Foi nesta manhã de Novembro,
onde o sol outonal irrompia através de uns céus grisalhos e desmaiava sobre as
folhas das árvores envelhecendo-as, que experienciei o novo trabalho de Grutera, “Sur lie”, e devo adiantar –
sem demoras – que se tratou de uma experiência tão tranquilizante quão fascinante.
Sur lie representa o processo de maturação
do vinho, dando a este o corpo, alma e aroma desejados. Também a carreira musical
de Grutera parece vivenciar uma fase em tudo semelhante ao deste processo vínico:
“Sur lie” (o álbum) atingiu a estrutura, alma e aroma por mim desejados.
Gravado no Túnel das Barricas, cave da Herdade do Esporão (em pleno coração
alentejano) este novo álbum de Grutera dedicado ao World Music encerra
acordes de inenarrável beleza que se desatam ao longo dos 35 minutos que lhe
conferem corpo temporal e nos convidam à profunda introspecção. Guilherme Efe desbrava as cordas da sua guitarra acústica
com tremenda sensibilidade e pulcritude, obrigando-nos a comungar Grutera de
olhos cerrados, queixo caído sobre o peito e sorriso talhado no rosto. Na
sombra de alguns dos seus acordes está Helena Silva que com o seu violino sustido
encanta e estarrece toda a harmonia outonal de “Sur lie”. Este é um disco pastoral
que nos respira e seduz. Um disco sincero e profundo que nos sussurra ao ouvido
contos oníricos que nos permitem sonhar acordados. Um disco de sonoridade
embriagante que, tal como o vinho, tem o dom de nos levitar até aos braços de
Baco. Entreguem-se sem moderação a este “Sur lie” e testemunhem de olhos selados
uma das mais agradáveis e apaixonantes viagens espirituais das vossas vidas. Um
dos melhores exemplares do lado outonal da música está aqui, no mais recente
suspiro criativo e contemplativo de Grutera.
Sem comentários:
Enviar um comentário