segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Todas as estradas vão dar a Almeria: o deserto, a praia e a cidade (capítulo II)

Estávamos completamente embriagados pela paisagem que nos envolvia. O deserto de Tabernas dilatava a sua imponência previamente pressentida por nós. Todas aquelas montanhas monolíticas cor de sépia e toda aquela vegetação alimentada pelo sol adornavam a nossa alma. Estávamos onde realmente queriamos estar. Atravessar todo este deserto a velocidade de cruzeiro foi dos maiores revitalizantes que havia experienciado. Senti-me escravo de todo aquele assédio ambiental. Senti-me amortalhado por um bem-estar extasiante. Olhei todo aquele paralelismo com cumplicidade. Oh, o deserto. A minha alma estava agora em terras que lhe são naturais. O vento embatia no meu rosto e anestesiava os meus sentidos. O meu olhar podia sobrevoar todo aquele firmamento acariciado pelo sol e perder-se no delirante âmago da beleza. Viajámos rumo às praias costeiras, até onde o deserto se arrasta com carregada elegância. Cabo de Gata foi a localidade escolhida para nos presentearmos com praias onde as águas são transparentes e de temperatura muito agradável. Chegámos a esta localidade costeira ainda perplexos com o deserto de Tabernas e, ao mesmo tempo, extenuados pela interminável viagem. Ainda assim, o cansaço foi tolerante e permitiu que bebêssemos algumas cervejas num bar próximo da praia antes de corrermos até ao oceano da revitalização. Mas depressa nos afastámos daquele balcão e nos dirigimos até à praia. Praia essa, que ia de encontro às imagens que víramos no Google. A água translúcida, calma e quentinha, a areia dourada e um sol de final de tarde que persistia em não ceder o seu lugar à lua formavam os ingredientes daquele verdadeiro paraíso. Estávamos num perfeito estado de deslumbramento com o destino de toda aquela longa estrada que parecia não mais terminar. Cabo de Gata foi um oásis. Depois de nos recompormos naquela praia, decidimos viajar até à cidade de Almeria com o intuito não só de a conhecer, mas também de procurar um local barato onde pudéssemos passar a noite de forma confortável. As nossas costas mereciam esse esforço. Regressámos ao carro e fizemo-nos novamente às estradas poeirentas do deserto. Almeria ficava a cerca de 15, 20 minutos de Cabo de Gata, erigida ainda no deserto de tabernas e beijada pelo oceano. Uma bela cidade costeira ornamentada com inúmeros cactos, palmeiras e outras árvores tropicais. Uma cidade onde o ar abafado do deserto permanecia aprisionado e o sol respirava muito boa saúde. Fiquei rendido à atmosfera sedutora daquela cidade. O paredão junto à praia estendia-se até onde a visão não consegue alcançar e nele passeavam-se imensas pessoas a qualquer hora do dia e da noite. Aquela cidade não dormia. Mas nós dormimos. Depois de uma procura entediante por hotéis baratos da cidade, lá acabámos por nos conformarmos com - um não tão barato quanto desejávamos mas muito bem situado – hostel. Ficámos por lá uma noite e na manhã seguinte decidimos ancorar a nossa estadia na aldeia de Tabernas, subterrada em pleno coração do deserto. Tabernas foi a melhor escolha, tendo em conta que o conforto (depois de uma viagem ainda muito sentida) e a proximidade com o deserto eram os principais requisitos. Lá acabámos por conhecer uma senhora muito simpática que nos acolheu numa também simpática casa por apenas 30 euros por noite (com serventia de tudo o que uma casa possui). Decidimos ficar por lá as três noites que nos restavam dormir em solo espanhol, para que pudéssemos viver o deserto de Tabernas com a dedicação a que a nossa alma nos obriga.

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