Depois de em
2019 se ter mostrado ao mundo nas asas do seu extraordinário álbum de estreia ‘Eroto
Comatose Lucidity’ (aqui narrado e largamente elogiado, e aqui sendo consequente e legitimamente medalhado como um dos melhores álbuns desse
mesmo ano), o esdrúxulo e genial quarteto norueguês Sex Magick Wizards – purista
da música Jazz e sediado na cidade-capital de Oslo – acaba de
provocar e replicar em mim mais uma inestancável salivação dos ouvidos e inextinguível
glorificação dos sentidos com a apresentação do seu muitíssimo ansiado segundo
trabalho de longa duração, intitulado de ‘Your Bliss My Joy’ e
lançado pela mão do independente selo discográfico local Rune Grammofon através
dos formatos físicos de CD e vinil. A par do que testemunhara no seu primeiro
trabalho, este novo álbum é norteado por um elegante, virtuoso e fascinante Avant-garde
Jazz condimentado a enfeitiçante experimentalismo – que ocasionalmente se ramifica
num selvático, complexo e esquizofrénico Free Jazz onde todos os
instrumentos correm perdidamente em direcções opostas, e num exótico, cerebral e
afrodisíaco Jazz Fusion de opulentas composições – aliado a um intrigante,
sinuoso e magnetizante Progressive Rock de tintura psicadélica e inspiração
setentista. A profética, estética e alucinante sonoridade – de técnica
apurada, instrumentos dialogantes e temperamento bipolarizado – pintada a cores
dissonantes e redigida a linhas tortas por estes talentosos académicos Jazz freaks
combina todo um excêntrico e enlouquecedor descarrilamento de sofisticação
matemática que nos inunda e embrulha as conexões cerebrais, com um melódico e
libertador deslumbramento de sublimidade seráfica que nos adormece e embevece o
espírito. Conseguem imaginar toda uma colorida, texturizada e carnavalesca orgia
entre Miles Davis, John Coltrane, Ornette Coleman, Peter
Brötzmann, Django Reinhardt, King Crimson, Colosseum e
Mahavishnu Orchestra? Se sim, acabam de alcançar os admiráveis territórios de Sex
Magick Wizards. Este é um álbum simultaneamente tempestuoso e bonanceiro, inflamado
e arejado, frenético e plácido, aparatoso e desbravado, obsceno e educado.
Ingressem nesta viagem desorientadora à sónica boleia de uma erudita guitarra
de sotaque John McLaughlin’esco que se manifesta em faustosos,
propulsivos, altivos e vultuosos Riffs de onde são vertidos e gritados solos
trepidantes, ansiosos, labirínticos e serpenteantes, um protuberante baixo
de linhas inchadas, pulsantes, ondeantes e carnudas que sombreia todas as
sílabas dos acordes, uma expressiva bateria, soberbamente jazzística,
que tanto se inquieta em polvorosas acrobacias de timbalões galopantes, como se
aquieta numa maciez lustrosa de pratos tilintantes, e ainda um irreverente saxofone
de sopros velozes, ásperos, ziguezagueantes e ferozes que rabisca a traços abstractos
toda esta irretocável obra-prima. ‘Your Bliss My Joy’ é um álbum de
beleza e destreza orquestral, espirituosa, caótica e piramidal. Um galáctico
circo domesticado a estonteante paranoia e incessante escapismo que atestara e extravasara
os limites da minha barragem de expectativas a ele previamente dedicadas. Um
dos mais fortes candidatos a álbum do ano está aqui, na portentosa misticidade, imaginativa sagacidade e gloriosa majestosidade deste ofuscante ‘Your Bliss My Joy’.
Efervesçam-se nele.
Links:
➥ Facebook
➥ Rune Grammofon
➥ Plataformas digitais
Sem comentários:
Enviar um comentário