Da Turquia chega-nos
a feérica, edénica e purificante misticidade brilhantemente suspirada pelo
maravilhoso álbum de estreia do quarteto LeatherFrank. Desabrochado e descoberto
pela primeira luzência solar que timidamente banhara a bocejante aurora de
2020, batizado de ‘Dark Forest’ e devidamente apresentado através
do exclusivo formato digital – residente nas mais variadas plataformas digitais
– este primeiro registo da jovem turma turca vem aromatizado por um
deslumbrante, mavioso, esplendoroso e embriagante Psychedelic Rock / Post
Rock de apurada estética cinematográfica, massajado por um ondeante,
anestésico, sidérico e magnetizante Krautrock de paladar oriental, conduzido
por um meditativo, enfeitiçante, serpenteante e imersivo Progressive Rock
de apaixonantes danças arábicas, e ocasionalmente fervido por um pantanoso,
vibrante, dominante e fogoso Heavy Blues apimentado a efeito Fuzz.
Destilada de todo este apaladado, exótico e diversificado cocktail musical
onde todos os géneros convivem e dialogam entre si, a quimérica e terapêutica sonoridade
de ‘Dark Forest’ remete-nos para uma profunda e doce letargia, de
corpo repousado acima da acariciante ondulação que tranquilamente mareia todo
um imenso e solitário oceano vigiado e sombreado pelo negro e aveludado manto
do Cosmos soturno. De membros e sentidos entorpecidos, narinas dilatadas em
constante inspiração deste pólen etéreo, cabeça pesadamente baloiçante de ombro
a ombro, e olhar sonolento e içado na longínqua direcção das mais fulgurantes
fornalhas estelares, somos fascinados e consagrados pela mágica e erótica
sublimidade de LeatherFrank. Uma profunda e envolvente imersão na íntima
nebulosidade do universo onírico – onde a noite rubricara um trato com a
eternidade – à harmoniosa boleia de duas guitarras proféticas que se manifestam
em Riffs intrigantes, fibrosos, vagarosos e intoxicantes de onde florescem
e trepam solos refrescantes, arrebatados, refinados e rutilantes, um baixo
vagueante de linhas ronronantes, sombreadas, tonificadas e pululantes, uma
bateria tiquetaqueante de toque cintilante, requintado, cuidado e hipnotizante,
e um par de vozes sedosas, afáveis e melodiosas que sobrevoam com desarmante
graciosidade toda esta fantástica, divina e nirvânica digressão pelas infindáveis
planuras da nossa espiritualidade. ‘Dark Forest’ é um álbum de beleza nocturna que
nos passeia de uma entorpecedora melancolia a uma desmaiada euforia.
Testemunhem a afrodisíaca deserção da alma pela bocejante obscuridade sideral, deixando
para trás um corpo despido e caído, e sintam-se naufragar nas turvas e espessas
águas de uma hipnose amuralhada a lisergia. Não vai ser fácil regressar à tona deste
intenso sonho acordado, reaver a lucidez que nos fora subtraída e sonegada, e
quebrar o feitiço que nos prendera e climatizara ao longo dos seus 30 minutos
de duração. Um dos mais poderosos opiáceos de interiorização auditiva está
aqui, na estreia vitoriosa de LeatherFrank. Enlameiem-se neste paradisíaco
lodaçal.
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