segunda-feira, 31 de maio de 2021

♠️ Lemmy Kilmister, 1975

🎁 John Bonham // Led Zeppelin (31/05/1948 - 25/09/1980)

Review: ⚡ The Wild Century - '5' (2021) ⚡

★★★★

É ainda de pele escaldada, olhar ofuscado, espírito arrebatado e semblante lambido por uma fresca e salgada brisa oceânica que escrevo estas sinceras e apaixonadas palavras ao mais recente álbum dos holandeses The Wild Century. Lançado no último suspiro de Março através dos formatos digital e vinil – editado com carimbo de autor – este terceiro registo do quinteto enraizado na cidade de Breda ancorara-me numa paradisíaca praia de areias tisnadas e sedosas, revitalizantes águas de esplendor cristalino, límpidos céus banhados a azul-turquesa e velejados por gaivotas grasnantes, e um brilhante Sol de bafo ardente e luzência crepuscular. Ventilado e melificado por um ensolarado, ataráxico, caleidoscópico e aromatizado Psychedelic Rock de harmoniosos, bem-dispostos e radiosos temperos Indie, absorvido num romântico flirt com um enfeitiçante, polposo, delicioso e serpenteante Progressive Rock de traços revivalistas, este ‘5’ é integralmente climatizado por uma cativante maravilha sensorial, pintada de cores exóticas e perfumada por aromas sensuais. A sua tântrica sonoridade, embriagada num imersivo clima veraneio a fazer recordar os californianos Assemble Head In Sunburst Sound, Monarch e Golden Void, passeia-se de forma fluída, hipnótica, lúbrica e sublimada ao longo dos 34 minutos que a balizam. De pálpebras rebaixadas, sorriso hasteado no rosto, e cabeça baloiçada de ombro em ombro, somos fascinados e embalados pelo apaziguante caudal deste mélico, utópico e deslumbrante tropicalismo que nos expande a consciência. Na composição desta orgiástica sinestesia que tanto acelera numa alucinada euforia como desacelera numa embaciada letargia, está uma guitarra colorida de obsessivos, sinuosos, vistosos e criativos Riffs que desaguam em solos ácidos, uivantes, deambulantes e delirados, um baixo encaracolado de linhas encorpadas, pulsantes, magnetizantes e inchadas, uma expressiva bateria de toque cintilante, acrobático, enfático e estimulante, um esponjoso órgão Hammond de místicas, sumarentas, opulentas e sidéricas melodias, e vocais meigos, aveludados, açucarados e celestiais. O artwork de aparência sui generis e minimalista aponta os seus créditos autorais ao inconfundível ilustrador sueco Robin Gnista. Este é um delicioso cocktail de gosto frutado, pronto a ser degustado numa moldura estival. Deixem-se contagiar pela cegante, feérica e transbordante radiância de The Wild Century, e experienciem com febril encantamento um dos álbuns mais aliciantes do ano. Bronzeiem-se e prazenteiem-se neste infindável verão.

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Alastor - "Death Cult" (2021, RidingEasy Records)

Genesis - "The Battle Of Epping Forest" (1973)

The Wild Century - "Move On" (2021)

📀 Coordenadas en 7 Pulgadas - 'Grados. Minutos. Segundos.' (2021/2022)

Grados. Minutos. Segundos’ é uma viagem sonora pelos pontos cardeais que ligam 24 bandas espanholas em plena efervescência (Moura, Rosy Finch, Adrift, Mondo Infiel, Partícula, Medicina, Habitar La Mar, Acid Mess, Cró!, The Dry Mouths, Saturna, Laverge, Atavismo, Mía Turbia, Santo Rostro, Cemënteri, The Soulbreaker Company, Domo, Battosai, Pyramidal, Híbrido, Kabbalah, Arenna e Here The Captain speaking, the Captain is dead). Através de uma compilação de temas originais e inéditos até à data, a Spinda Records convida-te a descobrir as profundezas do underground espanhol. Composta por 12 vinis de 7’’ repartidos entre duas bandas cada um, que se irão publicando de Junho de 2021 a Março de 2022, esta box intitulada ‘Grados. Minutos. Segundos’ pretende ser uma radiografia actual da cena musical independente em Espanha neste começo da nova década de 2020.

