terça-feira, 13 de maio de 2025
Review: 🎨 Lars Fredrik Frøislie - 'Gamle Mester' (2025, Karisma) 🎨
Dois anos após o
lançamento do seu mirífico álbum de estreia denominado ‘Fire Fortellinger’
(aqui trazido e imensamente elogiado), o talentoso multi-instrumentista
norueguês Lars Fredrik Frøislie (teclista de
Wobbler) edita agora o seu segundo álbum a solo. Intitulado ‘Gamle Mester’ (título derivado de um idoso
Carvalho localizado em Krødsherad Prestegård – árvore emblemática que também servira
de inspiração para a criação de um inspirado poema da autoria de Jørgen Moe (“Den
Gamle Mester”, 1855) – que preenche com exclusividade toda a temática deste mitológico,
poético e histórico álbum – detentor de um desarmante brilhantismo composicional
–, representando a sabedoria, a resiliência e a resistência à cáustica força do
tempo) e promovido pela carismática companhia discográfica norueguesa Karisma
Records através dos formatos LP, CD e digital, este novo trabalho
excepcional deste inventivo e produtivo músico sediado na cidade-capital Oslo
conta com as enriquecedoras colaborações do baixista Nikolai Hængsle (Elephant9
e Needlepoint) – que já fizera parte do restrito elenco responsável pela
produção do primeiro registo – e do flautista Ketil Einarsen (Ex-Jaga
Jazzist, Weserbergland e White Willow). Brilhantemente pincelada
por um rural, romântico, nostálgico e medieval Progressive Rock de principesco traje sinfónico, vistoso
e virtuoso estilo barroco e emoldurado por um agradável, bucólico e afável
clima Folk, que homenageia clássicas e pioneiras referências do género como
Banco Del Mutuo Soccorso, Le Orme, Premiata Forneria Marconi,
Locanda delle Fate, Museo Rosenbach, Il Balletto di Bronzo,
Yes, Renaissance, Gentle Giant, Gryphon, Emerson,
Lake & Palmer, Jade Warrior, Camel, Van Der Graaf
Generator e Ougenweide, a pastoral, mediévica, quimérica e outonal musicalidade
de ‘Gamle Mester’ convida o ouvinte a testemunhar e personificar vivências ancestrais
há muito caídas em desuso, adormecidas e esquecidas no tempo. Capitaneado por sonhadoras,
relaxadas, perfumadas e enternecedoras passagens orvalhadas a deslumbrante magia
ambiental, e triunfantes, apoteóticos, dramáticos e imponentes crescendos que
ostentam toda uma superiora maestria instrumental, esta maravilhosa obra-prima
de Lars Fredrik Frøislie faz-nos sonhar
acordados, embriagados, de espírito petrificado, sorriso desabrochado e olhar
empoeirado de matéria estelar. Na génese desta enfeitiçante fábula impecavelmente
orquestrada reside toda uma sedutora, ostentosa e arrebatadora profusão de melodiosos,
sumptuosos e dialogantes teclados, uma bateria soberbamente jazzística de
ritmos enfáticos, atraentes e acrobáticos, um baixo tenso, denso e sombreado de
acentuada presença, uma flauta fascinante de sopros aveludados, afinados e
elegantes, e uma voz trovadora, profética e altiva que (en)canta na sua língua
nativa. ‘Gamle Mester’ representa mais uma expedição gloriosa deste
dracar liderado a um só grito. Uma obra verdadeiramente sublime – de consumada
beleza – que vive entre a reluzente claridade da aurora e a rosada luz crepuscular.
Um álbum de audição e aquisição obrigatórias a todos os entusiastas e colecionadores
do género. Deixem-se capturar, apaixonar e extasiar por esta aventurosa, opulenta
e majestosa epopeia de Lars Fredrik Frøislie sem o mais residual desejo de
dela regressar.
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segunda-feira, 12 de maio de 2025
sábado, 10 de maio de 2025
sexta-feira, 9 de maio de 2025
Review: 🏴☠️ Soft Ffog - 'Focus' (2025, Is It Jazz? Records) 🏴☠️
Três anos após o
lançamento do seu impactante álbum de estreia (aqui descrito e aqui
galardoado com o título de melhor disco nascido nesse mesmo ano), o talentoso
quarteto norueguês Soft Ffog está finalmente de regresso com a
apresentação do seu tão ansiado segundo trabalho de longa duração intitulado ‘Focus’
e editado pela jovem e irreverente companhia discográfica local Is It Jazz? Records
através dos formatos LP, CD e digital. Deste novo álbum da banda domiciliada em
Oslo tudo esperava e – devo antecipar – tudo ele me deu. Depois de um
primeiro registo nutrido a altivez, alta densidade, sobranceria e rigidez, ‘Focus’
exibe o lado mais cerebral, relaxado, elaborado e sentimental de Soft Ffog.
