Se no final de 2015 havia manifestado
toda a minha enorme adoração pelo álbum ‘Oxygen Sessions’ (review
aqui) da autoria dos russos Vice
Versa, hoje – motivado pela criação do seu novo trabalho – sinto-me forçado
não só a reforçar o elogio a esta formação do leste europeu como a exagerá-lo. Este fantástico power-trio enraizado na grande e
populosa cidade de Moscovo acaba de
lançar ‘Vice Versa’, um portentoso registo de longa duração onde se
enfatiza, desenvolve e enleva um empolgante, prazeroso, nebuloso e desarmante Heavy Psych de tração setentista. A sua sonoridade bastante heterogénea
passeia-se por entre envolventes, morfínicas, plácidas e contemplativas jams que nos circundam, amortalham e diluem
a lucidez, e ardentes, intensos, inflamantes e galopantes momentos de redentora
ferocidade que violentamente nos sacodem e euforizam. Neste seu novo álbum há
ainda espaço para a inclusão de duas serenas, brumosas e inebriantes baladas que
nos mergulham e eterizam num profundo e ataráxico oceano de inércia, e um outro
tema inteiramente tecido e conduzido por uma enigmática, exótica e intrigante
veia experimental. Dispam-se de qualquer timidez e agitem-se ao contagiante som
de uma guitarra extravagante que se revigora em riffs majestosos, fibróticos, sombrios e hipnóticos, e se dilata e
reduz em alucinógenos, estonteantes, delirantes e ciclónicos solos. Um baixo diligente,
dinâmico e reverberante de magnetizante orientação rítmica que se carrega e acentua
em linhas oscilantes, vigorosas e dançantes, uma bateria aparatosa locomovida a
tecnicidade, leveza e sensibilidade que coroa toda a sua admirável performance
com um exuberante, impactante e acrobático solo, e ainda uma voz lisérgica,
gélida e enevoada que penetra toda esta densa e fumarenta narcose vaporizada e
climatizada pelo instrumental para se destacar e ecoar na sublime atmosfera de ‘Vice
Versa’. Chego ao final deste álbum completamente arrebatado, temulento
e conquistado. É um verdadeiro sacrilégio que esta formação russa continue recolhida
no lado eclipsado da notoriedade. Deixem-se absorver nos 66 minutos que
conferem corpo temporal a ‘Vice Versa’ e vivenciem na máxima plenitude
um dos mais marcantes e entusiásticos álbuns de 2017.
Sem comentários:
Enviar um comentário