ritual (2017) de David Bruckner 
★★★★☆
The Grey (2011) de Joe Carnahan 
★★★☆☆
Westworld S01 (2018) de Jonathan Nolan & Lisa Joy ★★★★★
The Tall Man (1955) de Raoul Walsh ★★★☆☆
Upgrade (2018) de Leigh Whannell ★★★★☆
Brawl in Cell Block 99 (2017) de S. Craig Zahler ★★★★☆
Comet (2014) de Sam Esmail ★★★☆☆
Hereditary (2018) de Ari Aster ★★★★☆
The Neon Demon (2016) de Nicolas Winding Refn ★★★☆☆
Morning of the Earth (1971) de Albert Falzon ★★★☆☆
Tourist Trap (1979) de David Schmoeller ★★★★☆
Angel Face (1953) de Otto Preminger ★★★★☆
Elle (2016) de Paul Verhoeven ★★★★☆
Witness for the Prosecution (1957) de Billy Wilder ★★★★★
Carnival of Souls (1962) de Herk Harvey ★★★☆☆
Saul Fia (2015) de László Nemes ★★★☆☆
House of Mortal Sin (1976) de Pete Walker ★★★★☆

Review: ⚡ All Them Witches - ‘ATW’ (2018) ⚡

É justo começar por referir que este era um dos álbuns mais aguardados do ano. Não só por mim, mas também por todos os restantes aficionados de All Them Witches, banda sediada na cidade norte-americana de Nashville (estado do Tennessee, EUA) que nos últimos anos tem visto o seu público alargar de forma exponencial e sem qualquer moderação. Sintoma claro de um reconhecimento meritório, essencialmente fundamentado na incrível amplitude criativa e inspiradora de uma das bandas mais populares e fascinantes do momento. Sendo eu um intratável apaixonado pelo seu segundo álbum (o inigualável ‘Lightning At The Door’ nascido no já longínquo ano de 2013) e um apreciador bem mais comedido em relação aos seus restantes trabalhos, este quinto e novo álbum de designação homónima despertava em mim todo um incontrariável pressentimento de estaria prestes a testemunhar todo o esplendor de um registo de natureza irrepreensível. E assim se materializou essa expectativa previamente hasteada. Lançado muito recentemente sob a forma física de CD e vinil através do selo discográfico texano New West Records (com o qual a banda vai amadurecendo a sua ligação contratual), ‘ATW’ presenteia o ouvinte com um delicioso cocktail sonoro de onde sobressai um inflamante, exótico e provocante Psych Rock de inspiração setentista, matizado de um dançante, rústico, refinado e inebriante Heavy Blues de aroma clássico com ousadas mas felizes aproximações ao carismático Delta-Blues lavrado e desabrochado nas idosas margens do rio Mississippi. A sua sonoridade de compleição heterogénea passeia-se envaidecidamente numa deslumbrante conjugação entre a intensa robustez e a afável suavidade, o ardente entusiasmo e a nirvânica mansidão, a elegante resplandecência e a pesada obscuridade. São esses os estádios mentais que nos invadem a alma assim que iniciamos e desenvolvemos a digressão pelas envolventes paisagens de ‘ATW’. Maravilhem-se com a fabulosa ostentação de uma guitarra que se serpenteia e incendeia em riffs hipnotizantes, fluídos, inventivos e euforizantes, e se esgota em uivantes, labirínticos, expressivos e desarmantes solos capazes de nos ferver e enlouquecer, um baixo murmurante de linhas possantes, curvadas, dinâmicas e ondulantes que nos desprendem a cabeça na sua perseguição, uma bateria arrojada e soberbamente conduzida a habilidade, sentimento e objectividade que nos espreme toda a adrenalina acumulada, uma voz mélica, edénica e delicada que sobrevoa todo o álbum com graciosa ternura, e ainda um onírico e perfumado teclado – que com os seus sidéricos bailados – borrifa de magia toda a atmosfera enfeitiçada de ‘ATW’. Este é um álbum produzido a sensualidade, capricho e sensibilidade que certamente agradará tanto a gregos como troianos. Deixem-se dissipar livremente pela paradisíaca torrente que percorre as artérias desta inspirada obra de All Them Witches e sintam-se desaguar num perfeito estádio de transe que vos climatizará tão para lá da duração do álbum. Verdadeira maviosidade em estado musical.
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sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Review: ⚡ Hypnos - ‘Set Fire to the Sky’ (2018) ⚡

