segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Grutera | "Sur lie" (2015)

Foi nesta manhã de Novembro, onde o sol outonal irrompia através de uns céus grisalhos e desmaiava sobre as folhas das árvores envelhecendo-as, que experienciei o novo trabalho de Grutera, “Sur lie”, e devo adiantar – sem demoras – que se tratou de uma experiência tão tranquilizante quão fascinante. Sur lie representa o processo de maturação do vinho, dando a este o corpo, alma e aroma desejados. Também a carreira musical de Grutera parece vivenciar uma fase em tudo semelhante ao deste processo vínico: “Sur lie” (o álbum) atingiu a estrutura, alma e aroma por mim desejados. Gravado no Túnel das Barricas, cave da Herdade do Esporão (em pleno coração alentejano) este novo álbum de Grutera dedicado ao World Music encerra acordes de inenarrável beleza que se desatam ao longo dos 35 minutos que lhe conferem corpo temporal e nos convidam à profunda introspecção. Guilherme Efe desbrava as cordas da sua guitarra acústica com tremenda sensibilidade e pulcritude, obrigando-nos a comungar Grutera de olhos cerrados, queixo caído sobre o peito e sorriso talhado no rosto. Na sombra de alguns dos seus acordes está Helena Silva que com o seu violino sustido encanta e estarrece toda a harmonia outonal de “Sur lie”. Este é um disco pastoral que nos respira e seduz. Um disco sincero e profundo que nos sussurra ao ouvido contos oníricos que nos permitem sonhar acordados. Um disco de sonoridade embriagante que, tal como o vinho, tem o dom de nos levitar até aos braços de Baco. Entreguem-se sem moderação a este “Sur lie” e testemunhem de olhos selados uma das mais agradáveis e apaixonantes viagens espirituais das vossas vidas. Um dos melhores exemplares do lado outonal da música está aqui, no mais recente suspiro criativo e contemplativo de Grutera.

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