O seu Yin-Yang foi, desta forma, alcançado. Norteada por um imaginativo, aprumado, intrincado e atractivo
Jazz-Fusion de comportamentos catatónicos envolvido e revolvido num desavergonhado
flirt com um afectivo, esponjoso, glorioso e expansivo Progressive
Rock de ares sinfónicos, a extravagante, sofisticada, sublimada e
mirabolante musicalidade de ‘Focus’ presta uma portentosa homenagem ao
que de melhor brotara dentro dos universos Jazz e Progressivo no frondoso
jardim setentista. Colorido, luminoso, odoroso e entretido, esta irretocável obra-prima
de Soft Ffog tem o raro dom de agarrar, cativar e enlevar o ouvinte do
primeiro ao derradeiro minuto. Ainda que as denominações atribuídas aos seus
temas possam sugerir uma influência descarada de bandas como Camel, Focus
e Jimi Hendrix (?), é nas paisagens sonoras de egrégias referências como Frank
Zappa (das eras ‘Hot Rats’, ‘Waka / Jawaka’ e ‘The Grand
Wazoo’), Brand-X, Caravan, Yes, Genesis, Gentle
Giant, King Crimson, Soft Machine, Hatfield and the North
e Colosseum que encontro maior semelhança com a estonteante, maravilhosa, maviosa e
triunfante sonoridade de ‘Focus’. Compartimentado em quatro fascinantes,
apaixonantes e extensas faixas – superiormente capitaneadas por desafiantes,
labirínticas, dramáticas e impressionantes composições condimentadas a escultural formosura,
tricotadas a máxima precisão e elegantemente trajadas a tecido respirável de
alta-costura – este novo trabalho dos virtuosos escandinavos extravasa as estremaduras
da perfeição. De agradável clima Canterbury’esco, aura fabular e natureza
novelesca, somos levemente alcoolizados pela harmoniosa maestria destes “Jazz
Cats”, massajados pela sua refinada subtileza e levados, integralmente deslumbrados,
pelas verdejantes e sedutoras planícies que se estendem e espreguiçam até ao
revoltoso e impiedoso mar onde naufragamos. Seráfica, leve, livre e mágica, a sumptuosa sonoridade de ‘Focus’
é brilhantemente cozinhada por uma guitarra magistral de camaleónicos,
miraculosos, faustosos e apoteóticos riffs de onde são vertidos angulosos,
assombrosos, esdrúxulos e vertiginosos solos, uma bateria sensacional a galope
de ritmos alucinantes, acrobáticos, pirotécnicos e excitantes, um baixo magnetizante
de reverberação elástica, sombreada, encorpada e ondulante, e um teclado etéreo
de melodias quiméricas, coloridas, perfumadas e sidéricas. De distribuir ainda
elogiosas apreciações pelo heroico artwork – distintamente ilustrado
pelo prendado artista norueguês Einar Evju – que ajuda a galvanizar e
imortalizar este inatacável álbum de Soft Ffog. Percam-se e encontrem-se
por entre a espalhafatosa desarrumação e charmosa arrumação de ‘Focus’.
Este é um registo de contornos épicos onde a mais caprichosa tecnicidade é
posta ao serviço da mais apolínica música. Não vai ser nada fácil arredar esta insuperável obra
do primeiro lugar na listagem dos melhores de 2025.
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quinta-feira, 8 de maio de 2025
quarta-feira, 7 de maio de 2025
terça-feira, 6 de maio de 2025
Review: 🍄 The Crystal Teardrop - '... Is Forming' (2025, Rise Above) 🍄
Do Reino Unido chega-nos a colorida acidez destilada pela jovem e irreverente banda The Crystal Teardrop que nos apresenta o seu jovial álbum de estreia intitulado ‘… Is Forming’, editado pela influente companhia discográfica londrina Rise Above Records através dos formatos LP, CD e digital. Cromatizada por um caleidoscópico, meloso, harmonioso e exótico Psychedelic Pop, ritmada por um provocante, assanhado, animado e dançante Garage Rock e climatizada por um envolvente, pastoral, devocional e sorridente Acid Folk, a analógica, ensolarada, florida e estereofónica musicalidade de The Crystal Teardrop representa uma bonita carta de amor à segunda metade dos vívidos 60’s, onde comunga carismáticas influências desse fértil solo temporal como Jefferson Airplane, Love, Shocking Blue, The Mamas & The Papas, Ultimate Spinach, The Byrds, The Velvet Underground & Nico e The Peanut Butter Conspiracy. Temperado com ingredientes da culinária indiana e arejado pela salgada brisa californiana, este fantasista e revivalista ‘… Is Forming’ provoca no ouvinte ilusões, alucinações, sinestesias, delírios místicos, alterações da noção temporal e espacial, perda do controle emocional, um sentimento de bem-estar, experiências de êxtase, euforia e uma grande sensibilidade sensorial. Um ácido lisérgico que se dissolve nas nossas línguas, dilata as