sábado, 9 de maio de 2020

Review: ⚡ LeatherFrank - 'Dark Forest' (2020) ⚡

Da Turquia chega-nos a feérica, edénica e purificante misticidade brilhantemente suspirada pelo maravilhoso álbum de estreia do quarteto LeatherFrank. Desabrochado e descoberto pela primeira luzência solar que timidamente banhara a bocejante aurora de 2020, batizado de ‘Dark Forest’ e devidamente apresentado através do exclusivo formato digital – residente nas mais variadas plataformas digitais – este primeiro registo da jovem turma turca vem aromatizado por um deslumbrante, mavioso, esplendoroso e embriagante Psychedelic Rock / Post Rock de apurada estética cinematográfica, massajado por um ondeante, anestésico, sidérico e magnetizante Krautrock de paladar oriental, conduzido por um meditativo, enfeitiçante, serpenteante e imersivo Progressive Rock de apaixonantes danças arábicas, e ocasionalmente fervido por um pantanoso, vibrante, dominante e fogoso Heavy Blues apimentado a efeito Fuzz. Destilada de todo este apaladado, exótico e diversificado cocktail musical onde todos os géneros convivem e dialogam entre si, a quimérica e terapêutica sonoridade de ‘Dark Forest’ remete-nos para uma profunda e doce letargia, de corpo repousado acima da acariciante ondulação que tranquilamente mareia todo um imenso e solitário oceano vigiado e sombreado pelo negro e aveludado manto do Cosmos soturno. De membros e sentidos entorpecidos, narinas dilatadas em constante inspiração deste pólen etéreo, cabeça pesadamente baloiçante de ombro a ombro, e olhar sonolento e içado na longínqua direcção das mais fulgurantes fornalhas estelares, somos fascinados e consagrados pela mágica e erótica sublimidade de LeatherFrank. Uma profunda e envolvente imersão na íntima nebulosidade do universo onírico – onde a noite rubricara um trato com a eternidade – à harmoniosa boleia de duas guitarras proféticas que se manifestam em Riffs intrigantes, fibrosos, vagarosos e intoxicantes de onde florescem e trepam solos refrescantes, arrebatados, refinados e rutilantes, um baixo vagueante de linhas ronronantes, sombreadas, tonificadas e pululantes, uma bateria tiquetaqueante de toque cintilante, requintado, cuidado e hipnotizante, e um par de vozes sedosas, afáveis e melodiosas que sobrevoam com desarmante graciosidade toda esta fantástica, divina e nirvânica digressão pelas infindáveis planuras da nossa espiritualidade. ‘Dark Forest’ é um álbum de beleza nocturna que nos passeia de uma entorpecedora melancolia a uma desmaiada euforia. Testemunhem a afrodisíaca deserção da alma pela bocejante obscuridade sideral, deixando para trás um corpo despido e caído, e sintam-se naufragar nas turvas e espessas águas de uma hipnose amuralhada a lisergia. Não vai ser fácil regressar à tona deste intenso sonho acordado, reaver a lucidez que nos fora subtraída e sonegada, e quebrar o feitiço que nos prendera e climatizara ao longo dos seus 30 minutos de duração. Um dos mais poderosos opiáceos de interiorização auditiva está aqui, na estreia vitoriosa de LeatherFrank. Enlameiem-se neste paradisíaco lodaçal.

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