sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Review: 🌑 Moonstone - 'Age of Mycology' (2025, Interstellar Smoke Records) 🌑

★★★★

Um dos mais influentes bastiões do Doom Metal polaco está de regresso. Depois de lançados o homónimo em 2019 (aqui analisado) e o seu sucessor ‘Growth’ em 2023 (aqui trazido à luz e dissecado), o poderoso quarteto Moonstone – domiciliado na cidade de Cracóvia – reaparece agora na melhor das suas formas ostentando o portentoso ‘Age of Mycology’, editado sob as formas de LP, CD e digital pela mão da companhia discográfica local Interstellar Smoke Records. Encavernado num trevoso, melancólico, esotérico e infeccioso Proto-Doom de pesadas, malfadadas e negras ressonâncias que nos engolem, enevoam e encarvoam o espírito, este terceiro álbum de Moonstone ganha vida durante a noite num secreto bosque, à pálida luz de uma Lua grávida e sob o olhar atento e perverso de uma bruxa que se esconde na sombra. Ocultista, místico, demoníaco e ritualista, ‘Age of Mycology’ musica-nos imersivos contos climatizados por uma fria humidade outonal e oxigenados por uma assombração gótica que nos travam a respiração, dilatam as pupilas e mergulham nas abissais profundezas da escuridão. Baloiçados entre reflexivas passagens condimentadas a temulenta e fumarenta melancolia e altivas investidas inflamadas a fogosa e mofosa negrura, vamos cambaleando por este musgoso, pantanoso e fúngico solo. São 45 minutos sufocados pelo cinzentismo. Uma enfeitiçante sessão de hipnotismo, com recurso a coloridos e perfumados incensos de magia negra, que nos enregela, profana e soterra no lado eclipsado e desventurado da religião. De cabeça embrumada, pesadamente tombada sobre o peito, caímos num imperturbável estado mesmérico de funesta radiação luciférica que nos extingue a luz interior e anoitece a alma. Farolizados por duas guitarras sacerdotais de dramáticos, enfáticos e imperiosos riffs consumidos pela queimante, rugosa e urticante distorção e desaguados em ácidos, endiabrados e intoxicantes solos, um baixo sisudo de linhas possantes, tensas e dominantes, uma bateria incisiva de ritmos enérgicos, coléricos e impactantes, e uma voz fantasmagórica, vampírica e liderante, vagueamos por este elegíaco pesadelo superiormente edificado pelos bruxos polacos. Este é um álbum profético de forte sedução. Prostrados, enlutados e anestesiados, somos cercados e devorados pelas negras lavaredas de Moonstone, e deixados, abandonados, no silêncio sepulcral que se segue a esta demoníaca possessão.

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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

🎁 Alice in Chains - 'Alice in Chains' (1995)

🐀 Castle Rat

Review: 🌈 Magic Machine - 'Rainbow Road' (2025) 🌈

★★★★

Um dos álbuns por mim mais aguardados de 2025 acaba de sair à rua: ‘Rainbow Road’ é o quarto trabalho do talentoso quarteto australiano Magic Machine – domiciliado na artística cidade de Sydney –, sucessor do incrível ‘Castle in the Sky’ lançado no passado ano e aqui desavergonhada e imoderadamente reverenciado. A trote de um picante, empolgante, ritmado e dançante Garage Rock agrilhoado a um apaixonante, caleidoscópico, prismático e delirante Psychedelic Rock de invocação 60’s, a colorida, ensolarada, agradável e entretida sonoridade de ‘Rainbow Road’ pincela no imaginário do ouvinte um tapete desértico que se desdobra pela infinidade adentro, onde imponentes cactos se espreguiçam na direcção de um cristalino céu azul-turquesa, suaves brisas trazem uivos de coiotes famintos e volumosas montanhas rochosas recortam o inalcançável horizonte. Um belicoso confronto entre The Black Keys, Spindrift e The Murlocs. A banda-sonora de um carismático Western Spaghetti através da lente de Quentin Tarantino que nos atira para as costas de um cavalo cansado e jornadeia pelas areias do deserto de Sonora, debaixo de um Sol impiedoso que cultiva verdejantes e curativas miragens no firmamento. A aventura e a desventura de mãos dadas. De pele bronzeada, visão desfocada e alma embriagada, banhada num alucinógeno oceano de mescalina, cavalgamos na direcção do Sol posto, esporeando as tonificadas coxas do cavalo, empoeirando-nos na cerrada bruma com forte odor a pólvora de caóticos tiroteios, driblando balas esvoaçantes que silvam junto aos nossos ouvidos e, finalmente, relaxando de cotovelos ancorados no balcão deste saloon onde se beberica o mélico e urticante trago do bourbon e bate a sola da texana no velho e poeirento soalho de madeira ao cativante som de uma guitarra gingona que se meneia em riffs magnetizantes, baloiçantes, ondeantes e perfumados e incendeia em vertiginosos, electrizantes, derrapantes e aparatosos solos, um baixo groovy de linhas pulsantes, hipnóticas, elásticas e reconfortantes, uma bateria galopante de ritmo estimulante, sedutor, libertador e incessante, um teclado enfeitiçante de harmoniosos, intrigantes e polposos bailados, e uma voz esbranquiçada, diabrina e avinagrada. São os Magic Machine de instrumentos fora do coldre à conquista do velho oeste. Experienciem esta imersiva experiência cinematográfica soberbamente musicada por estes australianos de ponchos sobre os ombros, gatilhos sensíveis e olhares desafiantes que cintilam na sombra deixada pelos chapéus de aba larga. ‘Rainbow Road’ é um álbum lustroso, sorridente, ardente e delicioso que poderá ser degustado muito em breve "in loco" no velho continente (entre meados de Novembro e meados de Dezembro) a propósito da sua tour europeia que passará, inclusive, por Portugal (com datas marcadas em Lisboa, Porto e Paredes de Coura através da promotora nacional Ya Ya Yeah).

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