O El Coyote em parceria com a Spinda Records tem códigos de download gratuitos referentes aos novos e exclusivos singles de Moura, Partícula e Mondo Infiel para te oferecer. Orienta-te aqui:

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sexta-feira, 28 de maio de 2021

Review: ⚡ Alastor - 'Onwards and Downwards' (2021) ⚡

★★★★

Os suecos Alastor estão de regresso com o lançamento do seu terceiro álbum intitulado ‘Onwards and Downwards’ e distribuído pela mão do prolífico selo discográfico californiano RidingEasy Records em formato digital e nos formatos físicos de CD e vinil. Soterrado nas profundezas abissais de um ocultista, trevoso, brumoso e ritualista Psych Doom de sotaque Electric Wizard’eano e Windhand’eano, que discretamente se empoeira na arenosa efervescência de um fogoso, enérgico, melódico e ventoso Desert Rock que cruza os mesmos mares dos seus conterrâneos Truckfighters, este implacável registo superiormente liderado pelos quatro sacerdotes nórdicos de vestes vampíricas e crucifixos invertidos é fervido, esconjurado e remexido num borbulhante caldeirão condimentado a magia negra. De alma encarvoada, enfeitiçada e profanada pela demoníaca, umbrosa, tenebrosa e monolítica radiação bafejada pelos Alastor, somos eclipsados e aprisionados num gótico, trágico e selvático pesadelo sem escapatória possível. Uma horripilante, inquisidora e intrigante assombração que se avoluma numa mastodôntica avalanche capaz de nos ferir, anoitecer e subtrair a lucidez. De olhar envidraçado, narinas dilatadas, semblante desmaiado e espírito inflamado, demonizado e afogueado pelas negras lavaredas que cozinham este álbum, somos inquietados pela imponente, mordente e infernal inflamação – apenas intervalada por um efémero tema pincelado a um melancólico, bucólico e reconfortante Dark Folk de natureza outonal – e atormentados pela sua diabólica sedução. Nas rédeas desta épica cavalgada de bocas ofegantes e esporas ensanguentadas, trilhada pelos lamacentos solos do paraíso perdido, estão duas guitarras pagãs que se enegrecem, avultam e enrijecem em vigorosos, tétricos, dramáticos e monstruosos Riffs – enferrujados pelo corrosivo e crepitante efeito Fuzz – de onde esvoaçam majestosos, exuberantes, delirantes e gloriosos solos, um baixo corpulento de linhas poderosas, obscuras, carrancudas e tenebrosas, uma bateria impetuosa metralhada a uma batida altiva, seca, forte e incisiva, um pontual órgão Hammond de trágicas, arrepiantes, hipnotizantes e litúrgicas harmonias, e vocais fantasmagóricos, ácidos, ecoantes e fosfóricos que sobrevoam todo este violento abrasamento. São 47 minutos de febril toxicidade que nos encarcera no nebuloso sarcófago de Nosferatu. Este é um álbum verdadeiramente transformador. Comunguem o polposo e rubro sangue da Besta, e deixem-se mumificar pelas impiedosas trevas de‘Onwards and Downwards’.  É impossível não cair nesta ímpia tentação de indizível perversão.

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 RidingEasy Records

🎁 John Fogerty // Creedence Clearwater Revival (28/05/1945)

🎗 Gregg Allman // Allman Brothers Band (08/12/1947 - 27/05/2017)

