O já carismático espaço
portuense Cave 45 – tristemente com
morte anunciada e agendada para o final do presente ano – recebia o lendário Brant Bjork na extravagante companhia
do Desert Freak Sean Wheeler para mais uma data da sua extensa tour europeia “Gree Heen”
e adivinhava-se uma agradável, intensa e memorável noite de clima californiano
carimbada pela imparável promotora de eventos Garboyl Lives. Depois de ter estado presente no mítico concerto de
2008 no Porto-Rio (Porto) – o qual
se mantem perfilado por entre os mais impactantes da minha experiência enquanto
peregrino musical – não podia perder por nada o regresso a Portugal de um dos mais
icónicos músicos da minha vida.
A sala começava a
preencher-se e a banda local Ana Paris
subia ao palco com a invejável responsabilidade de inaugurar toda uma cerimónia
a que ninguém se recusou comungar. De motor barulhento e agressivo, acelerador
a fundo e um forte aroma a pneu queimado, a banda portuguesa arrancou para uma
performance de sentido único que motivara e nutrira as primeiras vibrações
corporais de uma plateia cada vez mais numerosa. Fundamentados num fervilhante,
vigoroso e empolgante Stoner Rock de
atitude Punk, os Ana Paris brindaram todos os presentes
com 45 minutos transpirados de emoção e adrenalina. No final mostraram-se
imensamente agradecidos e orgulhosos pela confiança em neles depositada e a
plateia respondeu com um forte aplauso, num sinal claro de que Ana Paris havia sido uma aposta ganha.
Brant
Bjork estava aí – juntamente com a sua nova matilha – e na
plateia que lotava toda a sala do Cave
45 suspirava-se em uníssono de ansiedade e entusiasmo. Nem foi preciso esta
prestigiosa figura da Desert Scene
acabar de subir ao palco para que a audiência exteriorizasse toda o seu
empolgamento num rugido quase ensurdecedor. E assim que BB – em hipnótica e arrebatadora consonância com a formação que
presentemente o acompanha – teceu e desenvolveu os primeiros acordes, todos nós
fomos arremessados para os quentes, frondosos e ensolarados desertos que a
sonoridade de BB desenha em nós.
Bronzeados, apreendidos e contagiados pelo seu característico Low Desert Punk de natureza erótica – que
tão bem combina a lubricidade com a robustez e ritmicidade – todos os nossos
corpos empoeirados e embriagados dançavam de olhar cerrado e narinas dilatadas.
Numa excitante e fascinante digressão sonora – maioritariamente pautada pelos
seus últimos álbuns e uma breve, mas muito aplaudida, vivida e elogiada
passagem por temas incontornáveis do emblemático ‘Jalamanta’ – este
eremita sediado no deserto de Mojave
perfumou a nossa alma arrebatada com a sua ambiência psicotrópica ao longo de
aproximadamente 90 minutos de actuação. A plateia debatia-se como podia na
instintiva resposta à libidinosa sonoridade de BB e os corpos luziam em suor. Vivia-se um ambiente de incessante
deslumbramento. As duas guitarras reinantes abraçavam-se e numa magnetizante
unificação floresciam e conduziam riffs
serpenteantes, sólidos, robustos e dançantes que desaguavam em solos delirantes,
místicos e uivantes, o baixo deliciosamente groovy
carregava-se em linhas pulsantes, acentuadas, fibróticas e bailantes, a bateria
provocante – detidamente entregue a investidas fogosas, fortes e emocionantes –
compassava com autoridade, e a quente e afável voz de BB liderava toda esta absorvente eucaristia desértica que prontamente
nos convertera em seus devotos seguidores. De salientar ainda a entrada em
palco do singular Sean Wheeler que
com as suas danças exóticas e caricatas emprestara uma atmosfera burlesca a
toda aquela performance de BB
coroada com um ruidoso, frenético e demorado aplauso.
* Um agradecimento especial ao Bruno Pereira (Wav.) pela cedência do registo fotográfico.
* Um agradecimento especial ao Bruno Pereira (Wav.) pela cedência do registo fotográfico.
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