Do território nórdico chega-nos ‘Set Fire to the Sky’, o quarto e novo álbum do quinteto sueco Hypnos. Oficialmente lançado hoje mesmo pela mão do influente selo discográfico local The Sign Records (responsável máximo pela promoção do que de melhor acontece em território nacional no que à vertente underground da música Rock diz respeito) em formato digital e nos formatos físicos de CD e vinil, este novo trabalho da esplendorosa formação escandinava era um dos discos por mim mais aguardados de 2018. Fortemente influenciada por um musculado, majestoso, aristocrático e refinado Hard Rock talhado nos dourados 70’s e pelo carismático movimento da New Wave of British Heavy Metal (NWOBHM) hasteado no intervalo temporal entre 1970 e 1980 de onde se destacaram bandas icónicas como Judas Priest, Iron Maiden, Saxon e Def Leppard, a principesca sonoridade de ‘Set Fire to the Sky’ passeia-se por entre uma vistosa, ostentosa, melódica e vigorosa fragância que me inebriara e apaixonara com desenfreada prontidão e impetuosa comoção. Uma superior ode de natureza clássica e revivalista que nos envolve e transporta para o consagrado romantismo setentista. Numa agradável alternância de estados sonoros e consequentemente emocionais – que tanto nos esporeia, provoca e euforiza com vertiginosas e violentas cavalgadas, como nos ameniza, afaga e narcotiza com harmoniosas e delicadas baladas – esta caprichada obra de Hypnos tem o dom de satisfazer o nosso desejo de requinte. São 43 minutos lavrados a fogosidade, dinamismo e lubricidade que nos mantêm a ‘Set Fire to the Sky’ atrelados e imensamente fascinados do primeiro ao último tema. Agitem-se ao electrizante som de duas guitarras gémeas que se misturam e amuralham na criação e condução de luxuosos, tirânicos, enigmáticos e portentosos riffs, e se desprendem e desvairam na (des)controlada emancipação de trepidantes, arrebatadores, incríveis e gritantes solos, uma voz felina, regada e temperada a opulência, voluptuosidade e exuberância, um baixo diligente e bafejante de linhas vibrantes, tensas, densas e pulsantes, e ainda uma explosiva e criativa bateria de constante propensão ofensiva que tiquetaqueia e capitaneia toda esta épica ostentação. ‘Set Fire to the Sky’ é um romanesco álbum de contornos epopeicos que facilmente fará salivar todos os devotos peregrinos do clássico Hard Rock de orientação setentista. Este é – indubitavelmente – um dos meus álbuns favoritos do género e um dos mais sérios candidatos apontados aos lugares de maior destaque na lista dos melhores discos produzidos em 2018.

Review: ⚡ Dirty Streets - ‘Distractions’ (2018) ⚡

De Memphis – a cidade mais populosa do estado norte-americano do Tennessee – chega-nos a nova destilação sonora do já carismático power-trio Dirty Streets. Depois de em 2015 ter lançado ‘White Horse’ (examinado e reverenciado aqui), esta adorável formação de instrumentos afinados e governados pelo bom e velho Blues está de volta com o seu novo e quarto álbum designado ‘Distractions’. Apresentado no passado dia 14 de Setembro sob a forma digital (através da sua página oficial de Bandcamp) bem como nos formatos físicos de CD e vinil (este último reduzido à prensagem de apenas 300 cópias disponíveis), ‘Distractions’ exibe um requintado, erótico, ardente e deliciosamente ritmado Blues Rock de descendência clássica e em harmoniosa cumplicidade com um oleado, robusto, dinâmico e torneado Hard Rock de inspiração setentista, e um emocionante, melódico e contagiante Soul nascido da fusão entre o Rhythm & Blues e o Gospel. A sua sonoridade elegante, carismática e apaixonante – tingida e lavrada por uma atmosfera de natureza vintage – causa no ouvinte um entusiasmante fascínio que – de sorriso desenhado no rosto, olhar semi-cerrado e levemente embriagado, e cabeça detidamente entregue a um movimento pendular que a balanceia de ombro a ombro – o mantem hipnotizado e extasiado da primeira à derradeira balada. Herdeiros de nomes incontornáveis dos dourados e consagrados 60’s e 70’s tais como Cactus, Mountain, Bluee Cheer, MC5, James Brown, Leafhound, Grand Funk Railroad e Jimi Hendrix, os Dirty Streets hasteiam uma primorosa musicalidade atestada de sublimação, sentimento e vibração. Deixem-se perfumar, envolver e conquistar por uma vistosa e primorosa guitarra que se enfatiza em atraentes, agradáveis, calorosos e serpenteantes riffs e se esquiva em solos verdadeiramente estonteantes, irresistíveis e impactantes, um baixo groovy de dançantes, robustas e pulsantes linhas conduzidas a volúpia, uma empolgante bateria soberbamente movimentada a tecnicidade, subtiliza, leveza e excentricidade, e ainda uma voz docemente melodiosa, aveludada, jovial e garbosa que cavalga com distinção toda esta espantosa e eloquente performance. ‘Distractions’ foi-me um caso de amor à primeira audição, e que – com o acumular de renovadas escutas – tem subido variados degraus na admiração que há muito nutro pela banda natural de Tennessee. Bronzeiem-se na fogosa resplandecência de Dirty Streets e experienciem com total entrega e devoção um dos mais cativantes discos lançados em 2018.

Review: ⚡ Dusk - ‘High Radiation’ EP (2018) ⚡

Da populosa cidade austríaca de Graz chega-nos ‘High Radiation’, o poderoso EP de estreia do jovem quarteto Dusk. Lançado muito recentemente em formato unicamente digital através da sua página oficial de Bandcamp, este seu primeiro, mas deveras promissor, registo escuda-se num ostensivo, intenso, dinâmico e combativo Heavy Rock de tração setentista que nos pontapeia, provoca e incendeia de adrenalina. São apenas 12 minutos de duração – repartidos pelos três temas que o incorporam – mareados e climatizados por uma vulcânica e excitante combustão. Este imperioso ‘High Radiation’ ostenta-se num admirável equilíbrio entre o peso e a leveza, a aspereza e delicadeza, a robustez e ritmicidade. Uma desenfreada locomotiva que – carburada por uma liderante voz de textura rugosa, ardente, erodente e vigorosa, uma elegante guitarra de riffs vaidosos, soberanos e majestosos, e solos vertiginosos, ácidos e assombrosos, um baixo operante movido e conduzido a linhas oscilantes, tensas e reverberantes, e uma expressiva bateria de galope acelerado, explosivo e desembaraçado – nos inebria, estimula o ritmo cardíaco e abastece de uma prazerosa euforia. Este inatacável EP de Dusk representa uma auspiciosa estreia que certamente deixará todos os seus ouvintes em constante fascinação e salivação. Recostem-se confortavelmente, apertem firmemente os cintos, cravem o vosso olhar no firmamento e preparem-se para uma electrizante, frenética e atordoante viagem à selvática boleia de ‘High Radiation’. Um dos mais entusiasmantes EP’s de 2018 está aqui, na tumultuosa alma dos austríacos Dusk. Banhem-se e incinerem-se na sua alta radiação.

