Na passada sexta-feira
desloquei-me até à cidade do Porto para assistir àquela que viria a ser uma das
noites musicais mais memoráveis da minha vida. A ementa californiana garantia
uma verdadeira detonação de Heavy Psych
capaz de nos desintegrar e isso acabou mesmo por se materializar. Promovido
pela Garboyl Lives e decorrido no já
carismático Cave 45 situado na baixa portuense, Joy e Harsh Toke incendiaram
toda uma plateia eufórica. Se no primeiro inverno de 2015 já havia
experienciado o fenómeno Harsh Toke
na cidade minhota de Viana do Castelo (review
aqui), Joy em palco seria uma
estreia para mim e, portanto, este empolgante power-trio natural de San
Diego, CA eram os naturais
detentores da maior fatia de expectativa para essa assombrosa e selvática noite.
Descendentes directos da
entusiástica sonoridade dos históricos ZZ
Top, o tridente ofensivo Joy foi
verdadeiramente arrasador. Detidamente entregues a uma erótica, furiosa e
hipnótica cavalgada superiormente movida e governada pelo seu alucinante Heavy Psych N’ Blues de ares setentistas, a formação californiana teve
mesmo uma das prestações mais conquistadores que me recordo de experienciar. De
instrumentos firmemente empunhados e em deslumbrante consonância, Joy arrancara para uma poderosa e
torneada comoção que compelira toda a numerosa plateia a dançá-la de forma prazerosa,
efusiva e libertadora. A exuberante guitarra serpenteava-se em riffs fascinantes, grandiosos e
extravagantes, e em incríveis, desvairados e atordoantes solos que nos esgrimiam
a lucidez, bronzeavam de adrenalina, e desgastavam a sanidade mental. O incansável
baixo de linhas pulsantes, dinâmicas e excitantes tonificava e sombreava de
forma sublime todas as alucinantes incursões da guitarra, a voz vivificante,
aguerrida e distorcida combatia a desmesurada causticidade expelida pelos
instrumentos e ascendia até à tona da psicotrópica nebulosidade de Joy, e ainda a frenética bateria que galopava
toda esta desenfreada e arrebatadora perturbação com surpreendentes acrobacias
temperadas a perícia e emoção, e que culminara num estapafúrdio e retumbante solo
regado de aplausos e entusiásticos clamores. A plateia balanceava-se como podia
perante toda este intenso frenesim e no final desta impressionante performance
vivia-se um perfeito clima de atordoamento que desaguara no concerto que se
seguira.
Seguiam-se uma das mais
influentes bandas do panorama Heavy
Psych californiano: Harsh Toke.
O radical quarteto também sediado na cidade costeira de San Diego brindara todos os fiéis peregrinos que acorreram a este
ritual com uma notável performance que se estendera à marca de duas horas de
duração. Logo aos primeiros acordes, o público respondera numa desgovernada e
desinibida agitação que nunca conhecera qualquer abrandamento. Harsh Toke inflamaram toda a arena do Cave 45 com as suas demoradas, impressionantes
e delirantes jam’s capazes de fazer
transcender o comum mortal. Ninguém estava indiferente a toda esta narcotizante,
estrondosa e reverberante avalanche desprendida pela formação californiana, e fora
do palco respirava-se uma atmosfera generalizada de encantamento e excitação. As
duas guitarras insanas entrançavam-se em solos vertiginosos, estapafúrdios e
dilacerantes que nos atestavam de uma descontrolada exaltação, e aliavam-se na
cimentação de riffs vigorosos,
obscuros e inquisidores que se agigantavam e nos intrigavam. O portentoso baixo
de linhas robustas, encorpadas e baloiçantes liderava com soberana distinção toda
esta titânica descarga de intoxicante reverberação, a bateria dilacerante, explosiva
e troante esporeava com intensidade e prepotência a poderosa cavalgada Harsh
Toke’ana, e uma voz espectral,
translúcida e ecoante dissolvia-se nesta densa e brumosa radiação. A minha alma
pendulava entre a doce lisergia, o sagrado êxtase e a colérica adrenalina. No
final do concerto, perdurava um intenso odor a suor, dores musculares, audição
e lucidez turvas e a inabalável certeza de que havia vivenciado uma das noites musicais
mais inolvidáveis da minha vida.
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