quinta-feira, 31 de março de 2011

Cinema de Março (2/2)

Bring me the Head of Alfredo Garcia (1974) de Sam Peckinpah
Babel (2006) de Alejandro González Iñárritu
3:10 to Yuma (2007) de James Mangold
The Killers (1946) de Robert Siodmak
Pale Rider (1985) de Clint Eastwood
Nordkraft (2005) de Ole Christian Madsen
Fort Apache (1948) de John Ford
Beavis and Butt-Head Do America (1996) de Mike Judge
Strangers on a Train (1951) de Alfred Hitchcock
The Eastwood Factor (2010) de Richard Schickel
Requiem for a Dream (2000) de Darren Aronofsky

segunda-feira, 28 de março de 2011

Moon Phantoms

"Deep in the forest ethno-drones, drenched in buzz and shimmer. Sitar, guitar, cumbas and all sorts of percussion create exquisite layers psych drone Nirvana that will transport you to another dimension. Strangely peaceful, the music we hear in our heads when we lay in grass at night staring at the stars."

quarta-feira, 23 de março de 2011

The Killers (1946)

Sou um admirador incondicional do cinema Film-Noir produzido nas décadas de 40 e 50. Hoje falar-vos-ei de um dos meus filmes favoritos dentro desse género cinematográfico: “The Killers” datado de 1946 e brilhantemente realizado por Robert Siodmak (um nome popular para os amantes do Film-Noir). Esta adaptação do conto de Ernest Hemingway mostra-nos toda a história que antecedeu o assassinato de Ole Andersen (Burt Lancaster em estreia absoluta), um ex-boxeur que se havia entregado aos trilhos da perdição. O responsável pela obtenção de todas as peças deste “puzzle” é o investigador de seguros, Jim Reardon. Ole Andersen tinha seguro de vida, e Jim fora incumbido de procurar a beneficiária, que estranhamente era uma empregada de um hotel em Atlantic City, chamada Mary Ellen Daugherty. Mary testemunha o seu ínfimo encontro com Ole Andersen, e a partir daqui Jim Reardon começa toda uma investigação policial pela desmistificação e captura do responsável pelo assassinato do sueco (juntamente com Sam Lubinski, um velho amigo de Ole Andersen e detective da policia). Ao longo deste trajecto, são vários os depoimentos de amigos e conhecidos de Ole Andersen que se vão acumulando e, consequentemente, afunilando aquele fluxo de suspeições. Todos os testemunhos pareciam esbarrar em Kitty Collins (magnificamente interpretada por Ava Gardner), uma misteriosa “femme fatale” que prendera Ole Andersen na sua teia de sedução. Por ela, Ole Andersen havia alterado a sua conduta social e pessoal, estando mesmo preso durante três anos (substituindo falsamente a alegada culpabilidade apontada a Kitty Collins). A cena em que a Ava Gardner canta a “the more i know of love” de Miklós Rózsa, enquanto é intensamente observada por Burt Lancaster, é simplesmente magnífica (na imagem acima). Com uma luz fortíssima e sombras demarcadas, este belo exemplar do cinema Noir, apresenta uma estética deveras elegante e aprimorada. Contando ainda com representações notáveis, como é o caso da incrível (em todos os sentidos) Ava Gardner e do grande (também em todos os sentidos) Burt Lancaster.

Baby, i will leave you in the morning...

Marissa Nadler

Ernest Hemingway

segunda-feira, 21 de março de 2011

KYUSS Lives!


Adivinhava-se uma noite monumental, mas acabou por superar essa (e qualquer outra) definição, rasgando todas as costuras dos adjectivos previamente apontados. Quando eu e o meu amigo Nuno entramos no recinto, ficámos maravilhados com a dimensão e a beleza que o espaço oferecia. Parecia um casino de Las Vegas. Como a massa humana ainda estava muito dispersa e retraída, aproveitámos para ganhar terreno e conseguimos “atracar” em frente ao palco de mãos empunhadas nas grades (oportunismo de Português). Quando a 1ª banda de entrada subiu ao palco, o público aproximou-se em grande número do epicentro da emoção. Burden, uma banda alemã de stoner metal bem lubrificada e conduzida por uma bela voz regada de whiskey e amadurecida pelo tabaco (muito semelhante à do Phil Anselmo), presenteou o público com uma cavalgada incansável. Cavalgada essa que só durou 30 minutos porque os Waxy (2ª banda de entrada) estavam aí, e traziam consigo os ares calorosos da Califórnia. Munidos de um “desert punk” bem consistente e também de uma vertente mais psicadélica, “descongelaram” toda uma plateia ainda algo tímida, e mostraram quão quente a Suíça pode ser. Assim que os Waxy se despediram, comecei a tremer. A ansiedade havia atingido o seu auge, e aquele silêncio era desgastante. Não acreditava que estava prestes a ver Kyuss. Não cabia em mim de satisfação… Tentei respirar fundo para abrandar as batidas frenéticas do meu coração, mas nada o parava… porque Kyuss é uma força maior. Depois de uma espera angustiante, eis que as luzes se apagaram. A multidão manifestou-se gritando efusivamente. O ambiente era fantástico. Ouvia-se Blues como música de fundo. Foi então que os Kyuss entraram em palco, debaixo de uma plateia delirante. E é aqui que todos os vocabulários se confessam frívolos. Não existem adjectivos que se aproximem sequer do que realmente presenciei em Pratteln. De realçar a excelência da setlist que, a meu ver, foi simplesmente perfeita: Gardenia, Hurricane, Thumb, One Inch Man, Odyssey, Conan Troutman, Freedom Run, Asteroid, Fatso Forgotso, Supa Scoopa and Mighty Scoop, Whitewater, El Rodeo, 100°, Molten Universe, Spaceship landing e Green Machine. Com a aliciante extra de que os Kyuss exploraram a “elasticidade” dos temas e ampliaram a sua duração original (num formato de jam). Foi um prazer insubstituível ter assistido a todo este ritual a uns dois metros do John Garcia, bem agarrado às grades, enquanto sentia as oscilações nas minhas costas (provocadas pelo moche e crowdsurf). Foi um concerto de tal forma emocionante, que o próprio John Garcia libertou o seu alter-ego, quando partiu, com as próprias mãos, o tripé do microfone e, com violência, atirou-o contra o chão do palco, que consequentemente ressaltou e bateu na cabeça de um segurança. Mas nada de grave aconteceu, e até acabaram por trocar alguns sorrisos (isto depois do Garcia se ter aproximado dele e humildemente pedido desculpa pelo sucedido). O Nick Oliveri sorria para a plateia com cumplicidade. A plateia e os Kyuss sentiram mutuamente a sensação de que aquilo era algo mágico, divino e único. Quando saímos do recinto, chovia e as pessoas olhavam os céus. Afinal de contas, estávamos na Suíça e não no meio do deserto de Mojave (como a sonoridade de Kyuss nos ludibriou).

