O fantástico quinteto
australiano Mt. Mountain – uma das minhas bandas contemporâneas de
eleição – acaba de lançar o seu muito ansiado quarto álbum, batizado de ‘Centre’,
carimbado pela discográfica londrina Fuzz Club Records, e devidamente exteriorizado
sob a forma digital, de CD-R e vinil. A par do que acontece com os seus
antecessores, este novo registo de longa duração, esculpido e envernizado pelo talentoso colectivo
domiciliado na cidade de Perth, vem arejado por um reconfortante, meditativo,
imersivo e deslumbrante Krautrock de misticismo oriental e afago
espiritual, matizado por um magnetizante, ensolarado, extasiante e aromatizado Psychedelic
Rock de texturas caleidoscópicas, e ainda tecido por um ritualístico, aliciante,
embriagante e labiríntico Drone que de forma discreta mas constante se
regenera e de nós apodera. A sua sonoridade envolvente, sedativa, evolutiva e
reluzente – resultante de um ponto de intersecção que mistura o hipnotismo
sensorial dos nipónicos Kikagaku Moyo com o psicadelismo tropical dos dinamarqueses
Causa Sui – climatiza, seduz e eteriza o ouvinte num leve e mélico torpor que o
conduz a um pleno e imperturbável estádio de obcecante encantamento. Inundado pela radiante,
edénica e transbordante harmonia, e sufocado pela doce letargia que nos embala
numa inescapável hipnose, ‘Centre’ ostenta toda uma calmante, pálida
e purificante luminescência que em nós instaura uma inextinguível claridade
interior. De corpo recostado e relaxado no Jardim do Éden, espírito depurado e
consolado pelo seráfico sonho sublimemente musicado de Mt. Mountain, e ainda
de olhar içado e cravado nas longínquas fornalhas estelares que pulsam por
entre a trevosa intimidade do Cosmos bocejante, somos farolizados, massajados e
mergulhados de forma complacente nas profundezas translúcidas das suas
composições ao sabor de duas guitarras ataráxicas que – movidas a fina e detalhada
sensibilidade – se cruzam numa vistosa tapeçaria delineada a acordes gentis, atraentes, melancólicos e
primaveris, e descruzam na orgásmica libertação de solos serpenteantes, lustrosos, cremosos e dançantes,
um baixo murmurante de linhas flutuantes, insistentes, sedutoras e pululantes,
uma bateria soberbamente jazzística que – de toque polido, luminoso, preciso
e tilintante – embarca numa marcha rítmica verdadeiramente cativante, um mágico
sintetizador de agradáveis melodias condimentadas a frescura astral e fragância
meridional, e ainda uma voz espectral, aveludada, açucarada e estival que se
passeia leve e graciosamente por toda a atmosfera aureolada de ‘Centre’.
Este é um álbum apaixonadamente ternurento e hospitaleiro – encerado e
ensaboado a um aquoso resplendor de coloração diamantina – que, do primeiro ao
derradeiro tema, me conservara num perpétuo estado de êxtase. Esperneiem-se nas
suas espaçosas melodias, saboreiem todas as suas deliciosas secreções e
testemunhem a deserção da vossa alma rumo ao inefável transe. No final deste
místico ritual não vai ser nada fácil aceitar o esgotamento da força
gravitacional que nos manteve atrelados a ‘Centre’ numa
compenetrada dança orbital, e pisar de novo o sóbrio solo da consciência
terrena. Banhem-se na intensa luzência desta paradisíaca obra de beleza consumada, e
vivenciem de forma devota e enfeitiçada todo o sagrado esplendor daquele que indubitável e posteriormente será medalhado como um dos melhores álbuns brotados em 2021.
Links:
➥ Facebook
➥ Bandcamp
➥ Fuzz Club Records
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