Perspectivava-se um concerto
de insuspeita qualidade e assim se materializou. A banda sueca Siena Root brindou todos os presentes
com um concerto verdadeiramente apaixonante e de ressaca duradoura a todas as
testemunhas que na noite de ontem se deslocaram até ao Hard Club na cidade do Porto. Num ritual promovido pela Garboyl Lives (entidade responsável
pela organização do festival Sonic Blast
Moledo), onde as bandas de abertura foram os Vircator e os The Black
Wizards em concertos comemorativos do “pontapé de saída” da sua tour europeia conjunta (aos quais desejo
as maiores felicidades fora de portas, regressando a casa com a auto-estima
fortalecida por sinceros e sublimes elogios falados nos mais diversos idiomas), a subida
ao palco destes hippies escandinavos
de instrumentos ungidos pelos 70’s representou o já esperado culminar da emoção
vivida até ao momento. Quanto a mim, estava mesmo em frente a uma das bandas mais
impactantes da minha formação enquanto entusiasta musical, e isso estimulava
ainda mais toda aquela euforia que se agigantava em mim. E se deles já esperava
nada menos do que um concerto de uma vida, a verdade é que saí do Hard Club de
coração completamente estarrecido e lucidez embaciada com toda aquela magia em
estado musical. Fundamentados num Psych
N’ Blues deslumbrante envolvido num Prog
Rock carismático e elegante, Siena
Root instauraram na plateia toda uma intensa comoção de êxtase que a adornou e enlevou
do primeiro ao último tema. Este quinteto nórdico de sonoridade absorvida pela
misticidade setentista passeou-se fluidamente
pela sua admirável discografia para crescente exaltação de uma plateia
completamente embriagada. Foi verdadeiramente hipnotizante comungar todo o resplandecente
encantamento transpirado pelos Siena
Root numa sagrada celebração orquestrada por um baixo Rickenbacker de linhas robustas, pulsantes e dançantes, uma
guitarra fascinante e delirante que se transcendia em vertiginosos solos e
inflamantes riffs, um teclado envaidecido
de alucinantes e penetrantes divagações, uma bateria efusiva de acrobacias Bonham’eanas, e uma voz torneada e sedosa
que nos massajara e enfeitiçara ao longo de toda esta intensa e inabalável
hipnose. De salientar ainda o extraordinário entrosamento entre os músicos que, numa dinâmica espantosa e contagiante, conseguem domesticar e harmonizar todos os momentos
de prazerosa e agitada esquizofrenia musical, provocando em nós verdadeiros momentos de ingovernável
alvoroço que desaguam noutros de etéreo e narcotizante relaxamento. No final do concerto, estes cinco eremitas - agora de instrumentos repousados e amplificadores desligados - vergaram-se numa prolongada vénia em agradecimento a toda uma plateia de olhar radioso que os aplaudia de forma efusiva e demorada. Foi difícil
aceitar que toda aquela atmosfera cerimoniosa havia chegado ao fim. Siena Root motivará sempre em mim um nostálgico
suspiro de quem sabe ter vivenciado um dos concertos mais especiais da sua
vida.
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