Review: ⚡ Key Machine - ‘Revival’ (2018) ⚡

De Ontário – a província mais populosa do Canadá – chegam-nos as adoráveis e reconfortantes brisas revivalistas de Key Machine com a apresentação do seu surpreendente álbum de estreia ‘Revival’. Lançado oficialmente em território primaveril sob a forma física de cassete (reduzida a uma edição ultra-limitada), este apaixonante registo ostenta – como o seu próprio nome sugere – uma sonoridade de textura vintage, devidamente tricotada e ensolarada por um agradável, voluptuoso, garboso e imperturbável Folk Rock fielmente resgatado aos dourados anos 60, um musculoso, oleado, torneado e vistoso Hard Rock de indiscreta influência e essência setentista, e ainda um mélico, harmonioso, vaidoso e carismático Blues Rock de fragância clássica que nos contagia e instiga a dançá-lo e venerá-lo sem qualquer moderação. Confesso ter sentido por este álbum uma súbita sensação de amor à primeira audição que se intensificara com o acréscimo de renovadas passeatas pelas idílicas paisagens sonoras que o mesmo encerra. Existe algo de verdadeiramente esplendoroso, admirável, edénico e afectuoso na emblemática atmosfera de ‘Revival’ que me seduz e conduz a uma nostálgica, fascinante e desejada era há muito desaparecida. Uma envolvente, extasiante e deslumbrante digressão pela bucólica, poética e remota Primavera de vivências ancestrais, onde airosas, ondulantes e verdejantes planícies de extensão a perder de vista se esbatem e ofuscam num longínquo e inalcançável horizonte banhado e consagrado pelo Sol. Sintam a doce paralisia da alma, o desmaio do olhar embriagado, e um sorriso cintilante e petulante desenhar-se no vosso rosto ao combinado som de uma guitarra lenitiva que brota e recita refinados, espirituais, devocionais e ensolarados acordes, um baixo murmurante de linhas fluídas, contemplativas e oscilantes, uma bateria aprazível movida a um toque polido e delicado mas inventivo, ostensivo e desembaraçado, e ainda uma voz reinante, formosa e provocante que empresta toda uma elegância e exuberância extra à virtuosa e copiosa beleza de ‘Revival’. Um dos meus álbuns favoritos – nascidos em 2018 – está aqui, na trovadora e sedutora alma dos canadianos Key Machine.

Review: ⚡ Blue Eyed Sons - ‘Cold Blooded Men’ EP (2018) ⚡

Depois de na passada Primavera ter ouvido e difundido o seu primeiro e único longa-duração ‘Alive at Semifinal’ captado ao vivo num clube noturno da cidade-capital de Helsínquia (review aqui), eis que o jovem e fascinante quarteto finlandês Blue Eyed Sons está de regresso com o lançamento do seu novo EP ‘Cold Blooded Men’ sob a forma digital (através das mais variadas plataformas digitais) e de CD. De instrumentos soberbamente afinados, articulados e apontados a um elegante, perfumado, principesco e deslumbrante Classic Rock com indiscretas aproximações a um serpenteante, erótico, melódico e dançante Blues Rock de ares retro, estes fiéis servos do carismático revivalismo sessentistasetentista presenteiam os seus ouvintes com uma ostentosa e poderosa dosagem sonora que não deixará nenhum dos seus ouvintes indiferentes. A sua musicalidade bordada a emoção, requinte e sublimação – que tão bem cuida e conjuga o peso com a leveza, a melosidade com a aspereza, e a quietude com a comoção – tem o raro dom de nos envolver, namorar e extasiar do primeiro ao derradeiro tema. Toda uma primorosa, aliciante, comovente e graciosa digressão que de forma segura e vaidosa cruza os influentes territórios de uns ardentes Led Zeppelin, uns esotéricos The Doors e uns sombrios e tirânicos Black Sabbath, sem nunca deixar de irradiar um cunho bastante pessoal. São aproximadamente 21 minutos mergulhados e adornados numa arrebatadora resplandecência que – nas asas de uma guitarra airosa e majestosa de acordes rendilhados e solos encantados, um baixo murmurante de ondulação fluída e reverberante, uma bateria circense locomovida a leveza, destreza e sagacidade, e uma marcante voz de fisionomia e natureza harmoniosa, polida, encorpada e sedosa – nos hipnotiza, eteriza e sulfata de uma inebriante, maviosa e transbordante formosura. O copioso, detalhado e garboso artwork que configura, maquilha e embeleza o rosto de ‘Cold Blooded Men’ é da autoria da talentosa artista nórdica Aleksandra Majak. Este é um registo autenticamente sumptuoso, detentor de uma desarmante beleza e contagiante fineza, que promete batalhar afincadamente pela conquista de um dos lugares mais distintos e cimeiros da lista de melhores EP’s nascidos em 2018. Maravilhem-se nele.

