Da Polónia chega-nos o poderoso álbum de estreia de Shine, um quarteto muito promissor
enraizado na cidade sulista de Bielsko-Biała.
Lançado unicamente em formato digital no final do passado mês de Março através
da sua página oficial de Bandcamp,
este ‘Moon
Wedding’ vem nutrido e robustecido de um tenebroso, prepotente,
lamacento e ostentoso Stoner-Doom manchado e sobrecarregado de THC (Tetraidrocanabinol). A sua sonoridade verdadeiramente
intrigante, monolítica, obscura e magnetizante – assombrada por uma densa, intensa
e psicotrópica nebulosidade, e locomovida a uma lenta e carregada ritmicidade –
tem o dom de nos possuir, eclipsar e soterrar nas profundezas da misantropia,
deixando-nos completamente entregues a uma inércia que nos anestesia membros e
sentidos. É de olhar empedernecido e semi-cerrado, cabeça detidamente entregue a
uma pesada dança pendular de ombro a ombro, semblante taciturno, e alma
completamente embebida numa doce, prazerosa e lisérgica narcose que inalo e
comungo todo o fumarento, esverdeado e luciférico bafo de Shine. São cerca de 39 minutos – distribuídos pelos cinco temas que
o ensombram – governados e aureolados por um morfínico ritual que nos insensibiliza,
extasia e canaliza para uma delongada, sonolenta e arrebatada odisseia pelas artérias
da nossa espiritualidade. Deixem-se enlutar pela conturbada, negra e saturada
radiância exalada de ‘Moon Wedding’ ao supremo som de
duas guitarras titânicas que se amuralham em riffs umbrosos, turvos, sinistros e majestosos, e se desvairam em
ululantes, alucinógenos, hipnóticos e ziguezagueantes solos, um baixo massivo
de reverberação possante, tensa e musculada, uma bateria ardente e explosiva de
galope encorpado, forte e arrastado, e ainda uma voz distorcida, avinagrada, ecoante
e ofuscada que nos dilacera e absorve a lucidez. Este é um álbum atormentado
por uma veemente ambiência infernal que nos amortalha e enfeitiça do primeiro
ao derradeiro minuto. Um registo portador de uma alma entorpecida, melancólica
e endiabrada que vos hibernará e imortalizará num perfeito e imperturbável estádio
de redentora sedação. ‘Moon Wedding’ deve ser rodado, ouvido
e venerado na penumbra, de corpo relaxado e rosto tombado sobre o peito. Interiorizem
toda a sua lenitiva exalação e sintam-se embaciar e levitar aos inebriantes,
lúgubres e brumosos céus de Shine. Já
tinha saudades de um disco assim.
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