quinta-feira, 28 de abril de 2016

Review: Siena Root ao vivo no Hard Club (Porto)

Perspectivava-se um concerto de insuspeita qualidade e assim se materializou. A banda sueca Siena Root brindou todos os presentes com um concerto verdadeiramente apaixonante e de ressaca duradoura a todas as testemunhas que na noite de ontem se deslocaram até ao Hard Club na cidade do Porto. Num ritual promovido pela Garboyl Lives (entidade responsável pela organização do festival Sonic Blast Moledo), onde as bandas de abertura foram os Vircator e os The Black Wizards em concertos comemorativos do “pontapé de saída” da sua tour europeia conjunta (aos quais desejo as maiores felicidades fora de portas, regressando a casa com a auto-estima fortalecida por sinceros e sublimes elogios falados nos mais diversos idiomas), a subida ao palco destes hippies escandinavos de instrumentos ungidos pelos 70’s representou o já esperado culminar da emoção vivida até ao momento. Quanto a mim, estava mesmo em frente a uma das bandas mais impactantes da minha formação enquanto entusiasta musical, e isso estimulava ainda mais toda aquela euforia que se agigantava em mim. E se deles já esperava nada menos do que um concerto de uma vida, a verdade é que saí do Hard Club de coração completamente estarrecido e lucidez embaciada com toda aquela magia em estado musical. Fundamentados num Psych N’ Blues deslumbrante envolvido num Prog Rock carismático e elegante, Siena Root instauraram na plateia toda uma intensa comoção de êxtase que a adornou e enlevou do primeiro ao último tema. Este quinteto nórdico de sonoridade absorvida pela misticidade setentista passeou-se fluidamente pela sua admirável discografia para crescente exaltação de uma plateia completamente embriagada. Foi verdadeiramente hipnotizante comungar todo o resplandecente encantamento transpirado pelos Siena Root numa sagrada celebração orquestrada por um baixo Rickenbacker de linhas robustas, pulsantes e dançantes, uma guitarra fascinante e delirante que se transcendia em vertiginosos solos e inflamantes riffs, um teclado envaidecido de alucinantes e penetrantes divagações, uma bateria efusiva de acrobacias Bonham’eanas, e uma voz torneada e sedosa que nos massajara e enfeitiçara ao longo de toda esta intensa e inabalável hipnose. De salientar ainda o extraordinário entrosamento entre os músicos que, numa dinâmica espantosa e contagiante, conseguem domesticar e harmonizar todos os momentos de prazerosa e agitada esquizofrenia musical, provocando em nós verdadeiros momentos de ingovernável alvoroço que desaguam noutros de etéreo e narcotizante relaxamento. No final do concerto, estes cinco eremitas - agora de instrumentos repousados e amplificadores desligados - vergaram-se numa prolongada vénia em agradecimento a toda uma plateia de olhar radioso que os aplaudia de forma efusiva e demorada. Foi difícil aceitar que toda aquela atmosfera cerimoniosa havia chegado ao fim. Siena Root motivará sempre em mim um nostálgico suspiro de quem sabe ter vivenciado um dos concertos mais especiais da sua vida.

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