Review: ⚡ Matriarch - 'Constructs of Time' EP (2018) ⚡

Da grande e populosa cidade de Denver (capital do estado norte-americano do Colorado) chega-nos o tumultuoso, denso e pantanoso negrume do quarteto Matriarch com o lançamento do seu novo EP ‘Constructs of Time’ no formato físico de vinil (numa prensagem ultra-limitada a apenas 100 cópias existentes). Baseado num vultoso, tirânico, massivo e poderoso Doom Metal em parceria com um nebuloso, lodacento, possante e revoltoso Sludge Metal, um angustiante, melancólico, erosivo e tristemente belo Post-Metal e ainda uma intrigante, psicotrópico, grotesco e magnetizante vertente Noise norteada por um singular experimentalismo que governa toda a segunda metade do EP, este catatónico, impactante e morfínico registo de Matriarch soterra-nos num profundo estádio de paralisia e prostração que nos sufoca e oprime do primeiro ao último minuto. ‘Constructs of Time’ segreda-nos toda uma lúgubre e envolvente narrativa bordada a misantropia e tingida a colorações outonais que nos desmaia as pálpebras, tomba o semblante de encontro ao peito e enluta a alma. Uma pesada, fúnebre e arrastada digressão por paisagens devastadas, órfãs de esperança e totalmente entregues a uma progressiva decomposição que há muito as enferrujara e mortificara. Sintam-se naufragar neste turbulento oceano de melancolia ao som de duas guitarras imponentes que se hasteiam em riffs maciços, vigorosos, absorventes e tenebrosos, e solos penetrantes, translúcidos e rutilantes que esgrimam e golpeiam a tensa, densa e negra nebulosidade, um potente baixo de bafagem vibrante, carregada, torneada e pulsante que nos agride e estremece, uma bateria explosiva de ritmicidade compassada, pesada, inflexível e musculada, e ainda uma voz violenta, cavernosa e gutural que se desenterra dos mais profundos abismos para eclodir nos funestos céus de ‘Constructs of Time’. Este é um EP assombroso que nos respira e amortalha num estado febril. Uma obra de natureza amaldiçoada que nos guia pelos inóspitos trilhos do obscurantismo, crava as trevas na alma e abandona no lado mais eclipsado da existência humana. Não é nada fácil regressar à tona deste majestoso trabalho de Matriarch que desde o primeiro segundo nos arrasta de encontro às suas vertiginosas funduras. Um dos títulos mais perturbadores lançados em 2018 está aqui, na demoníaca essência do piramidal ‘Constructs of Time’. Enlameiem-se e distorçam-se nele.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Review: ⚡ Atavismo - 'ValdeInfierno' EP (2018) ⚡

