Estávamos completamente
embriagados pela paisagem que nos envolvia. O deserto de Tabernas dilatava a sua
imponência previamente pressentida por nós. Todas aquelas montanhas monolíticas
cor de sépia e toda aquela vegetação alimentada pelo sol adornavam a nossa alma.
Estávamos onde realmente queriamos estar. Atravessar todo este deserto a
velocidade de cruzeiro foi dos maiores revitalizantes que havia experienciado.
Senti-me escravo de todo aquele assédio ambiental. Senti-me amortalhado por um bem-estar
extasiante. Olhei todo aquele paralelismo com cumplicidade. Oh, o deserto. A
minha alma estava agora em terras que lhe são naturais. O vento embatia no meu
rosto e anestesiava os meus sentidos. O meu olhar podia sobrevoar todo aquele
firmamento acariciado pelo sol e perder-se no delirante âmago da beleza. Viajámos
rumo às praias costeiras, até onde o deserto se arrasta com carregada elegância.
Cabo de Gata foi a localidade escolhida para nos presentearmos com praias onde
as águas são transparentes e de temperatura muito agradável. Chegámos a esta
localidade costeira ainda perplexos com o deserto de Tabernas e, ao mesmo tempo,
extenuados pela interminável viagem. Ainda assim, o cansaço foi tolerante e permitiu
que bebêssemos algumas cervejas num bar próximo da praia antes de corrermos até
ao oceano da revitalização. Mas depressa nos afastámos daquele balcão e nos
dirigimos até à praia. Praia essa, que ia de encontro às imagens que víramos no
Google. A água translúcida, calma e
quentinha, a areia dourada e um sol de final de tarde que persistia em não
ceder o seu lugar à lua formavam os ingredientes daquele verdadeiro paraíso. Estávamos
num perfeito estado de deslumbramento com o destino de toda aquela longa
estrada que parecia não mais terminar. Cabo de Gata foi um oásis. Depois de nos
recompormos naquela praia, decidimos viajar até à cidade de Almeria com o
intuito não só de a conhecer, mas também de procurar um local barato onde
pudéssemos passar a noite de forma confortável. As nossas costas mereciam esse
esforço. Regressámos ao carro e fizemo-nos novamente às estradas poeirentas do
deserto. Almeria ficava a cerca de 15, 20 minutos de Cabo de Gata, erigida
ainda no deserto de tabernas e beijada pelo oceano. Uma bela cidade costeira ornamentada
com inúmeros cactos, palmeiras e outras árvores tropicais. Uma cidade onde o ar
abafado do deserto permanecia aprisionado e o sol respirava muito boa saúde.
Fiquei rendido à atmosfera sedutora daquela cidade. O paredão junto à praia
estendia-se até onde a visão não consegue alcançar e nele passeavam-se imensas
pessoas a qualquer hora do dia e da noite. Aquela cidade não dormia. Mas nós
dormimos. Depois de uma procura entediante por hotéis baratos da cidade, lá
acabámos por nos conformarmos com - um não tão barato quanto desejávamos mas
muito bem situado – hostel. Ficámos
por lá uma noite e na manhã seguinte decidimos ancorar a nossa estadia na
aldeia de Tabernas, subterrada em pleno coração do deserto. Tabernas foi a
melhor escolha, tendo em conta que o conforto (depois de uma viagem ainda muito
sentida) e a proximidade com o deserto eram os principais requisitos. Lá
acabámos por conhecer uma senhora muito simpática que nos acolheu numa também
simpática casa por apenas 30 euros por noite (com serventia de tudo o que uma
casa possui). Decidimos ficar por lá as três noites que nos restavam dormir em
solo espanhol, para que pudéssemos viver o deserto de Tabernas com a dedicação a que a nossa alma nos obriga.
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