Da outra margem do
oceano Atlântico chega-nos uma das mais apaixonantes surpresas musicais do
presente ano. Oficialmente lançado no passado mês de Março pela mão do incansável
selo discográfico peruano Necio Records em formato digital e numa muito apelativa
e ultra-limitada edição em formato físico de vinil (pintalgada com respingos de coloração violeta e de prensagem reduzida a apenas 300 cópias na iminência de esgotar), ‘La
Era de Acuario’ simboliza o homónimo e paradisíaco álbum de estreia (e
que estreia!) deste encantador sexteto mexicano. De pés ancorados na populosa
capital da Cidade do México e espíritos boémios a vaguear pelo icónico
bairro de Haight-Ashbury (localizado em São Francisco, Califórnia)
– epicentro difusor do movimento hippie testemunhado na década de 1960 – estes
aztecas celebram todo um purificante, nebuloso e misterioso ritual de essência
xamânica e afago espiritual, de onde sobressai um embriagante, prismático,
onírico e deslumbrante Neo-Psych em erótica consonância com um alucinante,
colorido, perfumado e extasiante Acid Rock de buliçosa efervescência. A sua sonoridade extraordinariamente
estimulante, psicotrópica e dançante – escaldada e saturada de um exótico e afrodisíaco
misticismo, e costurada a exuberantes adereços de estética sessentista –
provoca no ouvinte toda uma mesclada salada sensorial, inesgotáveis visões caleidoscópicas, flutuantes miragens utópicas, e um imaculado estádio de transe sacramental. De
pupilas dilatadas e sentidos narcotizados, somos passeados acima de um tapete
voador pelos purpúreos céus crepusculares da velha Pérsia. Uma nirvânica, messiânica e lisérgica hipnose impregnada
de LSD que nos encandeia e bronzeia de filosófica resplandecência
hinduísta, e escancara as portas da percepção para uma extraordinária imersão no
excêntrico universo de Aldous Huxley. Na composição deste sagrado enteógeno
de odor vintage e calor latino estão duas guitarras intoxicantes de Riffs
serpentantes, arábicos e aliciantes de onde são uivados solos ziguezagueantes,
ácidos e delirantes, um pulsante baixo de linhas fibradas, torneadas e murmurantes,
uma bateria extrovertida de ritmicidade sedutora e clima tropical, uma contagiante
percussão de exuberância tribalista, um mágico órgão de vaporosos, refrescantes
e nebulosos bailados, e ainda uma voz enfeitiçante de tonalidade angelical, etérea
e espectral que voa e ecoa pela esotérica, melosa e fantasmagórica bruma de La
Era de Acuario. O sublimado portal visual – de seráficos, miríficos e detalhados
ornamentos – que confere um rosto escultural a esta irretocável obra de perímetro
magistral aponta os seus créditos autorais ao inconfundível ilustrador sueco Robin Gnista. Percam-se pelos infindáveis meandros desta labiríntica tapeçaria de
texturas revivalistas e encontrem-se num balsâmico e terapêutico oásis de consolação
e glorificação sensorial. ‘La Era de Acuario’ é condimentado por
um chamejante erotismo que não deixará ninguém indiferente. Não vai ser nada fácil
quebrar o dominante feitiço em nós instaurado por estes seis hippies da
era moderna, e despertar das vertiginosas profundezas deste entontecido sonho
lúcido para enfrentar o desconfortável silêncio que o sucede. Indubitavelmente
um dos mais notáveis álbuns do ano. Empoeirem-se e empoderem-se nele.
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