Obrigado, Kyuss. Foi o concerto da minha vida.

terça-feira, 15 de março de 2011

Voyage

Cinema de Março (1/2)

The Bridge on the River Kwai (1957) de David Lean
Brief Encounter (1945) de David Lean
The Paradine Case (1947) de Alfred Hitchcock
Contraluz (2010) de Fernando Fragata
Shutter Island (2010) de Martin Scorsese
The Boondock Saints (1999) de Troy Duffy
Das Weisse Band (2009) de Michael Haneke
Schindler’s List (1993) de Steven Spielberg
Cashback (2006) de Sean Ellis
Hachiko: a Dog’s Story (2009) de Lasse Hallström

New Riders of the Purple Sage

terça-feira, 8 de março de 2011

Good morning, Captain

Caminhei cautelosamente ao longo do convés em direcção à proa do navio de pesca. A chuva batia com intensidade no meu rosto tenebroso, e o navio oscilava sobre as fortes ondas do oceano. A densa névoa arrastou-se lentamente em direcção ao navio, e envolveu-o completamente. A chuva cessou, e um silêncio lúgubre invadiu aquele pedaço do mundo, trazendo consigo uma quietude sepulcral que se abateu sobre as ondas que suportavam o navio às suas costas. De repente, senti as pesadas botas do capitão descerem as escadas metálicas da ponte de comando e avançando até mim. Parou junto a mim e, sem dizer qualquer palavra, olhou em redor do navio com o olhar cerrado resistindo à forte humidade que caía. Colocou a mão no meu ombro e recolheu à ponte de comando. O navio arrastou-se ao longo da plenitude da névoa, e libertou-se rumo á visibilidade marítima. Após rasgar aquele manto opaco, o capitão pôde observar uma grandiosa costa verde que delimitava de forma imponente o horizonte oceânico.

Causa Sui é banda sonora de uma vida

Brief Encounter


Falar-vos-ei de um dos meus romances favoritos, “Brief Encounter” de 1945, e brilhantemente conduzido por David Lean. Esta bela história fala-nos sobre o difícil equilíbrio sobre a ténue linha da felicidade. Laura Jesson, uma dona de casa, casada e mãe de dois filhos, apaixona-se por um estranho médico com quem se cruza numa estação ferroviária. Celia Johnson, no papel de uma esposa conformada com o seu papel de esposa tradicional e - mutuamente - uma sonhadora que habita bem longe daquela realidade tão “madura”, procura a forma de conciliar estes dois extremos de forma a conquistar um amanhã feliz. A representação de Celia Johnson é de tal forma arrebatadora, que o espectador vive de perto todos os seus medos, suspeições, inquietudes e alegrias. Dando vida a um belo argumento, Celia Johnson conduz a sua existência por trilhos nunca antes pisados na constante procura da satisfação. Doutor Alec Harvey, interpretado por Trevor Howard, é o motivo deste cepticismo, gerado em Laura Jesson, que a faz por em causa toda a importância do seu casamento e figura materna. A narrativa deste romance está muito bem construída (de forma não linear - o que acrescenta “saliva” ao apetite voraz do espectador). A cumplicidade concebida por Laura e Alec é tão intensa, que todo o paralelismo que acompanha estas duas personagens ao longo do romance perde protagonismo e é remetido para a moldura desta fotografia tirada a dois. Adoro a metáfora que os comboios e a estação ferroviária representam na rotina do casal. Aquela estação ganha uma importância sagrada no encontro das duas personagens, pois é o único espaço físico que lhes é comum. Este romance joga com o encontro fugaz entre a chegada e a partida. Aconselho vivamente este filme a todos os amantes do bom cinema (e particularmente aos amantes de bons romances, pois é um dos melhores que vira até então).