📸 Jeffrey Mayer

quinta-feira, 27 de maio de 2021

Review: ⚡ Savanah - 'Olympus Mons' (2021) ⚡

★★★★

Da cidade de Graz chega-nos o novíssimo álbum do power-trio austríaco Savanah. Designado de ‘Olympus Mons’ – denominação em latim de Monte Olimpo, o mais alto vulcão do sistema solar que se agiganta a cerca de 22 km da superfície marciana – e oficialmente expelido hoje mesmo através do influente selo discográfico local StoneFree Records em formato digital e nos formatos físicos de CD e vinil, este seu segundo trabalho de longa duração banha o ouvinte com uma escaldante erupção de inflamante, enérgico, psicotrópico e empolgante Heavy Psych em parceria com um despótico, misterioso, umbroso e monolítico Proto-Doom de carregadas feições Black Sabbath’icas. Pendulando entre fogosas, destravadas e poderosas galopadas que nos vergastam e afogueiam de saturada adrenalina, e atmosféricas, meditativas e proféticas passagens que nos adormecem e embevecem os sentidos, ‘Olympus Mons’ é um álbum verdadeiramente imperial – locomovido a uma ardência infernal – que me revolvera e conquistara logo na primeira audição que lhe dedicara.  São 42 minutos escaldados a uma intensa efervescência provocada por uma guitarra inflamada de Riffs fibrados, altivos, fumegantes e lubrificados – chamejada por uma distorção incandescente, espinhosa e erodente – e solos borbulhantes, ácidos, alucinados e esvoaçantes, um baixo ronronante de cordas musculadas, troantes, dançantes e empoladas, uma bateria incisiva de ritmicidade explosiva, contagiante, triunfante e abrasiva, e ainda uma voz avinagrada, vampírica, enigmática e pálida que assombra toda a magmática ambiência deste potente registo de Savanah. De destacar ainda o enfeitiçante artwork de clima cósmico, superiormente ilustrado pelo artista austríaco Irrwisch (designer artístico responsável por toda a discografia da banda). Este é um álbum de contornos imponentes que nos submerge e conflagra nas profundezas de um cálido oceano. Deixem-se embriagar, endoidecer e bronzear pela revoltosa ebulição deste mastodôntico vulcão em inesgotável e intoxicante erupção, e vivenciem como puderem toda a sua vigorosa, sísmica e sediciosa vibração de ingestão não aconselhável a cardíacos.

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 StoneFree Records

sábado, 22 de maio de 2021

Review: ⚡ Amour - 'Hyperborea' (2021) ⚡

★★★★

Originário da cidade belga de Namur chega-nos ‘Hyperborea’, o novo álbum do jovem tridente instrumental Amour. Oficialmente lançado no final do passado mês de Abril através do formato digital e ainda numa apelativa edição em CD com carimbo autoral, este segundo álbum de Amour vem orvalhado, nutrido e sublimado por um deslumbrante, onírico, utópico e embriagante Psychedelic Rock de mãos dadas a um ambiental, cinematográfico, magnético e estético Post-Rock de envolvência espacial que – em simbiótica coligação – se entrelaçam, prosperam e desaguam num fogoso, empolgante, intoxicante e poderoso Heavy Psych de vistosa, fascinante e sinuosa orientação Progressiva. Fragmentada em quatro dilatadas, imersivas, evolutivas e condimentadas jam’s intergalácticas, esta caleidoscópica, enfeitiçante e paradisíaca odisseia de reconforto mental e consagração sensorial baloiça o ouvinte num invariável ricochete entre a melancólica sonolência e a eufórica efervescência. De sorriso desenhado no rosto, cabeça bamboleada ao sabor da mutável ondulação rítmica, e olhar eclipsado por uma expressão distante e sonhadora, somos seduzidos, embebidos e mergulhados nas umbrosas, infindáveis e vertiginosas profundezas do universo sideral, penetrando a mística intimidade de embrumadas nebulosas e driblando a gravidade dos corpos celestes que se revelam no horizonte. Atrelados aos aliciantes diálogos tecidos entre uma guitarra exploratória de serpenteantes, hipnotizantes, dinâmicos e giratórios riffs e solos ácidos, exóticos, labirínticos e alucinógenos, um baixo pesadamente ronronante de linhas pulsantes, obscurecidas, empoladas e ondeantes, uma bateria diligente que rege com expressiva liderança a selvática tempestade e a letárgica bonança, e ainda um tonificante teclado de dançantes, frescas, proféticas e apaixonantes harmonias, oscilamos entre as paralisantes temperaturas de um invernal, níveo e silencioso glaciar que se distende até onde a vista pode alcançar, e as febris temperaturas de um borbulhante, fumegante e infernal caldeirão que gorgoleja polposo magma de um vermelho incandescente. De sublinhar ainda o quimérico artwork de atmosfera SCI-FI, a fazer recordar o mítico artista francês Moebius, que aponta os seus respectivos créditos de autor ao ilustrador Adam Olds. Este é um álbum imensamente catártico que nos viaja pelas zonas mais erógenas do cérebro. Deixem-se embalar, transcender e enlevar nesta utópica digressão que nos catapulta tão para lá dos portais da perceção, e descortinem os mais secretos territórios de um Cosmos ansioso por ser pisado e desvendado.

