quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Ela
Água quente do chuveiro cai sobre o seu corpo despido. O vapor que a temperatura elevada da água expulsa, bate, suavemente, nas portas envidraçadas do poliban. Solta as suas cordas vocais entoando fragmentos vocais de “Bang Bang” de Nancy Sinatra. O telefone toca. De imediato, ela fecha o chuveiro e abandona a casa de banho, de toalha abraçada á sua bacia. Gotas de água acomodam-se no soalho de madeira, repelidas pelo seu corpo molhado.Em bicos de pés, desloca-se pelo, longo, corredor que afunilava para a sala (onde se encontrava o telefone). O ruído do telefone fundiu-se com Chopin que massacrava o silêncio há distantes horas. O telefone cala-se. Discretamente, afasta uma das fileiras metálicas que compõem as persianas interiores e debruça o seu olhar sobre a rua. Está uma noite chuvosa. A rua está deserta. Um velho Cadillac estaciona em frente a sua casa e desliga o motor. É ele. O seu ritmo cardíaco acelera. Afasta-se da janela e abre as, pesadas, gavetas do seu roupeiro, em busca de roupa. Retira de uma delas, um par de calças de ganga escura, e das costas de uma cadeira, a sua clássica camisa de flanela de diferentes tons sépia. Mergulha os braços debaixo das “saias” do seu leito e resgata as perdidas botas de cabedal castanho. O seu olhar fotografa todo o seu quarto em busca do seu velho casaco de cabedal negro. Está repousado sobre o escondido cabide que se situa atrás da porta. Senta-se sobre a sua cama e veste as longas e justas calças de ganga pelas suas pernas, ainda húmidas, até às ancas. As suas mãos conduzem a camisa até junto das suas narinas e sente o forte/intenso cheiro a tabaco que já há muito habitava a flanela. Coloca os seus braços nas mangas da camisa e encaminha-la até aos seus ombros. Com as, pesadas botas nas mãos, corre até á janela da sala e olha a rua. Ele ainda a espera silenciosamente. Aperta os botões da camisa e calça as botas. Olha-se ao espelho. Passa um pente pelos seus longos cabelos castanhos e perfuma o seu suave pescoço. Acomoda o seu negro casaco de pele nos seus ombros. Olha-se de novo ao espelho. O telefone toca. Ela volta-se para o telefone e, de repente, um forte trovão faz-se sentir. Toda a Luz da Noite é assassinada. A chuva acelera o seu ritmo. Apalpa a sua mesa-de-cabeceira em busca do seu maço de cigarros e, coloca-o no bolso interior do seu casaco. Abandona a sala e dirige-se á porta de saída. No corredor, duas orbitas luminosas surgem do seio da, densa, escuridão e fitam-na, sem pestanejar. É o seu gato que se arrasta junto a uma das paredes do corredor que liga a sala á porta de saída. Ela contrai-se, está atrasada. Com a chave suspensa entre os dedos da sua mão, procura a abertura da fechadura e coloca a chave, rodando-a. Abre a porta e, de seguida, fecha-la, com força, nas suas costas.
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