Da vizinha Espanha chega-nos ‘ValdeInfierno’, o novo e admirável EP de Atavismo lançado no final do passado mês de Julho sob a forma física de CD e vinil pela mão do selo discográfico germânico Adansonia Records. Sediada na tropical região sulista da Andaluzia, esta fascinante formação espanhola presenteia o ouvinte com um adorável sortido de sonoridades de onde facilmente se apalada um deslindado, caloroso, harmonioso e requintado Psych Rock de natureza oriental e revivalista, um serpenteante, aromático, carismático e extravagante Prog Rock fielmente traduzido dos 70’s, e ainda um relaxante, místico, ataráxico e envolvente Krautrock levemente influenciado por um afável Folk sessentista de idioma castelhano, tonalidade cintilante e clima primaveril. Todos estes distintos elementos musicais são temperados e combinados por uma exótica veia experimental que nos prende e nutre a atenção do primeiro ao derradeiro tema. São cerca de 27 minutos aureolados por uma enfeitiçante ambiência arábica que nos tomba as pálpebras, curva a linha labial, adorna a espiritualidade e instiga a dançá-la de forma exuberante, detida e apaixonada. Uma ofuscante sublimação de contornos religiosos resplandecida e conduzida por uma guitarra messiânica que desfila sumptuosos, contemplativos, esfíngicos e maravilhosos acordes, e desprende miríficos e arrebatadores solos de desarmante beleza, um imponente baixo de bafagem reverberante, fibrótica, fluída e oscilante, uma bateria deliciosamente multifacetada que se manifesta em criativas, encantadoras e delicadas acrobacias rítmicas, um quimérico sintetizador de perfumados e mágicos bailados, e ainda uma voz liderante que capitaneia toda esta sagrada peregrinação pelos áridos oceanos de um deserto iluminado e canonizado pelo deus Sol. De destacar ainda o vistoso e impressivo artwork superiormente pensado, delineado e colorido pelo artista hispânico António Ramírez que vertera para o domínio visual tudo o que de mais louvado e fundamental a sonoridade de Atavismo sugere. ‘ValdeInfierno’ é um EP recheado de um misticismo transbordante que não deixará indiferente quem nele atracar a sua alma. Um registo de propriedades terapêuticas que nos absorve e conserva num imaculado estádio de hipnose. Empoeirem-se e bronzeiem-se na esplendorosa religiosidade de um dos mais sérios candidatos apontados ao tão prestigiado título de EP do ano.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Review: ⚡ Dunbarrow - 'II' (2018) ⚡

Da Noruega acaba de chegar um dos discos por mim mais aguardados de 2018. Falo do novo e segundo álbum ‘II’ do quinteto nórdico Dunbarrow, lançado hoje mesmo pela mão do selo discográfico norte-americano RidingEasy Records nos formatos físicos de CD e vinil (este último com uma prensagem limitada a 300 cópias existentes para cada uma das duas versões disponíveis). Depois de em 2016 ter dissecado e exultado o seu tão desejado álbum de estreia (review aqui), foi com uma crescente expectativa que esperei por este seu sucessor, e o resultado não poderia ser mais do meu agrado. Baseado num imperioso, sombrio e tenebroso Proto-Doom de evocação setentista em parceria com um intrigante, luciférico e provocante Heavy Blues, este ‘II’ encerra uma sonoridade intensamente ritualística de feições Pentagram’icas, Sabbath’icas e Witchcraft’eanas que nos respira, nebuliza e magnetiza com ímpeto e prontidão. São cerca de 34 minutos assombrados e climatizados por uma atmosfera enigmática, profana, ocultista e tirânica onde desfilam e se enfatizam duas guitarras inquisidoras que se entrelaçam na criação e condução de riffs luxuosos, pesarosos, principescos e tenebrosos, e se dispersam na emancipação de uivantes, majestosos e trepidantes solos, um baixo bafejante de compleição robusta, tensa, soberana e pulsante que diligencia, executa e fortalece o riff-base, uma opulenta bateria de galope desembaraçado, acrobático e soberbamente ritmado, e uma voz gélida, temperada, melódica e avinagrada (a fazer lembrar a tonalidade vocal de um Magnus Pelander) que se passeia e prazenteia ao longo de toda esta demoníaca liturgia. ‘II’ é um álbum de essência envolvente, altiva, enigmática e hipnotizante que nos arrebata, atordoa, dilata as pupilas, asfixia e lapidifica do primeiro ao derradeiro minuto. Um registo egrégio onde paira um pavoroso e faustoso negrume capaz de soterrar, eclipsar e inebriar toda a alma que nele se refugiar. Um dos meus títulos favoritos deste ano está aqui, no influente e conturbado ego da inspirada e enfeitiçada nova obra dos vikings Dunbarrow. Comunguem-no e adorem-no. Amém.