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segunda-feira, 17 de maio de 2021

🎁 Andrew Latimer // Camel (17/05/1949)

🎁 Josh Homme // Kyuss & Queens of the Stone Age (17/05/1973)

🎁 Bill Bruford // YES, King Crimson & Genesis (17/05/1949)

Review: ⚡ Jack Harlon & The Dead Crows - 'The Magnetic Ridge' (2021) ⚡

★★★★

Três anos depois do seu portentoso álbum de estreia (designado ‘Hymns’, e aqui devidamente desconstruído e imensamente elogiado) ter saído à rua, o exótico quarteto australiano Jack Harlon & The Dead Crows – localizado na artística cidade de Melbourne – ressurge agora com a muito ansiada apresentação do seu novo trabalho ‘The Magnetic Ridge’, oficial e integralmente lançado hoje mesmo nos formatos físicos de vinil (pela mão da editora local Psychedelic Salad Records) CD e cassete (estes com o carimbo editorial do selo norte-americano Forbidden Place Records). Repetindo a bem-sucedida receita usada na génese do primeiro álbum, este imersivo, apaixonante, impactante e criativo ‘The Magnetic Ridge’ vem ensolarado, nutrido e flamejado por um intoxicante, arenoso, lustroso e electrizante Heavy Psych que – de forma indiscreta e fluída – desagua numa bifurcação que separa as paradísicas praias de um deslumbrante, caleidoscópico, hipnótico e purificante Psychedelic Rock banhado a intensa luzência solar, dos encarvoados pântanos embrumados por um intrigante, trevoso, fibroso e aliciante Psychedelic Doom de coloração nocturna. Sintonizado na mesma frequência dos norte-americanos All Them Witches e King Buffalo, dos germânicos Colour Haze, e ainda dos saudosos canadianos Quest for Fire, o segundo capítulo destes místicos cowboys australianos vem ainda embelezado por arejados, meditativos e aromatizados interlúdios de natureza Folky que nos remetem para os solitários desertos do velho oeste. Num perfeito equilíbrio entre a profunda imersão numa morfínica, labiríntica e atordoante hipnose que nos atesta de febril embriaguez, e a enlouquecedora, efervescente e libertadora euforia que nos sobreaquece de um ardor vulcânico e rasga as vestes da lucidez, galopamos as desérticas planícies que se descortinam por entre a densa poeira cósmica deste ‘The Magnetic Ridge’ completamente absorvidos pela sua feitiçaria xamânica. Na sagrada composição de toda esta empolgada, extasiante e embriagada paranoia deambulam livremente duas guitarras endeusadas que se envaidecem na edificação de serpenteantes, venenosos, poderosos e excitantes Riffs distorcidos e encrostados a crocante efeito Fuzz, e na sónica condução de selváticos enxames de uivantes, fugidios, escorregadios e borbulhantes solos, uma voz avinagrada, ecoante, escarpada e liderante que pendula entre a inflamada rispidez e a gélida placidez, um baixo motorizado – soberbamente groovy – de onduladas, oleadas, magnéticas e estéticas linhas pesadamente bafejadas, e uma bateria expressiva – esporeada a duas velocidades contrastadas – que tanto metralha de forma bélica e tempestuosa os momentos de saturada explosividade, como tiquetaqueia com polido requinte as passagens mais bonanceiras do disco. O fantástico artwork de feições necrológicas que confere rosto a este álbum verdadeiramente épico pertence ao inconfundível ilustrador Adam Burke (aka Nightjar Illustration). Se deste regresso de Jack Harlon & The Dead Crows eu muito esperava, tudo ele me deu. ‘The Magnetic Ridge’ é um registo incrivelmente híbrido que tanto nos centrifuga numa psicótica espiral de emoções à flor da pele, como esbate numa entorpecida lisergia oxigenada a LSD. Estamos mesmo na honrosa presença de uma obra genuinamente piramidal que aponta aos mais elevados lugares da listagem que condecorará os melhores álbuns florescidos em 2021. Embarquem destemidamente nesta quimérica odisseia de estimulação sensorial e glorificação espiritual sem destino predefinido e regresso garantido.

