No passado sábado (2 de
Dezembro) desloquei-me a Lisboa com a finalidade de assistir ao vivo pela
primeira e última vez a uma das mais singulares bandas da minha vida: The Flying Eyes. Muito recentemente a
fascinante formação natural de Baltimore
(Maryland, EUA) havia surpreendido os seus
seguidores com o triste anúncio de que esta seria a sua última tour – adivinhando-se uma consequente separação
entre os seus elementos e, portanto, o fim da banda – e essa lamentável
condição fazia deste concerto, um evento ainda mais especial para todos aqueles
que o iriam vivenciar. Inteiramente motivado e atestado de grandes expectativas,
abotoei o casaco, recostei e amortalhei o pescoço na gola do mesmo, mergulhei
as mãos nos bolsos e caminhei de cabisbaixo pelas velhas artérias da baixa
lisboeta em direcção ao Sabotage Club.
Estava uma fria e inóspita noite de Outono – nada tentadora a sair do conforto
caseiro – mas nem isso inibiu a resposta de todo o público que acorrera e
enchera a sala do espectáculo. No interior do Sabotage Club vivia-se um convidativo clima de festa e
confraternização, mas era o palco de instrumentos estacionados que atraía todas
as atenções. E foi já com casa cheia que os The Flying Eyes subiram ao palco debaixo de um animado e ruidoso
aplauso, com gritos de alento à mistura e saudados com copos de cerveja
empunhada na sua direcção. Na plateia sentia-se que estávamos prestes a
testemunhar uma exibição de calibre irrepreensível e nenhum de nós se enganou
no prognóstico. The Flying Eyes
arrancara para um concerto de encantamento e beleza inesgotáveis que pendera entre
momentos de estarrecedora e inebriante melosidade e intensa e euforizante explosividade.
Numa inesquecível passeata muito bem programada que nos conduzira pela sua discografia,
este quarteto norte-americano brindou-nos com o que de melhor pode destilar da
junção entre o quente e delirante Psych
Rock, o elegante e apaixonante Blues
e o sempre aclamado Country, numa
sonoridade bastante própria que não deixara ninguém indiferente. O público
respondia com uma clara manifestação de êxtase que o climatizara do primeiro ao
último tema e nada parecia conseguir interromper essa admirável simbiose que
nos acorrentava à banda e à sensual musicalidade que dela transpirava. Foi de
olhar selado, sorriso esculpido no rosto e corpos bailantes que nos deixámos absorver,
comover e contagiar por duas guitarras de riffs
majestosos, sublimes e rendilhados, e alucinantes, ácidos e uivantes solos
capazes de nos golpear e dilacerar a lucidez, um baixo groovy de linhas dançantes, hipnóticas e pulsantes que nos obrigava
a sussurrá-lo, uma bateria empolgante – locomovida a leveza, esperteza e emoção
– que nos esporeava e inundava de excitação, e uma voz açucarada, harmoniosa e aveludada
que nos abraçava e namorava com expressividade. No final do concerto – e já
depois de um desejado e concedido encore
– a banda expressava toda a sua gratidão em constantes vénias, plagiadas por um
público ainda entregue a um estádio de pleno deslumbramento. The Flying Eyes ao vivo foi algo especialmente
marcante que levarei comigo pela vida fora. Uma noite épica – resistente à
força do tempo – que só fez com que a veneração dedicada à banda dilatasse. Até
sempre, The Flying Eyes. Obrigado.
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