É ainda a desanuviar da intensa
e nebulosa ressaca provocada pela detida exposição ao álbum de estreia do power-trio australiano Stone Witches que vos escrevo estas
palavras. ‘Vision Fissure’ vem saturado de um ensolarado Psych Rock de ares contemplativos e veraneios
aliado a um distorcido e erosivo Garage
Rock resgatado dos lisérgicos 60’s. A mágica e radiosa atmosfera deste álbum remete-nos para o verão californiano de pés mergulhados nas douradas e quentes
areias, cabelos serpenteados pela revitalizante brisa marítima, prancha de surf
debaixo do braço e olhar içado pelo oceano adentro. Uma fascinante, mélica e
embriagante hipnose que nos adorna e bronzeia com constância do primeiro ao
último tema. Dissolvam-se neste prazeroso caleidoscópio ao som de uma guitarra etérea
e narcotizante que se espreguiça em deslumbrantes e muito agradáveis riffs, um baixo meditativo de pausados,
densos e possantes murmúrios, uma estimulante bateria de passada tanto serena
quanto enfurecida e uma voz distante e ecoante que sobrevoa todo este sonho
acordado. ‘Vision Fissure’ é morfina via auditiva. Um poderoso sedativo
que nos abranda o batimento cardíaco, sela as pálpebras, tomba o rosto sobre o
peito e na nossa alma instaura uma perfeita e inamovível sensação de bem-estar.
Depois de comungado detidamente este álbum não é nada fácil dissipar toda a anestesia
que nos plenifica e domina, e vestir novamente a lucidez. Stone Witches tem o dom de nos paralisar, encantar e massajar a
circulação da consciência distendendo-a para os sagrados domínios da almejada ataraxia.
Deixem-se desmaiar e afundar nas profundezas oníricas de ‘Vision Fissure’ e vivenciar
um pleno estádio de transe. Este é um álbum incontornável a todos os
astronautas espirituais e um poderoso contributo ao já bíblico ano musical de
2016.
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