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 Forbidden Place Records
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terça-feira, 11 de maio de 2021

🎗 Noel Redding // The Jimi Hendrix Experience (25/12/1945 - 11/05/2003)

📷 Ed Caraeff

🌙 Thin Lizzy - 'Nightlife' (1974)

🎁 48 years of Hawkwind - 'Space Ritual' (11/05/1973)

Review: ⚡ Lucid Sins - 'Cursed!' (2021, Totem Cat Records) ⚡

★★★★

Regressado de um longo jejum discográfico de sete anos – que principiara logo após o lançamento do seu álbum de estreia ‘Occultation’ (2014) – o jovem duo escocês Lucid Sins presenteia agora todos os seus discípulos com um novo trabalho de longa duração, designado de ‘Cursed!’ e exteriorizado sob a forma digital, de CD e vinil através do selo discográfico francês Totem Cat Records. Embrumado e assombrado por enfeitiçantes, outonais, pastorais e intrigantes melodias – encarvoadas a um negrume nocturno, melificadas a imersiva melancolia e orientadas a um esotérico ritual – este segundo álbum da talentosa formação enraizada na cidade portuária de Glasgow combina um demoníaco, sombrio, dramático e misterioso Proto-Doom de enigmáticas ressonâncias Black Sabbath’icas, com um fluído, aliciante, extravagante e ornamentado Classic Rock lavrado à boa moda dos britânicos Wishbone Ash, um sumptuoso, deslumbrante, magnetizante e sinuoso Progressive Rock de inspiração setentista, e ainda um rústico, cerimonioso, umbroso e bucólico Neofolk de feições pagãs. A sua sonoridade heterogénea – trajada a adereços tradicionais e condimentada a uma fragância vintage – envolve e revolve o ouvinte numa enfeitiçante, druídica, obscura e intoxicante liturgia de adoração ocultista que o magnetiza, eteriza e namora do primeiro ao derradeiro tema. Contando com a preciosa colaboração de outros músicos locais que, desta forma, enriquecem e amadurecem as ambiciosas composições desta épica obra, ‘Cursed!’ trata-se de um registo tristemente belo que nos dilata as pupilas, empalidece o semblante e embevece o espírito. Na génese deste intenso encantamento impossível de ser quebrado, está uma guitarra lírica que se manifesta em vaidosos, atraentes e assombrosos acordes de onde são esvoaçados solos ziguezagueantes, ácidos e atordoantes, uma bateria soberbamente jazzística de toque polido, flamejante, leve e cintilante, um baixo murmurante de linhas fibradas, trevosas e lubrificadas, um teclado jupiteriano de harmonias exuberantes, polposas e absorventes, um melodramático violino de mugidos uivantes, enfáticos e penetrantes, e ainda vocais sedosos, aristocráticos e pomposos que esculpem com superior vistosidade toda esta joia erudita. A ilustração de natureza surrealista e datada do século XX que confere rosto a esta sublime maldição, aponta os seus créditos autorais ao clássico ilustrador inglês Alan Elsden Odle. Este é um álbum verdadeiramente excepcional – executado a exímia maestria e pincelado a intocável formosura – que em mim imortalizara todo um sentimento de venerada admiração. Dele regresso com os sentidos desmaiados, a respiração travada, alma reconfortada, e ainda a forte convicção de que muito dificilmente este não será – aos meus ouvidos – o melhor álbum do ano. Ensombrem-se e mistifiquem-se nele.

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 Totem Cat Records