sexta-feira, 6 de outubro de 2017

⚡ Kaleidobolt & Radio Moscow @ Hard Club, Porto ⚡

No passado fim de semana viajei até à cidade do Porto com o claro objectivo de materializar um dos mais sérios sonhos musicais: experienciar ao vivo Radio Moscow. Inserido na presente tour europeia batizada de “The Drifting Tour” com vista à promoção do seu novo álbum ‘New Beginnings’ (review aqui) via Century Media Records e com o carimbo da influente promotora Garboyl Lives, este concerto tinha tudo para se revelar um dos mais memoráveis da minha vida e assim acabou por acontecer.

A responsabilidade de fazer trabalhar o termómetro que climatizava o Hard Club pertenceu ao tridente finlandês Kaleidobolt – um dos meus favoritos a nível europeu, diga-se – e o mesmo não só não desiludiu como impressionou o público que se ia compactando em frente ao palco. O seu enérgico, entusiástico e vigoroso Heavy Rock de rotação setentista não demorou a conquistar, estremecer e delirar a cada vez mais numerosa plateia que de cerveja empunhada acorria à sala motivada pela excitante sonoridade da formação escandinava. Numa curta mas equilibrada e fascinante digressão por entre os seus dois álbuns já editados pelo selo germânico Pink Tank Records (review ao primeiro aqui e ao seu mais recente aqui), Kaleidobolt arrancou para uma performance verdadeiramente euforizante, poderosa, dinâmica e envolvente à boleia de uma guitarra altiva e endiabrada que se agigantava e revigorava em riffs orgânicos, musculados e tirânicos, e se transcendia em excêntricos, desvairados e dilacerantes solos, um baixo fibrótico e desenvolto de linhas reverberantes, obscuras, torneadas e dançantes, uma bateria intensa e provocante de hipnótica, arrojada e frenética execução rítmica, e ainda de uma voz cava, intrigante, gélida e diabrina que nos trespassava e tumultuava. Kaleidobolt contagiou-nos e arrasou-nos com a sua monolítica e desgovernada avalanche de adrenalina e no final ainda estávamos todos atordoados e a recuperar o equilíbrio emocional que nos fora retirado pela banda finlandesa. Um concerto verdadeiramente portentoso que seguramente não deixara ninguém indiferente.

O vibrante power-trio californiano subia ao palco e na plateia ruidosa sentia-se uma crescente e indomável ansiedade tomar de assalto e dominar cada um dos corpos que compunham o lotado Hard Club. Estes serventes dos dourados e carismáticos 70’s brindaram todos os presentes com uma ardente, extraordinária e absorvente exibição que nos enfeitiçara, mergulhara e aprisionara num estádio de plena e libertadora euforia. Fundamentada numa possante, arrebatadora e elegante cavalgada nutrida pelo seu perfumado, fervoroso e requintado Heavy Psych N’ Blues de sublime e arrebatadora condução, a inflamante, sedutora e empolgante sonoridade de Radio Moscow instaurou em cada um de nós o sagrado êxtase. Vivia-se um ataráxico clima de perfeita e ininterrupta simbiose entre a banda e o público. A plateia debatia-se como podia perante toda aquela emocionante, poderosa e impactante detonação superiormente controlada por uma guitarra suprema que se envaidecia em primorosos, adoráveis e libidinosos riffs e se enlevava em extravagantes, irretocáveis, exímios e alucinantes solos capazes de nos arrepiar, sacudir e desvairar, um baixo magnetizante de bafo pulsante, vigoroso e bailante que nos obrigou a sussurrá-lo durante toda a actuação, uma bateria estupenda – locomovida a tecnicidade, sentimento e velocidade – de admirável e estimulante orientação rítmica que nos esporeava e estimulava os batimentos cardíacos, e ainda uma voz felina de rugidos ásperos, temperados e melódicos que nos incendiava a alma de exaltação. No final estávamos todos diluídos num profundo encantamento que nos inebriara ao longo de toda a performance. Radio Moscow ao vivo revelou tratar-se de uma experiência imensamente marcante que me elevara ao apogeu do transe. Um dos mais singulares concertos que testemunhara em toda a minha vida e a ressaca do mesmo ameaça em mim resistir à força do tempo e do esquecimento.


*Um agradecimento especial ao Bruno Pereira (Wav.) pela cedência do registo fotográfico.

Sem comentários: