segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Silêncio

Encostei o carro em frente a sua casa. A chuva batia com força nos vidros. Ela saiu, e correu em direcção ao carro. Abriu, desesperadamente, a porta e, confortavelmente, encostou-se na, negra, pele que compunha os bancos. Olhou-me e esperou calorosas palavras minhas. Desliguei o motor e deixei o silêncio falar. A chuva caía com mais força sobre o velho carro. Ela Sentiu um incisivo arrepio e olhou a rua. Um idoso lutava contra o forte vento que o atacava. Domingo Sépia, manchado pela água da chuva. Olhei-a. Ela estremecia de frio enquanto procurava, na rua, algo que aprisionasse o seu olhar instável. Incómodo. Abracei a sua mão, estava gelada. Ela sorriu e descansou o seu olhar no meu peito. O candeeiro de iluminação pública que, timidamente, nos iluminava, de repente cessou. Deixe-mos o silêncio preparar a atmosfera a seu livre e inteiro gosto pessoal. Beijou-me a face. O seu perfume penetrou em todas as minhas cavidades e deitou-se sobre a minha alma. O, fervoroso, fogo tentava queimar a gélida neve que se desmaiou sobre mim. Desculpa. Hoje quero ouvir o silêncio. Um gato preto atravessa a estrada solitária. Descanso a cabeça no vidro lateral. Sai, sai do carro! Não quero que te sintas encurralada pelo silêncio. A nada ele te obriga, ou submete. Na negra noite, uma rápida e brilhante chama de luz nasce e, de seguida, morre. Um forte disparo acordou a noite. Ela trouxera a arma consigo.

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