Da grande e populosa cidade
de Córdova (situada no norte da Argentina) chega-nos a fumegante e intoxicante
exalação baforada pelo jovem power-trio denominado de Las historias
que acaba de nos presentear com o seu novíssimo EP de designação homónima. Oficialmente
lançado no final do passado mês de Abril através do exclusivo formato digital,
este registo de curta duração mas perdurável ressaca – superiormente concebido pela formação sul americana – vem embaciado, ungido e embriagado por um pastoso, fumarento,
sonolento e pantanoso Heavy Psych de clima outonal que nos eteriza e
canaliza numa imersiva, profunda e lenitiva narcose. A sua letárgica sonoridade
acolhe a combina a psicotrópica viscosidade dos norte-americanos Dead Meadow com
a sideral misticidade dos australianos Ahkmed e a vulcânica efervescência
dos neozelandeses Datura, forçando o ouvinte a experienciá-la de músculos
relaxados, sentidos abafados, narinas dilatadas e olhar semi-cerrado, aprisionado a um
imperturbável estádio de detida introspecção. Uma vez amortalhados e dominados por
esta envolvente, febril e delirante hipnose, somos petrificados e embalados num
prazeroso torpor que nos inunda todas as partes erógenas do cérebro. De lucidez
desmaiada e embriaguez acordada, a nossa alma arrebatada é acariciada e desaguada
no nirvânico universo de Las Historias. Na génese deste poderoso
sonífero via auditivo está uma guitarra alucinógena de riffs resinosos,
esverdeados, nublados e venenosos, e solos ácidos, borbulhantes, esvoaçantes e
alucinados, um baixo modorrento de linhas condensadas, magnetizantes, ondeantes
e sombreadas, uma rutilante bateria de ofuscante, acrobática, hipnótica e contagiante
ritmicidade, e ainda uma voz profética que com o seu idioma nativo lidera toda
esta utópica e caleidoscópica viagem alimentada a ácido lisérgico. Alcanço o epílogo da sua extensão temporal de espírito completamente salteado e atordoado pela febril toxicidade transpirada de ‘Las historias’. Deixem-se lubrificar,
embevecer e embalsamar pelo intenso THC sonoro vincadamente enraizado nos quatro
temas que compõem esta verdadeira infusão enteonégica, e testemunhem a crescente
ampliação da vossa percepção provocada por um dos EP’s mais xamânicos e
catárticos do ano. Depois de comungado, não será nada fácil – ou sequer desejado – emergir à tona
deste oceano atestado de Ayahuasca e desembaciar os sentidos desta bruma
que os abarcara e desnorteara do primeiro ao derradeiro minuto.
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