nossas pupilas e expande a nossa consciência. Sensual, espiritual, resplandecente e estival, este primeiro registo do quinteto localizado no centro de Inglaterra não dá descanso às nossas glândulas salivares. Uma açucarada, frutada e irresistível guloseima – de consumo impróprio para diabéticos – que nos vicia, delicia e fascina ao longo de uma dúzia de agradáveis, apaixonantes e dançáveis canções. Idílico, catártico, arrebatador e prismático, ‘… Is Forming’ é um álbum paradisíaco que nos derrete de satisfação. Um oásis nirvânico sublimemente musicado por uma voz liderante de tez aveludada, amarelecida e caramelizada, duas guitarras alucinógenas de esponjosos, cativantes e luminosos acordes e solos escorregadios, serpenteantes e fugidios, um baixo groovy de linhas ondeantes, elásticas e magnetizantes, uma bateria descomplicada de ritmos mexidos, entretidos e galopantes, e um mágico teclado que lhe confere toda uma aura romancista, sideral e utopista. Dispam-se de timidez e avancem, confiantes, para o meio desta festiva pista de dança amuralhada por um estonteante jogo de espelhos, vivificada por cores pulsantes e banhada por uma delirante e torrencial chuva de purpurina cintilante. The Crystal Teardrop é uma ofuscante radiação de afago sensorial e psicotrópica coloração que nos cega, deslumbra e inebria de pura ataraxia. Bronzeiem-se e prazenteiem-se na sua seráfica luzência, e dancem, compenetrados e inundados em suor, até que as luzes se apaguem.
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segunda-feira, 5 de maio de 2025
domingo, 4 de maio de 2025
sexta-feira, 2 de maio de 2025
quinta-feira, 1 de maio de 2025
Review: 🪐 Minerall - 'Strömung' (2025, Sulatron Records) 🪐
Depois de na
madrugada de 2024 ter sido revelado o seu cativante álbum de estreia ‘Bügeln’
(aqui trazido e julgado), o tridente Minerall apresenta agora o
seu viajante segundo trabalho de longa duração – colhido na mesma sessão de
onde resultara o primeiro – intitulado ‘Strömung’ e editado pela germânica Sulatron
Records através dos formatos LP e digital (de salientar ainda que esta
companhia discográfica acaba de lançar os dois álbuns de Minerall numa
ultra-limitada edição de apenas 100 cópias em CD duplo). Com um pé firmado em
território alemão e o outro apoiado em solo austríaco, este xamânico trio
aponta os seus instrumentos à infindável vacuidade da noite cósmica,
presenteando o ouvinte com uma propulsiva, admirável e explorativa odisseia
espacial. Filtrado de experimentais, ácidas, alucinógenas e siderais jams
puramente instrumentais – conduzidas e desenvolvidas a intuitiva simbiose –,
este ‘Strömung’ faz da combinação de um intoxicante,
caleidoscópico, hipnótico e lisérgico Psychedelic Rock e um anestésico, repetitivo,
obsessivo e profético Space Rock o principal ingrediente do combustível que
seduz, desenraíza da gravidade terrestre e conduz o ouvinte pelas secretas, admiráveis
e inexploradas regiões alienígenas da infinidade astral. De olhar vendado e pálpebras maquilhadas
por matéria estelar, cabeça sonolenta e pesada, e espírito febril, incensado por
uma psicotrópica nebulosidade, embalamos – de membros relaxados e sentidos entorpecidos
– numa amplificação consciencial pelas autoestradas galácticas de Minerall,
deixando para trás um corpo desocupado, caído e inanimado. São 40 minutos de terapêutica, meditativa e narcótica transcendência, compartimentados em duas imersivas, longas e evolutivas faixas
que nos alcoolizam, engolem e estacionam – apáticos, serenos e alheios a tudo o
resto – num inamovível estádio de extasiante, doce e reconfortante letargia. Colorido
por uma guitarra envolvente que se amaina em flutuantes, etéreos e enfeitiçantes
riffs desdobrados em slow-motion, e alarma numa sónica tempestade
de vertiginosos, mirabolantes e venenosos solos em psicótica efervescência,
sombreado por um baixo tenro de linhas pulsantes, obesas, coesas e ondeantes,
tiquetaqueado por uma bateria magnética de galope descomplicado, constante e descontraído,
e magicado por um nebuloso sintetizador que exorciza todos os corpos celestes, ‘Strömung’
é um poderoso ansiolítico que nos afaga e naufraga nos mares eternos do Cosmos
bocejante. Morfina via auditiva que nos amolece, paraliza, insensibiliza e embevece. Sintam-se diluir e
submergir nas profundezas de Minerall e desaguar num imperturbável estado
de completo zen sem a mais pequena vontade de despertar.
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➥ Sulatron Records