segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Adeus, Lisboa.

Lisboa ainda se esperneava nessa tímida madrugada quando decidi sair subtilmente da cama. Malas arrumadas e estantes vazias habitavam aquele quarto. Seria essa a última noite naquele quarto. Seria essa a última noite em Lisboa. Lisboa, cidade de um sonho persistentemente renovado. Cidade que recolhe velhos amores, velhas promessas, velhos planos. Cidade que recolhe visões de uma vida que nunca foi verdadeiramente minha. Cidade a quem confessei amor eterno, a quem prometi ancorar a minha vida e hastear todo um futuro. Mas a maré foi mais forte que tudo isso, e arrastou-me consigo para bem longe de Lisboa, para bem perto de ti. Abandonei secretamente a cidade e amordacei todas as manifestações nostálgicas que me tentaram deter. Já a caminho de mim mesmo, olhei uma última vez para essa cidade que ficará para sempre bem demarcada no meu peito. Para essa cidade de quem o esquecimento se recorda. O tejo abraçava o seu corpo com ternura. O sol afunilava ao longo das mais recônditas ruas que definham o seu corpo e as gaivotas acordavam os pescadores. E eu, de maxilares cerrados, tentava concentrar-me no firmamento da minha nova estrada. Existem livros que merecem resignar-se à condição de que não serão terminados, e há outros que merecem ser iniciados, desenvolvidos e terminados com a mais convicta tinta que corre nas nossas vidas. Agora sim, estava a caminho de mim mesmo. Estava a caminho de ti. 

Adeus, Lisboa. Adeus.

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