sexta-feira, 2 de abril de 2021

Review: ⚡ Mythic Sunship - 'Wildfire' (2021) ⚡

★★★★

O fantástico quinteto escandinavo Mythic Sunship está de regresso com a apresentação do seu novíssimo trabalho de longa duração ‘Wildfire’, oficialmente lançado hoje mesmo pela mão da influente discográfica nova-iorquina Tee Pee Records sob a forma física de CD e vinil. Com mais de uma década de prolífica actividade – de onde frutificaram oito memoráveis obras (boa parte delas carimbadas pelo adorável selo dinamarquês El Paraíso Records) – este inventivo e talentoso colectivo de raízes soterradas na cidade-capital de Copenhaga (Dinamarca) saíra do estúdio sueco RMV Studio com um dos álbuns por mim mais ansiados de 2021. Com base na receita musical posta em prática desde a sua fundação – que combina um imersivo, magnético e contemplativo Krautrock de aroma oriental, um colorido, alucinógeno e delirado Psychedelic Rock de inspiração sessentista, e ainda um intempestivo, catártico e expressivo Avant-Garde Jazz de criatividade ilimitada – os Mythic Sunship estreiam mais um novo capítulo da sua incrível e evolutiva odisseia auto-denominada “Anaconda Rock”. Num perfeito equilíbrio entre bonanceiras passagens de envolvência edénica, mística e deslumbrante, e tempestuosos, vibrantes e furiosos ciclones onde todos os instrumentos se embrulham e amotinam numa louca orgia, a impactante sonoridade de ‘Wildfire’ é condimentada e flamejada a um exótico, sónico e carnavalesco experimentalismo sem fronteiras que o espartilhem ou delimitam. De transbordante fascinação a ele atrelada e sobreaquecidos numa febril combustão, somos varridos pela sua intensa toxicidade e viajados numa estonteante, acrobática e electrizante montanha-russa de emoções empoladas e inflamadas. Percam-se e encontrem-se num brumoso estádio de embriagada euforia à enlouquecedora boleia de duas guitarras selváticas que esgrimam berrantes, ácidos, agitados e ziguezagueantes solos, um baixo soberbamente Krauty que, com as suas linhas onduladas, magnetizantes, dançantes e oleadas, se agarra com unhas e dentes ao Riff-base, uma bateria incisiva de galope fervoroso, buliçoso e provocante que tiquetaqueia todo este caos superiormente organizado, e ainda um esdrúxulo saxofone que vomita serpenteantes, frenéticos, coléricos e trepidantes choros capazes de nos testar os limites da sanidade mental. O admirável artwork pincelado e oxigenado a beleza abstracta aponta os seus créditos autorais ao ilustrador dinamarquês Tobias Holmbeck, e harmoniza-se na perfeição com a labiríntica, estética e desarrumada musicalidade que o mesmo encerra. ‘Wildfire’ é um álbum lavrado a simbiótica e afrodisíaca improvisação de essência instrumental que nos ensurdece a lucidez, satura de embriaguez, e embala numa vertiginosa, esvoaçante e tumultuosa efervescência sem destino previamente traçado. Um registo de aventurosas composições que nos despistam a capacidade de leitura musical e eternizam num anárquico bacanal. Sintam-se transcender aos nirvânicos céus, catapultados pelos empolgantes, polvorosos, sinuosos e triunfantes crescendos deste ‘Wildfire’, e experienciem como puderem todo o esplendor cósmico, místico e irreverente de um dos mais sérios candidatos a disco do ano.

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