No passado fim de semana
viajei até à cidade do Porto com o
claro objectivo de materializar um dos mais sérios sonhos musicais: experienciar
ao vivo Radio Moscow. Inserido na
presente tour europeia batizada de “The
Drifting Tour” com vista à promoção do seu novo álbum ‘New Beginnings’ (review aqui) via Century Media Records e com o carimbo da
influente promotora Garboyl Lives,
este concerto tinha tudo para se revelar um dos mais memoráveis da minha vida e
assim acabou por acontecer.
A responsabilidade de fazer
trabalhar o termómetro que climatizava o Hard
Club pertenceu ao tridente finlandês Kaleidobolt
– um dos meus favoritos a nível europeu, diga-se – e o mesmo não só não
desiludiu como impressionou o público que se ia compactando em frente ao palco.
O seu enérgico, entusiástico e vigoroso Heavy
Rock de rotação setentista não
demorou a conquistar, estremecer e delirar a cada vez mais numerosa plateia que
de cerveja empunhada acorria à sala motivada pela excitante sonoridade da
formação escandinava. Numa curta mas equilibrada e fascinante digressão por
entre os seus dois álbuns já editados pelo selo germânico Pink Tank Records (review
ao primeiro aqui e ao seu mais recente aqui), Kaleidobolt arrancou para uma
performance verdadeiramente euforizante, poderosa, dinâmica e envolvente à
boleia de uma guitarra altiva e endiabrada que se agigantava e revigorava em riffs orgânicos, musculados e tirânicos,
e se transcendia em excêntricos, desvairados e dilacerantes solos, um baixo fibrótico
e desenvolto de linhas reverberantes, obscuras, torneadas e dançantes, uma
bateria intensa e provocante de hipnótica, arrojada e frenética execução
rítmica, e ainda de uma voz cava, intrigante, gélida e diabrina que nos
trespassava e tumultuava. Kaleidobolt
contagiou-nos e arrasou-nos com a sua monolítica e desgovernada avalanche de
adrenalina e no final ainda estávamos todos atordoados e a recuperar o equilíbrio
emocional que nos fora retirado pela banda finlandesa. Um concerto verdadeiramente portentoso
que seguramente não deixara ninguém indiferente.
O vibrante power-trio californiano subia ao palco e
na plateia ruidosa sentia-se uma crescente e indomável ansiedade tomar de
assalto e dominar cada um dos corpos que compunham o lotado Hard Club. Estes serventes dos dourados
e carismáticos 70’s brindaram todos os presentes com uma ardente, extraordinária
e absorvente exibição que nos enfeitiçara, mergulhara e aprisionara num estádio
de plena e libertadora euforia. Fundamentada numa possante, arrebatadora e
elegante cavalgada nutrida pelo seu perfumado, fervoroso e requintado Heavy Psych N’ Blues de sublime e
arrebatadora condução, a inflamante, sedutora e empolgante sonoridade de Radio Moscow instaurou em cada um de
nós o sagrado êxtase. Vivia-se um ataráxico clima de perfeita e ininterrupta simbiose
entre a banda e o público. A plateia debatia-se como podia perante toda aquela emocionante,
poderosa e impactante detonação superiormente controlada por uma guitarra suprema
que se envaidecia em primorosos, adoráveis e libidinosos riffs e se enlevava em extravagantes, irretocáveis, exímios e
alucinantes solos capazes de nos arrepiar, sacudir e desvairar, um baixo magnetizante
de bafo pulsante, vigoroso e bailante que nos obrigou a sussurrá-lo durante
toda a actuação, uma bateria estupenda – locomovida a tecnicidade, sentimento e
velocidade – de admirável e estimulante orientação rítmica que nos esporeava e estimulava
os batimentos cardíacos, e ainda uma voz felina de rugidos ásperos, temperados
e melódicos que nos incendiava a alma de exaltação. No final estávamos todos
diluídos num profundo encantamento que nos inebriara ao longo de toda a
performance. Radio Moscow ao vivo
revelou tratar-se de uma experiência imensamente marcante que me elevara ao
apogeu do transe. Um dos mais
singulares concertos que testemunhara em toda a minha vida e a ressaca do mesmo
ameaça em mim resistir à força do tempo e do esquecimento.
*Um agradecimento especial
ao Bruno Pereira (Wav.) pela cedência do registo fotográfico.
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