Desde que me conheço que me considero
um absoluto e intratável amante do cinema Western. Nomes como Burt Lancaster,
Charles Bronson, Clint Eastwood, Ernest Borgnine, Franco Nero, Gary Cooper,
Gregory Peck, Henry Fonda, Jack Palance, James Coburn, James Stewart, John
Wayne, Kirk Douglas, Richard Widmark, William Holden e, pois claro, Lee Van
Cleef representam os meus mais imediatos actores de eleição dentro daquele que
é – muito provavelmente – o género cinematográfico mais genuíno da história da
sétima arte. Posto isto, a banda italiana apelidada de Lee Van Cleef nunca conseguiria driblar a minha atenção. Natural da
cidade de Nápoles, este power-trio
acaba de disponibilizar o seu primeiro álbum batizado de ‘Holy Smoke’ (que será
lançado oficialmente no próximo dia 25 de Novembro em formato de vinil). E se Lee Van Cleef já era um nome demasiado
cativante para quem calça texanas, a sonoridade da banda não poderia
conquistar-me de forma mais veemente e categórica. Alicerçada num envolvente, entusiástico
e hipnotizante Heavy Psych que nos
dilata dos mais idosos, cálidos e radiosos desertos do planeta Terra aos mais recônditos,
gélidos e nebulosos lugares do Cosmos, a extasiante sonoridade de ‘Holy
Smoke’ tem em nós um efeito profundamente lenitivo e ao mesmo tempo delirante
e intoxicante. São cerca de 40 minutos de um puro, redentor e sagrado fascínio
que nos dilata as fronteiras conscienciais e desprende a lucidez até à medula
da narcose. Uma sagrada evasão da alma sobrevoando as douradas, macias e ondulantes
dunas de um deserto massajado pelo bafo solar, e distendendo a nossa percepção
pelas auto-estradas espaciais que ramificam todos os astros vigilantes, imortalizados
num profundo e vertiginoso céu estelar. Sintam-se tocados pela desgovernada euforia
ao som de uma guitarra enlouquecedora que se conduz à boleia de riffs tremendamente esplendorosos e
vomita solos verdadeiramente magnetizantes e deslumbrantes capazes de nos
aprisionar a uma caleidoscópica espiral de prazer. Sintam as anestésicas e
sedutoras bafagens de um baixo denso, robusto e torneado que se ensoberbece destacadamente,
e agitem-se de forma irremediavelmente comprometida com uma bateria que se
liberta em ofensivas tanto explosivas e dinâmicas quanto pacificas e muito contemplativas.
‘Holy
Smoke’ é um álbum verdadeiramente apaixonante ao qual dedico eterna
devoção. Atrevam-se a enfrentar o incisivo e paralisante olhar de Lee Van Cleef num poeirento duelo cujo
desfecho está fadado: o vosso corpo tombado na inércia e a pistola de Lee Van Cleef firmemente empunhada e
ainda a fumegar. Um dos mais singulares álbuns de 2016 está aqui, na alma
desértica de ‘Holy Smoke’.
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