domingo, 26 de abril de 2009

We can't get no satisfaction

Domingo

Pela, cansada, calçada junto ao rio Tejo, emerge-se uma sombra de um Homem. O seu olhar contempla as, fortes, ondas que embatem na costa. Um, repetido, cortejo de corpos despista o, vago, horizonte que Ele aborda. Felicidade inexperiente. Uma tarde cinzenta, uma tarde ventosa. Um teleférico vazio está imóvel sob os, pesados, céus e sobre a sua cabeça. Correntes familiares que se arrastam, deixando espectros de ferrugem nas, já pisadas, pedras da calçada marítima.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Sol

Deambular pela inconsciência. Corpo este, que pisa as longas estradas do sentido vivencial. Olhar endurecido. Cabeça anestesiada, desfalecida sobre os ombros. Anos que cansam as minhas têmporas. Nostalgias que mastigam os meus pulmões. Pálpebras entorpecidas. Cruas olheiras que afundam o horizonte, e me direccionam para os mais densos e escuros céus. É o velho drama que veste os palcos de cinzento e as personagens de tragédia, precipitação, … Um amanhã convicto, isento de ambiguidades.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Crown Of Thorns, Mother Love Bone

Estou sentado em frente á, calorosa, lareira. As velhas meias de lã desmaiam sobre os meus pés. Na rua está frio, e chove. Adoro o frio, a chuva, as nuvens negras… Desgosto pelo meu corpo não gostar. Estou doente. Exposição arriscada, na tentativa de uma aproximação familiar com o meu “melhor amigo”. Já estou habituado. Hoje tenho observado, do interior de casa, as nuvens, a chuva e o vento. Quarentena. O pequeno cachorro vadio foi vítima do castrador da liberdade. A minha visão, embora ensonada e anestesiada pela medicação, consegue penetrar pelos velhos e grandes carvalhos, e chegar às montanhas onde radicam os pinheiros. Não poderia ter melhor vizinhança. Estar aqui mais de um fim-de-semana, faz com que braços severos e mão capazes me impeçam de regressar a Lisboa. É a verdadeira concepção do conforto, da ataraxia. Tantos são os rostos que me abordam na rua, tantas são as mãos que me saúdam na rua, tantos são os sorrisos que me afagam na rua… Carrazeda de Ansiães, Trás-os-Montes. Tão mais que um nome, uma identidade. Alguns clássicos do Cinema (Europeu) têm me escoltado nesta jornada rumo ao bem-estar (físico). Venham mais dois paus secos e murchos para a fogueira, que as, adormecidas, chamas necessitam de saciar a sua, eterna, sede. Elas (Chamas) que ambicionam o Mundo. As nuvens estão a ser inspiradas pelo céu azul que surpreende o bô (expressão exclusivamente transmontana, pena o dicionário do Word não ser regionalista) povo. Já se sente a dolorosa percepção dos raios solares a trespassarem as núvens e fitando a minha face amarela. Janela, que todos os dias me permites contemplar a vida lá fora, aspiro ser como tu, ter essa defesa invicta, familiarizada com toda uma vasta panóplia de temperaturas, extremos, sem nunca vacilar. A morte tem essa estranha característica.

O bom velho tempo escocês voltou!

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Phil Anselmo


Cúmplicidade


Caïna - Temporary Antennae

Está uma noite fria. O vento forte e incisivo penetra por entre os, maduros, ramos das árvores. A estrada está deserta. Os numerosos candeeiros de iluminação pública, dispostos ao longo da rua, conformaram-se com as suas limitações, e assumem (de forma tímida) a, previsível, derrota que os assaltou. As árvores tremem. Os vidros do carro também. Música. Música que gosta de ouvir e de ser ouvida. Companheira constante da minha “viagem” vivencial. Silêncio. Transicção de tema. Folhas brancas que, apenas, suportam o pesado silêncio desmaiado sobre as almas opacas. Horizonte lisérgico.

quinta-feira, 2 de abril de 2009