Proveniente da cidade-capital
de Lima chega-nos o novo trabalho de longa duração da formação peruana Spatial
Moods. Intitulado de ‘Nace Un Ciclo’, gravado entre 2018/2019,
e muito recentemente lançado sob a exclusiva forma digital, este seu mais
recente álbum vem revestido de um intoxicante, veraneio, sonhador e delirante Psychedelic
Rock em parceria com um viajante, alienígena, chamativo e intrigante Space
Rock. Ventilada por uma sonoridade excursionista – climatizada a um
tropical exotismo e conduzida a um experimentalismo sem fronteiras – esta deleitosa obra serpenteia-se, bronzeia-se e pavoneia-se pelas místicas, deslumbrantes e esfíngicas
estradas de um quimérico, tórrido e caleidoscópico psicadelismo lacrimejado e vertido pelas fornalhas estelares. Pautado
por um balanceamento que tanto nos passeia e eteriza pelas embriagantes, anestésicas
e extasiantes paisagens pinceladas a lisergia e mergulhadas em utopia, como nos
afogueia e euforiza com a vociferação de rumorosos, turbulentos e fibrosos tornados
rendilhados a endorfinas, ‘Nace Un Ciclo’ é um sensacional álbum
de duas aparências e naturezas desiguais. De pés atracados e abarcados pelas
douradas, cálidas e aveludadas areias do oceano desértico e cabeça soterrada e
empoeirada na tempestuosa nebulosidade cósmica, somos namorados por duas
guitarras messiânicas que se entrelaçam na sagrada ascensão de arábicos, dançantes,
enfeitiçantes e seráficos Riffs, e deslaçam na sónica libertação de cremosos,
ecoantes, flamejantes e venenosos solos, um baixo hipnótico e murmurante de
linhas bafejantes, sombreadas, fluídas e palpitantes, uma bateria operante de
ritmicidade desembaraçada, e galopante, um adorável teclado de ambiência e
fragância onírica, e uma voz suavizante, diamantina e relaxante que sobrevoa e ressoa
pelas resplandecentes, paradisíacas e verdejantes planícies de extensão e
beleza a perder de vista. O detalhado, colorido e imaginativo artwork que
ornamenta esta obra ficara a cargo do ilustrador local Emilio Carranza.
Alcanço o final de ‘Nace Un Ciclo’ com as pálpebras pesadas e adormecidas
– encobrindo, assim, um olhar inebriado – narinas dilatadas por onde vagueia
uma distendida e demorada respiração, e a alma inteiramente fascinada e enternecida
pela mágica, edénica e catártica sublimidade que o mesmo encerra. Deixem-se
polinizar, prender e maravilhar pela ataráxica melosidade de Spatial Moods,
e desaguar num autêntico e terapêutico oásis de propensão sensorial. Não será fácil emergir e despertar deste profundo sonho lúcido que nos irrigara e aureolara a espiritualidade do primeiro ao derradeiro minuto.
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