O melhor tratamento que um
instrumento pode ter depois de ser adquirido é ser tocado. E foi justamente
isso que Sir Richard Bishop fez após ter sido irreversivelmente seduzido por
uma guitarra acústica numa pequena loja de instrumentos musicais em Genebra,
Suíça. Fascinado pelo desconhecimento da sua idade e história, depressa tratou
de alimentar a biografia daquela guitarra com o profundo e hipnótico “Tangier Sessions” dedilhado em solo
Marroquino. É um disco bastante comovente e sedutor que nos aprisiona do
primeiro ao derradeiro tema. As virtuosas mãos de Sir Richard Bishop divagam de
forma deslumbrante pelo infinito corpo da sua guitarra cigana. Da petrificante
relação entre as suas mãos e as cordas da guitarra, é libertada toda uma
profusão étnica que nos eleva com ela pela vastidão do deserto. De “Tangier Sessions” é desprendida uma
inebriante, perfumada e quente brisa que nos abraça e apazigua. Uma
reconfortante odisseia de pálpebras cerradas e alma cedida aos ventos
serpenteantes, oriundos da mirabolante dança da palheta de Sir Richard Bishop. É a epifania dedilhada. Um disco
absorvente e hipnótico que nos sussurra histórias de inenarrável beleza.
Comunguem esta poeirenta e solarenga ressonância emanada pelas cordas de uma
guitarra profética e sublime que encontrara, agora, duas mãos capazes de extrair
o que de melhor ela encerra.
Não me conformo com a efemeridade
deste disco. Por mim, estes acordes sagrados estender-se-iam pela eternidade
fora. “Tangier Sessions” desmaiou em
mim de forma intratável. É um dos discos do ano, um dos discos da minha vida
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